ENTREVISTA COM A PROFESSORA RITA BALTAZAR DE LIMA

Rita Baltazar de Lima, Paraibana, Riotintense, Bióloga da 1ª Turma do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da UFPB, Mestre em Botânica pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife – PE, Doutora em Botânica pela Universidade de São Paulo, São Paulo – SP. Professora Titular do Departamento de Sistemática e Ecologia/Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba. Professora decana do Curso de Engenharia Florestal/CSTR, do qual foi Coordenadora, no então Campus VII da UFPB, atual Campus II da UFCG, Patos – PB. Professora decana do Curso de Bacharelado em Ecologia/CCAE Campus IV, Rio Tinto – PB. Ex-Chefe do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente/CCAE, Campus IV, Rio Tinto – PB e atualmente Chefe do Departamento de Sistemática e Ecologia/CCEN, Campus I. Atua na área de Florística e de Taxonomia de Angiospermas, com ênfase na família Rhamnaceae, da qual é a especialista no Brasil.

 

1 – Como a Sra. analisa a trajetória da Universidade Federal Paraíba nesses 60 anos?

 

A Universidade Federal da Paraíba, ao longo dos seus 60 Anos de existência, construiu uma trajetória marcada por grandes desafios e muito sucesso. O modelo multicampi muito contribuiu para a consolidação de uma de suas metas, a de contribuir para o desenvolvimento do estado e do Brasil. Durante todos esses anos, a UFPB acompanhou os avanços na ciência e tecnologia e participou das mudanças sociais do país, o que hoje se reflete na quantidade de novos cursos e novas linhas de pesquisa que oferecem perspectiva de um futuro cada vez mais promissor para os jovens de hoje e de amanhã. Muitos profissionais famosos, que se destacaram no cenário nacional, foram formados pela UFPB. Ultrapassando fronteiras, a UFPB também tem mantido convênios com Instituições estrangeiras e contribuído na formação de muitos estudantes oriundos de outros continentes, sobretudo da África e da América Central. Assim como, muitos de seus docentes, naturalizados brasileiros, trouxeram experiências que de alguma forma contribuíram para visibilidade da UFPB além fronteiras. Sem a contribuição de cada um, no passado e, dos que hoje fazem a UFPB, ela não seria referência em ensino e pesquisa para o Nordeste e o Brasil. Com o ENEM tem promovido a circulação de estudantes entre os estados e na aumentado o número de estudantes não paraibanos.     

 

2 - Que futuro a Sra. vislumbra para a UFPB nos próximos 60 anos?

 

No ritmo de crescimento científico e tecnológico em que a UFPB se posicionou ao longo dos anos e em que se encontra hoje, nos leva a certeza de que nos próximos 60 anos esta Instituição estará entre as melhores Universidades do país, em termos de produção científica. Posição que conquistará pelo mérito decorrente do comprometimento de profissionais, que dedicam o melhor de si para ampliar os campos de ação desta Instituição, tanto no ensino, na pesquisa e na extensão, como também na administração, pois todo sucesso depende de uma gestão responsável e comprometida.  

A educação no Brasil, em maior ou menor grau e periodicidade, sempre enfrentou dificuldades. As dificuldades enfrentadas hoje não são maiores do que as já vividas. A história nos remete a uma época conturbada, em que enquanto tínhamos governo de notório saber, as universidades federais eram sucateadas e a desvalorização da educação chegava a níveis jamais esperados. Paradoxalmente, foi em um governo de saber obscuro, que as universidades federais retomaram o caminho do crescimento. Hoje, apesar de presenciarmos com tristeza a fase complicada em que o país se encontra, ocasionada pela corrupção devastadora em todos os níveis, é inegável a acessibilidade do jovem à universidade, o que era no passado era privilégio de poucos. Dificuldades existem, sempre existiram e sempre existirão enquanto houver desvios de caráter e discriminação racial, social, regional e política no país. Somos uma democracia ainda não consolidada, por sermos um país com apenas 515 anos de história. Enquanto povo, ainda não aprendemos a respeitar as diferenças, nem hierarquias, embora saibamos que sem ordem não haverá progresso. Muitos trabalham pensando apenas em si, não no bem-estar coletivo presente e futuro. Essa linha de pensamento tem levado ao esgotamento de muitos dos nossos recursos naturais e conseqüentemente à catástrofes ambientais. Um povo que não cuida de sua riqueza natural e do destino das futuras gerações, muito compromete a sua soberania. Mesmo assim, com tanta divergência de pensamentos e ações, A UFPB, assim como as demais Universidades Públicas, segue com o compromisso de produzir conhecimentos, que serão repassados na sala aula, com vistas a devolver à sociedade o seu maior bem - jovens competitivos e capazes de fazer a diferença no mercado de trabalho, garantindo a si e ao país um futuro mais promissor.

 

3 – Como é para a Sra., fazer parte da história de uma Instituição tão importante para a Paraíba e para o Brasil, como a UFPB?

