Última alteração: 2014-09-17
Resumo
No contexto do processo de trabalho dos profissionais de saúde, tradicionalmente há uma ênfase desequilibrada para uma concepção biomédica de saúde, em que o objeto de trabalho é primordialmente a doença, e não o doente, o sujeito. Nessa perspectiva, mesmo quando este é considerado, a abordagem se dá de forma fragmentada, levando ao fortalecimento de uma prática mecanicista e unilateral, marcada muitas vezes pela realização de procedimentos e eliminação de sintomas. Assim, com esse olhar quase exclusivamente clinico ou técnico, prioriza-se o uso de saberes padronizados, em que a “cura” é o objetivo central, em detrimento da construção de uma relação médico-paciente que garante uma abordagem terapêutica com real ênfase no sujeito. (CAMPOS, 1997). É impossível conceber a prática médica sem a relação médico-paciente. O paciente nada mais é que a razão da existência da medicina. Debruçando-se sobre a importância dessa relação, pode-se inferir características essenciais para que ela seja estabelecida de maneira adequada e benéfica para ambas as partes. Dentre tais características estão os processos de escuta e desenvolvimento de empatia. Dessa maneira, torna-se mais fácil traçar planos terapêuticos, aumentar a adesão e um possível estabelecimento de vínculo, garantindo melhor assiduidade, acompanhamento e a capacidade de gerir a promoção da saúde do indivíduo. Na tentativa de expor o fundamento de tais idéias, trazemos uma experiência vivenciada em um atendimento clínico realizado com um usuário de um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPSad). Naquela ocasião, dois estudantes de medicina e o médico Leandro, presenciaram não uma consulta, mas um “encontro”, no qual o paciente procurou o serviço no intuito de solicitar a opinião deste profissional de saúde a respeito do uso de um medicamento para sanar a impotência sexual. O paciente ainda apresentava um quadro de hipertensão arterial sistêmica associado, e não tinha adesão às intervenções terapêuticas propostas. Nesse relato, analisa-se a construção dessa relação médico-paciente no momento do primeiro atendimento, o acolhimento, a construção de traços de confiança, identidade e responsabilidade no âmbito da atenção. Isso com o objetivo de explicitar elementos que facilitem a compreensão dessas interações como pontos-chave para uma reconstrução ética, técnica, generalista e humanizada do olhar sobre a atenção e o cuidado em saúde. (Ayres, 2004)
Referências:
O cuidado, os modos de ser (do) humano e as práticas de saúde- José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres, 2004.
A CLÍNICA DO SUJEITO: POR UMA CLÍNICA REFORMULADA E AMPLIADA. Gastão Wagner de Sousa Campos - 1996/1997