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Na linha de frente da Covid-19, enfermeiras exigem jornada e salários dignos

publicado: 24/05/2021 08h11, última modificação: 24/05/2021 14h14

Isabela Ucin está lidando com pacientes com Covid-19 há 1 ano e 2 meses. Ela trabalha na UTI NeoNatal do Hospital Frei Damião, em João Pessoa, e cuida de recém-nascidos prematuros que apresentam síndrome gripal. No início da pandemia, quando recebeu seu primeiro paciente contaminado, a equipe ainda estava se adaptando ao contexto e sentia medo por causa da carência de estrutura física adequada e falta de profissionais treinados.

Além das mudanças no trabalho, Isabela também precisou reorganizar a relação com a sua família. Morando com os pais idosos e com comorbidades, ela precisou se mudar para um outro espaço dentro da sua casa, onde ficaria isolada. Tudo se transformou em um período muito estressante, já que a todo instante ela achava que estava doente e poderia transmitir para eles.

Após um ano de pandemia, a enfermeira afirma que a única sensação possível é de esgotamento mental. Quando pensa no que está sendo mais triste no seu trabalho, Isabela responde: “É a quantidade de recém-nascidos órfãos que temos em nosso setor, cujas mães morreram por complicações do Covid. Só esse mês foram três bebês em nossa UTI que perderam suas mães”.

Ela foi uma das profissionais contaminadas pelo vírus, mas não sabia até a realização da testagem feita no seu trabalho, já que a doença se manifestou de forma assintomática. Por serem maioria na enfermagem, as mulheres são as que mais cuidam dos pacientes com Covid-19 e, por consequência, as que mais morrem e são infectadas na Paraíba. Segundo o Observatório da Enfermagem, 995 enfermeiros já foram contaminados e 88% eram mulheres. Aqui, a Covid-19 tem uma taxa de letalidade de 3,54% entre os profissionais.

Segundo o Conselho Federal de Enfermagem, a categoria é formada por quase 2,5 milhões de enfermeiros, técnicos e obstetrizes, sendo 44 mil apenas na Paraíba. No Brasil, 86% dos enfermeiros são do sexo feminino, mas no Estado, o número chega a 90%. 

Em maio, é comemorado o Dia Internacional da Enfermagem, que foi marcado por atos em todo o Brasil em memória dos profissionais falecidos por Covid-19 e a favor do PL 2564/2020. O projeto de lei institui o piso salarial nacional para enfermeiros, técnicos, auxiliares e parteiras, com base em uma jornada de trabalho de 30 horas semanais. Para o autor do projeto, o senador Fabiano Contarato (REDE - ES), o reconhecimento popular da importância desses profissionais não corresponde a remunerações dignas, “porque a dignidade profissional, passa pela dignidade salarial e por condições de trabalho adequadas”, disse Contarato no vídeo de apresentação do PL publicado pelo Senado.

Em meio ao esgotamento físico e mental, faltam máscaras e estrutura básica, dificultando o trabalho dos enfermeiros, técnicos e auxiliares. As prefeituras abrem editais de processo seletivo ou concursos públicos para suprir a falta de profissionais, mas a remuneração é baixa. Isso aconteceu em João Pessoa, em fevereiro de 2020, quando a prefeitura ofereceu em edital 90 vagas para enfermeiros, com remuneração de 1.250 reais.

“A aprovação do PL 2564/2020 será um divisor de águas para toda a categoria, pois é uma luta de décadas. Esta aprovação seria o maior reconhecimento para esses profissionais tão importantes na saúde pública do país", afirma Milca Rego, representante do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Paraíba (SINDEP-PB). 

Em João Pessoa, também ocorreu um ato solidário organizado pelo SINDEP-PB no Parque Sólon de Lucena, chamado “Abrace as causas da Enfermagem". Segundo a representante do sindicato, o ato foi apoiado por oito órgãos nacionais e estaduais, como o Conselho Regional de Enfermagem da Paraíba (COREN/PB) e Comissão Nacional de Auxiliares e Técnicos de Enfermagem (CONATENF).

“A importância deste ato é mostrar à sociedade e aos gestores que somos importantes no cuidar, e mais do que aplausos e homenagens, queremos dignidade e valorização, que deve ser transformada em salário digno”, destaca Milca Rego.

O projeto de lei 2564/2020 continua em discussão no Senado Federal e possui consulta pública aberta com quase 1 milhão de votos favoráveis à sua aprovação.

Extensionista: Grace Vasconcelos | Edição: Lis Lemos