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Ataques cibernéticos contra mulheres é pauta de evento realizado pela CoMu

publicado: 13/09/2021 14h06, última modificação: 13/09/2021 14h06

Em fevereiro, a professora da UFPB Glória Rabay e a aluna Camila Bezerra tiveram a banca de mestrado do programa de  Pós-graduação em Jornalismo invadida por hackers que se denominavam “Bonde do Javali”. Glória lembra que os agressores tomaram a gerência da sala virtual e passaram a compartilhar imagens e sons violentos. Além disso, no chat da plataforma, os hackers insultavam e faziam ameaças aos ativistas de Direitos Humanos, feministas e pessoas LGBTQIA+. 

"A sensação do ataque foi algo pessoal. Aquelas pessoas me atacaram no meu trabalho, na minha dignidade profissional, nas minhas convicções políticas, eles me invadiram e me ameaçaram”, relembra. Glória conta que quando conseguiu parar a apresentação, teve uma crise de choro indignada com a situação. 

Fernanda Martins Souza, pesquisadora de desigualdades e identidades do Internetlab, acredita que esses ataques  aumentaram proporcionalmente ao acirramento da polarização política inflacionada pela gestão da pandemia. Para ela, o agravamento dos posicionamentos têm levado à normalização e naturalização de ataques, comentários preconceituosos e discurso de ódio, principalmente às jornalistas e mulheres envolvidas com a política. 

Para Fernanda, o que acontece nas redes sociais e na internet está associado ao momento político histórico que o país enfrenta. “Esses fenômenos acabam se desdobrando também para fora da internet ou numa relação de continuidade entre o que acontece quando estamos e não estamos conectados, ou seja, um encadeamento entre os ataques e para onde essas violências são direcionadas", analisa. 

Glória, pesquisadora na área de gênero, também defende a ideia de que essas violações se agravaram a partir do contexto histórico e político do país. Para ela, não há dúvidas de que esses ataques cibernéticos são um novo desdobramento da violência de gênero. “Eles me ameaçaram de estupro, morte e vazamento de dados. Se alguém me ameaça de estupro e  invade minha sala, onde há um debate sobre a discriminação das mulheres jornalistas, e eu sei que essa foi a motivação do ataque, isso é violência de gênero”, ressalta. 

Janaína Andrade de Souza, procuradora da República, argumenta que o enfrentamento a este tipo de violência no meio acadêmico deve ser amplo e plural, e sempre norteado pelo princípio da legalidade. “A universidade pode e deve fomentar o debate sobre a temática e também acionar os órgãos de persecução penal para investigar casos concretos”, defende a procuradora. 

Após o ocorrido, o Comitê de Políticas de Prevenção e Enfrentamento à Violência contra as mulheres na UFPB (CoMu) entrou em contato com a professora para acolhê-la e encaminhar o caso aos órgãos responsáveis. Atualmente, o processo decorrente do caso está no Ministério Público Federal. 

Violência virtual contra mulheres na Universidade 

Por causa de casos como o da professora Glória Rabay, o Comitê de Políticas de Prevenção e Enfrentamento à Violência contra as mulheres na UFPB (CoMu) percebeu a necessidade de incentivar a discussão sobre ataques cibernéticos contra mulheres no ambiente acadêmico. Entre outras ações, o Comitê e seu Conselho Gestor promovem um evento nos próximos dias 16 e 17 de setembro, O  intuito do webinário é contextualizar o que é a violência virtual e como ocorrem os ataques contra as mulheres na contemporaneidade, além de articular formas de prevenção e enfrentamento à essas situações na Universidade.

“A academia como espaço de produção de conhecimento é o local mais apropriado para debater as causas e efeitos da violência em todos os seus aspectos e formas”, defende a procuradora Janaína Andrade sobre a necessidade do evento. 

Além dela, Glória Rabay e Fernanda Martins também estarão presentes no evento. 

“É importante o debate porque se a violência vai alterando o seu significado de tempos em tempos, isso também significa que a gente precisa compreender essas mudanças culturais e políticas. Enquanto sociedade civil, precisamos cobrar e olhar para esses acontecimentos de violência online com o cuidado e as nuances que são necessárias para o enfrentamento e combate desse tipo de situação”, finaliza Fernanda. 

Sobre o evento

O evento “Violência virtual contra as mulheres na Universidade” ocorrerá entre os dias 16 e 17 de setembro, com programação durante manhã e tarde. Na ocasião, os convidados discutirão os ataques cibernéticos contra as mulheres e as violências de gênero que ocorrem no espaço acadêmico. No dia 16 o evento será transmitido pelo canal da CoMu no Youtube e no dia seguinte, será aberta uma sala no Google Meet apenas para mulheres.

As inscrições poderão ser feitas até o dia 15 de setembro por meio do Sigaa. Confira a programação completa do evento:

16 de setembro

Mesa de abertura - 8h30 

Mesa 1-  Violência contra as mulheres em atividades acadêmicas: qual a reponsabilidade das universidades? - 9h

Mediação: Lis Lemos

Convidados para exposição: 

Valéria Machado Rufino  - Coordenadora da CoMu; professora do Departamento de Psicologia, mãe de três filhes e avó de uma neta

Luiza Rosa Barbosa de Lima- Corregedora da UFPB; professora do departamento de Direito Público

Jânio Vieira - Gerente de Segurança da Informação da STI; Especialista em Cibercrime e Cibersegurança

Janaína Andrade de Sousa - Procuradora da República

Andressa Alves Lucena Ribeiro Coutinho - Procuradora do Trabalho

Local: Canal da CoMu no YouTube 

 

Mesa 2 - Como prevenir e enfrentar as violências contra as mulheres no meio digital? - 14h30

Mediação:  Juciane Gregori 

Convidades para exposição:

Ana Calline -  Embaixadora do Programa Cidadão Digital (Safernet/Facebook) na Paraíba, graduada em Arte e Mídia pela UFCG.

Emanuely Oliveira -  Mentora do programa Cidadão Digital (Safernet/Facebook), atua como Assistente Social no Centro de Defesa dos Direitos da Mulher em Alagoas.

Fernanda Martins Sousa - Doutoranda em Ciências Sociais na Unicamp. Atualmente, coordena pesquisas na área de desigualdades e identidades no InternetLab.

Gloria Rabay - Feminista e professora da UFPB, atua na graduação de Jornalismo e na pós-graduação de Jornalismo e Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas. 

Isadora Lira - Feminista, jornalista doutoranda em Sociologia (PPGS/UFPB), integrante do Intervozes.

Local: Canal da CoMu no YouTube 

 

17 de setembro - Atividade só para mulheres da UFPB

Roda de Diálogo: Acolhimento para as mulheres da UFPB: Enfrentamento ao machismo, racismo e LBTfobia no meio virtual - 9h 

Coordenação: Joseane da Silva Leite - Assistente Social da CoMu

Plataforma: Google Meet (link será disponibilizado no dia)

 

Extensionista: Aléssia Guedes | Edição: Lis Lemos