Última alteração: 2015-12-18
Resumo
A presente comunicação tem por objetivo discutir a construção de um modelo hígido de educação escolar na instrução primária na Parahyba do Norte, a partir do diálogo com o compêndio O Livro do Povo, adotado nas escolas da Província em 1865. Nesse percurso, utilizamos como fonte o referido compêndio escolar, entendendo-o como um referencial de memória para o trabalho de gestação da História. Rememorando algumas experiências do passado e dialogando com a memória a partir dos diversos cruzamentos com o tempo, o espaço e o movimento (DIEHL, 2002), percebemos que, na segunda metade do século XIX, momento de consolidação da nova nação, estava em curso a constituição da escola brasileira/paraibana, e os preceitos da ordem médica estiveram presentes no processo de escolarização. Logo, a medicina, se colocando como uma das responsáveis pela edificação do Estado nacional, utilizou-se de mecanismos de intervenção individualizante e generalizante, irradiando a norma no interior das diversas esferas que constituíram a sociedade. O trabalho foi problematizado a partir da categoria biopolítica, discutida por Foucault como um procedimento institucional de administração da coletividade. Assim, preceitos de natureza médica passaram a infundir normas que iam do simples ato de lavar as mãos, aos cuidados ortopédicos daqueles que frequentavam a escola, como consta no referido compêndio. Diagnosticando doenças contagiosas, orientando a materialidade do prédio da escola, indicando os cuidados com o corpo e as roupas, prescrevendo a ginástica, divulgando a importância da vacinação e purgando o que era considerado pernicioso, isto é, produzindo saberes e poderes, a ordem médica foi consolidando um modelo hígido para a educação escolar. A partir desses múltiplos fragmentos que fizeram parte das experiências individuais e coletivas dos educandos, a memória histórica vai sendo (re)composta, o passado vai sendo representado e o conhecimento histórico, que é perspectivista, (re)significado.