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Mulheres e Arquivos Pessoais nas Instituições de Memória Portuguesas
Zélia Maria Cruz Pereira

Última alteração: 2019-10-02

Resumo


Ao longo das últimas décadas tem-se assistido ao aumento do número de arquivos pessoais preservados nos mais diversos tipos de instituições de memória. Apesar de ser comum advogar-se o papel destes arquivos para a memória coletiva, e se afirmar que constituem uma fonte de informação importante, alternativa ao discurso oficial das instituições, permanecem escassas as reflexões sobre as consequências da avaliação e da seleção dos arquivos a preservar. Em resultado de uma análise do universo dos arquivos pessoais identificados nas várias instituições portuguesas (Pereira, 2018), verificou-se que a decisão da sua preservação depende, quase sempre, de escolhas individuais e de grupos, de ideologias e de quadros de pensamento. Na intervenção das instituições nota-se uma ausência de reflexão sobre o impacto das opções, implícitas ou explícitas, tomadas nas operações de organização e descrição da informação, com consequências para a representatividade abrangente e plural da sociedade. Constata-se também a existência de níveis de sobrevalorização de indivíduos e de subvalorização de outros, designadamente das mulheres. De facto, as mulheres encontram-se ainda sub-representadas nas instituições de memória portuguesas, quer em relação aos homens, quer na representação da sua intervenção em diversas áreas sociais, culturais ou profissionais. O menor número de arquivos de mulheres radica-se em complexos fatores sociais, por razões que se prendem com a pouca relevância dada pelas próprias mulheres, durante muito tempo, à preservação da sua memória individual. No entanto, não são menosprezáveis as opções de seleção de arquivos sob influência de critérios subjetivos, seja por decisões de base historiográfica, seja em função de determinados temas. A representação das mulheres através dos arquivos está igualmente relacionada com práticas inerentes ao próprio tratamento arquivístico, em particular com as operações de classificação e descrição que conduziram a que a mulher tenha sido, em muitos casos, “silenciada” face ao homem, ou secundarizada no universo de contextos familiares, dificultando a recuperação da sua memória.

Palavras-chave: Arquivos Pessoais; Arquivos de Mulheres; Memória Coletiva; Representação da Mulher


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