Portal de Conferências do Laboratório de Tecnologias Intelectuais - LTi, XVII Encontro Estadual de História

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UM GRANDE COMÍCIO PELAS DIRETAS JÁ EM CAMPINA GRANDE: O CONTRATEATRO E A RESISTÊNCIA DE ESQUERDA À DITADURA MILITAR
Jean Lucas Marinho Cavacanti

Última alteração: 2016-12-19

Resumo


No dia 25 de abril do ano de 1984, enquanto no Congresso Nacional votava-se a Emenda Dante de Oliveira, que restituía o sufrágio popular para a eleição presidencial já para o ano seguinte, o clima de expectativa nas multidões que se formaram em todo país para acompanhar, por meio de boletins informativos da imprensa, era intenso. A campanha pelas Diretas Já foi uma das maiores manifestações política na história da república brasileira e, se não conseguiu o objetivo de pôr fim ao regime militar de 1964 pelo voto direto, ajudou a intensificar o ritmo da abertura política no Brasil. A partir do ano de 1983, os atos públicos começaram a surgir reivindicando o retorno das eleições diretas para presidente. No contexto de um regime militar que cada vez mais entrava num isolamento, a participação popular nos comícios organizados pelas oposições crescia vertiginosamente. Neste artigo, verso sobre a campanha Diretas Já na cidade de Campina Grande-PB, a partir das matérias publicadas em periódicos na época (Diário da Borborema, Jornal da Paraíba, O Norte). Na cidade, assim como em várias outras do país, foram realizados comícios organizados pelos partidos de oposição e pelos comitês pró-Diretas, comitês estes cuja importância neste cenário encontra-se afirmada no estudo do historiador Alberto Tosi Rodrigues, o qual serviu como referencial para este trabalho. Sendo o comitê campinense denominado Comitê Teotônio Vilela, no dia 25 de março de 1984, cerca de 10.000 pessoas se reuniram em um comício em Campina Grande, no qual participaram alguns dos principais políticos pró-Diretas como Franco Montoro, Celso Furtado, Miguel Arraes e Ronaldo Cunha Lima. O comício realizado em Campina Grande está listado entre os maiores que aconteceram no país. O objetivo do presente trabalho é estudar o desenrolar da campanha campinense pelas eleições diretas, focalizando os dois maiores atos públicos: a saber, o comício do dia 25 de março e a vigília cívica que acompanhou a votação da Emenda Dante de Oliveira no dia 25 de Abril. Portanto, procurei investigar acerca da participação dos diversos atores políticos que atuaram na construção desta campanha, bem como o papel dos movimentos sociais neste contexto de luta contra a instituição das eleições via colégio-eleitoral criada pelo Estado para perpetuar o regime militar no poder num arremedo de democracia. A fundamentação teórico-metodológica da pesquisa se encontra baseada na História Política, sobretudo na vertente que procura analisar os conflitos ideológicos e os projetos políticos em disputas no início dos anos 1980 em Campina Grande. Trabalhos como os desenvolvidos pelos estudiosos Francisco Carlos Teixeira da Silva, Maria Paula Nascimento Araújo, Adriano Nervo Codato e o já citado Alberto Tosi Rodrigues oferecem uma base teórico-metodológica para a análise aqui engendrada, uma vez que estes se dedicaram a estudar o contexto da redemocratização a nível nacional. É nesse contexto que não poderia deixar de se inserir os eventos históricos locais aqui abordados. O conceito de teatro e contra teatro foi utilizado a partir da leitura do historiador inglês E. P. Thompson. Procuro demonstrar, dialogando com o trabalho de Thompson, até que ponto a campanha pelas Diretas-já funcionou com uma espécie de arena, na qual os indivíduos e os grupos envolvidos contestavam o governo e as suas instituições de manutenção do poder através de uma cultura de resistência.


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