Este estudo trata das memórias e lembranças infantis de jovens transexuais paraibanxs a partir de seus discursos a respeito de suas infâncias com foco nas experimentações e identificações de gênero ocorridas neste período. A proposta constitui-se na tentativa de discutir alguns percursos do trabalho de campo, delineando considerações ilustradas pela vivência pessoal como mãe de uma criança trans e, em seguida, na busca, como pesquisadora, de compreensões teóricas (com base em Judith Butler e Natacha Kennedy) em torno das experimentações e identificações de gênero na infância. Como resultados parciais, é possível visualizar alguns pontos de análise a partir dos discursos dxs jovens interlocutorxs: 1. lembranças que remetem a uma forte sensação de desarmonização, desde tenra idade, entre corpo e identidade de gênero; 2. recordações baseadas nas constantes vivências de tensões formadas em torno das experimentações infantis de gênero discordantes do sexo biológico; 3. memórias que alternam entre momentos de desesperos e prazerosas descobertas identitárias. Pretende-se ainda, pensar desde as estratégias de pesquisa facilitadas pelo discurso de pesquisadora e mãe de criança trans, aos conflitos pessoais ocasionados pelas relações de proximidade. Aliado a isso, destaca-se a importância do conceito de gênero enquanto construção social para se compreender tais questões e quebrar silêncios acadêmicos e sociais que ainda se formam em torno das vivência de gênero discordante do sexo biológico durante a infância e o início da juventude, para além da luta evidente pela despatologização dessa vivência tipificada a partir da definição do controverso diagnóstico de “transtorno de identidade de gênero”.