A crescente atuação política das mulheres se contrapõe a um dado histórico que registra a tímida participação feminina na vida pública brasileira. Essa timidez, intimamente relacionada à pequena presença de mulheres em narrativas históricas hegemônicas, deixa marcas profundas nos acervos brasileiros. A escassez de documentos acumulados por mulheres nas instituições arquivísticas deve ser observada diante de um contexto de silenciamento da atuação das mulheres na vida pública. A história pouco se detém às mulheres. Sobre elas pouco se conta, pouco se conhece. Atualmente, o debate sobre a participação de mulheres na vida política ganha cada vez mais centralidade. As pautas feministas se espraiaram e têm sido fundamentais para pensar o momento atual do país, numa onda que é observada por pesquisadores como a da popularização do feminismo e da constatação de que é impossível recuar no que diz respeito às conquistas de direitos pelas mulheres. Tendo observado que dos mais de 200 arquivos depositados na FGV CPDOC, apenas 11 são de titulares mulheres, a instituição resolveu em 2015, pela primeira vez em sua história, utilizar o marcador de gênero em sua Linha de Acervo. Com esse documento o Programa de Arquivos Pessoais (PAP) tornava público o interesse na captação de arquivos de titulares mulheres. Esse artigo tem o objetivo de refletir sobre a composição feminina do acervo da FGV CPDOC com foco em suas potencialidades analíticas. Tornar visíveis esses arquivos é garantir que as narrativas e práticas de mulheres possam aflorar, fornecendo importantes elementos para a reinterpretação do passado.

Palavras-chave: Arquivos Pessoais, Mulheres, Memória, História.