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Boletim Ocupa a Praça - Trajetórias indígenas na formação do Brasil

publicado: 21/10/2020 08h20, última modificação: 22/10/2020 12h30

O projeto “Trajetórias Indígenas como caminho para educação das relações étnico-Raciais na Paraíba” tem como proposta central fornecer subsídios para formação de estudantes de graduação da licenciatura, estudantes do ensino básico e demais integrantes da comunidade universitária. A promulgação da Lei 11.65/2008 indicou uma grande possibilidade de avanço, mas passada mais de uma década, tornou-se um relativo problema, em especial para os indígenas do Nordeste. Em nossas pesquisas, percebemos déficits alarmantes: a prática da disciplina de relações étnico raciais para os cursos de licenciatura da UFPB são quase nulas, impossibilitando o conhecimento direcionado ao tema; os livros didáticos carecem de uma narrativa mais ampla e humanística sobre a formação e dinâmica desses povos; e, as imagens que compõem as narrativas e discursos sobre os indígenas continuam a ser aquelas engendradas no século XIX - a ideia de um indígena isolado da sociedade, protetor da natureza e para o qual se requerem medidas protetivas/tutelares.

 Dadas as problemáticas encontradas, buscamos produzir instrumentos educacionais para a reflexão do ser indígena e não indígena por meio dos quais seja possível desconstruir imagens romantizadas e distorcidas da realidade sócio-cultural desses grupos. Através da produção de biografias pretéritas de pessoas indígenas, pretende-se criar um conjunto de elementos que possibilitem a compreensão dessas populações a partir de  suas participações  político sociais e não por ideias montadas sob a égide de um idealismo cristalizado e colonial a respeito desses povos. Nos dois primeiros anos do projeto, realizamos o levantamento de dados e arquivos, de trajetórias e biografias indígenas da Paraíba. Buscamos também a revisão das relações entre indígenas e não indígenas, construindo informações de natureza histórico cultural que permitam apresentar não só a participação dos indígenas na história da Paraíba, mas a presença das populações indígenas na formação do Brasil atual.

Os acervos documentais consultados estão localizados em instituições de memória da Paraíba, como o IHGPB (Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba), o acervo Histórico da Paraíba, a Fundação Casa José Américo, como também, em acervos digitais, dentre eles, o projeto Resgate, os relatos de presidentes da Província e bibliotecas especializadas. Em Março de 2019, realizamos o evento Paraíba Indígena, contando com a presença dos indígenas Tabajara e Potiguara, professores e professoras de Antropologia da UFPB, alunos e alunas de extensão indígenas e não indígenas. O evento contou com a exposição dos Primeiros Brasileiros organizado pelo professor João Pacheco de Oliveira e Rita de Cássia Melo Santos; a mostra de documentários produzidos por indígenas; feira de produtos produzidos pelos próprios indígenas; rodas de diálogos e por fim, o ritual de Toré. Além dessas atividades, foram ministradas duas oficinas pela professora Rita de Cássia com os indígenas Potiguara sobre a produção de biografias e narrativas, com o objetivo de envolvê-los na produção escrita de suas próprias histórias. Além dessa oficina, a mesma docente coordenou outra, sobre objetos e memórias.

Ao longo do projeto produzimos dez narrativas biográficas - Iratembé, Clara Camarão, Muyrã-Ubi, Francisco Rodelas (Índio Rodelas), Pedro Poty, Felipe Camarão, Guiragibe, Antônio Paraupaba, Tibiriçá e Zorobabé. Adotamos a metodologia documental bibliográfica, identificando documentos históricos, dados quantitativos, narrativas e imagens. Intencionamos, a partir das narrativas, construir imagens e informações que permitam compreender diversos momentos históricos e as alianças e conflitos estabelecidos entre diversos grupos. E também oferecer uma leitura crítica dos materiais escritos e imagéticos que auxiliaram na reprodução de imagens deturpadas sobre os povos indígenas e que foram atualizadas ao longo do tempo, imagens que foram elaboradas e utilizadas para justificar a colonização e seus diversos instrumentos.

A partir dos dados históricos e das demandas contemporâneas, elaboramos a ilustração de sete personagens: Muyrã-Ubi, Iratembé, Clara Camarão, Pedro Poty, Antônio Paraupaba, Felipe Camarão e Zorobabé. Essas ilustrações compõem um conjunto de jogos didáticos elaborados com a finalidade de levar a temática de modo mais apropriado para as escolas da educação básica.

As leituras bibliográficas, as oficinas e construções biográficas e imagéticas sobre esses e essas personagens indígenas serviram de base para a confecção final de um e-book digital que possibilita um ensino mais divertido e lúdico através de jogos didáticos. O texto é dividido em três capítulos que abordam a conquista da Paraíba, a expansão rumo ao Norte do Brasil e as disputas entre holandeses e portugueses com a posterior vitória do domínio português. Em todos os capítulos, buscamos descrever a formação da Paraíba desde uma perspectiva indígena, apontando as contribuições e os apoios decisivos realizados por essa população. O texto foi escrito com uma linguagem acessível e será disponível online para que toda a comunidade tenha acesso. São cerca de dez jogos destinados à diferentes faixas etárias - jogo de colorir, jogo dos 7 erros, jogo de tabuleiro, jogo de labirinto, quebra-cabeça, caça-palavras, entre outros. O material estará disponível a partir do final de 2020 em plataforma de sites colaboradores de conteúdo acadêmico, a exemplo do projeto Os brasis e suas memórias, já em atuação e que visa destacar a participação indígena (http://osbrasisesuasmemorias.com.br/), do Laboratório de Pesquisas em etnicidade, cultura e desenvolvimento (http://laced.etc.br/), do Departamento de Ciências Sociais da UFPB (http://www.cchla.ufpb.br/dcs/) e do Programa de Pós-graduação em Antropologia da UFPB (http://www.cchla.ufpb.br/ppga/).

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