 

Muito me honra fazer parte da história da UFPB. Agradeço à vida a oportunidade que me concedeu de contribuir com três de seus Campi. Ao ingressar nessa Instituição tive oportunidade de contribuir para a consolidação do Curso de Engenharia Florestal, no então Campus VII da UFPB, em Patos – PB, atualmente Campus II da UFCG. Mais recentemente, de 2006 a 2009, tive a oportunidade de contribuir para a implantação do Campus IV, no Litoral Norte da Paraíba, implantando o Departamento de Engenharia e Meio Ambiente e os Cursos de Bacharelado em Ecologia e de Bacharelado em Design. Atualmente, sigo contribuindo com o Campus I, na Chefia do Departamento de Sistemática e Ecologia/CCEN. Minha maior satisfação, por todos esses anos de dedicação a UFPB, é reencontrar profissionais, que ajudei a formar, bem sucedidos no mercado de trabalho, exercendo com competência a profissão que escolheram.

4 – Quais os maiores desafios que a UFPB tem pela frente?

 

Penso que um dos maiores desafios da UFPB será seguir avançando e se destacando no cenário educacional brasileiro, mesmo enfrentando as limitações dos aportes financeiros, sempre aquém as suas demandas. Constante desafio será a  busca de meios para melhorar as condições de trabalho, na sala de aula, laboratórios e demais ambientes de permanência de docentes, discentes e servidores administrativos. Todos, necessitamos de ambientação adequada, de equipamentos de trabalho compatíveis com as atuais atribuições e de segurança, fatores indispensáveis para manter o padrão de qualidade dos serviços, que a UFPB vem prestando a sociedade. Outro desafio, não menos importante, que a UFPB terá que vencer é o de minimizar o desconhecimento da sociedade, quanto as suas ações. A Universidade precisa levar o seu trabalho além do público acadêmico, precisa manter com a sociedade uma relação de maior confiança, para que possa vista como parceira na solução de problemas sócio-ambientais e não como uma Instituição com histórico de prolongadas graves.

 

5 – A senhora atua no Centro de Ciências Exatas e da Natureza. Que mudanças a senhora aponta como mais consideráveis que os cursos dessa área sofreram nesses 60 anos aqui na UFPB?

 

Sinto-me confortável em falar apenas do Curso de Ciências Biológicas. Fui da 1ª Turma de Biólogos da Paraíba, formados pela UFPB em 1980. Desde então, muitas mudanças ocorreram e a qualidade dos cursos de Ciências Biológicas cresceu em grandes proporções. Os cursos, particularmente, melhoraram quanto ao ensino, que hoje associa a teoria à prática e quanto a pesquisa, hoje descobrindo novos talentos e formando jovens pesquisadores, através de Programas Institucionais como o de Iniciação Científica, que oportuniza desenvolver o potencial do jovem cientista. Atualmente, a UFPB oferece, só no Campus I, três cursos de Ciências Biológicas, uma Pós-Graduação e duas Graduações: o Bacharelado e a Licenciatura. Ao nével de Graduação, os curso são oferecidos em duas modalidades, presencial e a distância. A nossa Licenciatura em Ciências Biológicas a Distância já ultrapassou as fronteiras do estado da Paraíba e atualmente conta com dois Polos no Estado da Bahia. Apesar de todas as dificuldades dos dias atuais, os estudantes têm muitas oportunidades, comparadas as que tiveram as primeiras turmas. Para ser um excelente profissional, nessa área do conhecimento, o estudante apenas precisa aproveitar todas as oportunidades a seu dispor.

 

6 – Ao olharmos para o futuro, na sua opinião, o modelo de Universidade Pública vai mudar?

 

É preciso que mude. Tudo é dinâmico e sujeito a mudanças. Mas, espero e desejo, que mude para melhor. A velocidade com que circulam as informações, com o auxílio da tecnologia cibernética, a tendência é que todos os que fazem as Universidades Públicas sejam impulsionados a manter-se atualizados, gerando e ampliando conhecimentos, que se refletirão na qualidade do saber ministrado e dos produtos das pesquisas realizadas, com vistas a criar alternativas para melhorar a qualidade de vida da sociedade. A mudança do atual modelo será imprescindível para justificar para a sociedade a sua existência. A crítica de as universidades são fechadas em seus muros precisa ser substituída pela visão de que as universidades são  núcleos e fontes de desenvolvimento do país.

 

7- A senhora entende ser sustentável o recente processo de expansão das universidades brasileiras?

 

A sustentabilidade das universidades brasileiras é uma necessidade. Elas devem seguir cumprindo os objetivos para os quais foram e continuam sendo criadas. O principal deles é contribuir para promover uma sociedade mais justa, em que todos possam ter acesso a uma educação de alto nível. A expansão das universidades públicas só será um processo sustentável, se tiver como base uma nova política educacional com o devido planejamento e comprometimento, por parte dos governantes, em executá-lo. A ampliação de novas oportunidades, pela criação de novos Cursos de Graduação e de Pós-Graduação precisa ser acompanhada do comprometimento em garantir todas as condições para o seu pleno funcionamento. De nada servirá criar cursos novos, se estes não atenderem as vocações locais e/ou regionais, nem houver garantia de custeio para a implantação e consolidação dos mesmos. Expandir por expandir seria mais prejudicial do que benéfico, em termos de custo e benefício. Expandir, sim, mas não meramente como um ato político. A expansão deve ser acima de tudo um compromisso de cidadania para com o país, tendo como meta banir a nebulosidade da ignorância, possibilitando uma visão de novos horizontes. A soberania de um povo depende da acessibilidade ao saber, que proporcione a saúde e o bem-estar social a que todos têm direito.