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ETILISMO e COVID-19

por Coordenação publicado 26/06/2020 15h53, última modificação 27/09/2023 09h08
Texto elaborado pelos acadêmicos do Projeto Escolhas Responsáveis, revisado pelo Professor Dr. Gabriel Rodrigues Martins de Freitas e Professora Dra. SILVANA TERESA LACERDA JALE

 

O isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus gerou um grande impacto nos hábitos de vida da sociedade, provocando, entre várias práticas, o aumento do consumo de álcool, podendo potencializar o desenvolvimento de consequências como distúrbios mentais e comportamentais, incluindo dependência ao álcool, doenças não transmissíveis graves - como cirrose hepática -, alguns tipos de câncer e doenças cardiovasculares, além de possíveis recaídas de pacientes em tratamento (Da, BEN L., et. al., 2020; BRASIL, 2019).

Embora esteja entre um dos hábitos mais prevalentes no mundo, o uso do álcool também está entre os mais estigmatizados. O álcool tem inúmeros efeitos, tanto a curto quanto a longo prazo, em quase todos os órgãos do corpo. No geral, as evidências sugerem que não há “limite seguro” de fato, porém o risco de danos à saúde aumenta com cada dose de destilado, lata ou taça de bebida consumida (WHO, 2020; BRASIL, 2020).

O consumo crônico de álcool provoca respostas imunes pró-inflamatórias - as quais desempenham um papel importante na patogênese da doença pulmonar - como também, prejudica a produção de citocinas anti-inflamatórias no organismo, que poderiam minimizar os efeitos nocivos. Esse caos inflamatório facilita o aparecimento de insuficiência respiratória e falência de múltiplos órgãos (TESTINO et. al., 2020).

Portanto, consumir bebidas alcoólicas prejudica o sistema imunológico, atingindo tanto a imunidade natural quanto a inata (fagocitose, células assassinas naturais - NK) e na imunidade específica ou adquirida, reduzindo assim a capacidade do organismo de lidar com doenças infecciosas, como a síndrome do desconforto respiratório agudo - SDRA, uma das complicações mais graves da COVID-19. Outros mecanismos induzidos pelo álcool são (TESTINO et al., 2020):

  • Redução do tônus ​​da faringe;

  • Aumento do risco de aspiração de microrganismos; 

  • Piora da função dos macrófagos alveolares;

  • Desnutrição.

Os receptores da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2), os quais o SARS-CoV-2 se liga, estão presentes em regiões pulmonares, intestinais, renais e hepáticas. Pacientes com transtorno por uso de álcool e aqueles que possuem doença hepática associada a esse hábito podem estar em maior risco de infecção grave pela COVID-19, devido a fatores como um possível sistema imunológico deprimido, comorbidades subjacentes de alto risco, incapacidade de comparecer a visitas regulares com os prestadores de serviços e o isolamento social, podendo levar a uma descompensação psicológica e aumento do consumo alcoólico ou recaída. (Da, BEN L., et al., 2020).

Com isso, devido ao período histórico atual caracterizado pela pandemia de Covid-19, é essencial que os profissionais de saúde esclareçam e orientem a população sobre os perigos do consumo do álcool. Poderão também, através de redes sociais, publicar informações incentivando o não uso ou, no mínimo, redução do consumo a não mais que uma unidade alcoólica por dia (consumo de baixo risco), principalmente aos pacientes que se tratam com múltiplos medicamentos e aqueles portadores de doenças crônicas (diabetes mellitus, cardiopatias, doenças hepáticas, etilistas, entre outros).

Também é relevante o incentivo, se necessário, a procura por tratamento psicológico e realização de melhorias nos hábitos de vida, como atividades físicas e alimentação saudável, em busca da melhor forma de lidar com esse período de isolamento social (Da, BEN L., et. al., 2020).

 

 

REFERÊNCIAS

 

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Alcohol and COVID-19: what you need to know. Geneva, Switzerland, 2020. Disponível em: https://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0010/437608/Alcohol-and-COVID-19-what-you-need-to-know.pdf. Acesso em: 16 mai 2020.

 

TESTINO, G. Are Patients With Alcohol Use Disorders at Increased Risk for Covid-19 Infection? Alcohol and Alcoholism. Oxford Academic, 2020. DOI:10.1093/alcalc/agaa037. Disponível em: https://academic.oup.com/alcalc/advance-article/doi/10.1093/alcalc/agaa037/5827422. Acesso em: 16 de junho de 2020. 

 

Da, BEN L., et. al. COVID-19 Hangover: A Rising Tide of Alcohol Use Disorder and Alcohol-Associated Liver Disease. Hepatology. DOI:10.1002/hep.31307. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32369624/?from_term=use+of+alcohol+covid&ampfrom_filter=ds1.y_5&from_pos=2 Acesso em: 16 de junho de 2020.

 

BRASIL. Ministério da Saúde e BIREME/OPAS/OMS. Programa Telessaúde Brasil Redes (org.). Cálculo de doses de álcool. Disponível em: https://aps.bvs.br/apps/calculadoras/?page=8. Acesso em: 18 jun. 2020.

 

BRASIL. ORGANIZAÇÃO PAN AMERICANA DE SAÚDE - BRASIL (OPAS-BRASIL)/ ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). (org.). Folha Informativa Álcool. 2019. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5649:folha-informativa-alcool&Itemid=1093. Acesso em: 18 jun. 2020.