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Falta de acesso à educação sexual afeta autonomia de mulheres e adolescentes

publicado: 26/05/2021 14h59, última modificação: 26/05/2021 14h59

No mundo, ainda há milhares de mulheres e jovens que são privadas de tomarem decisões sobre seu corpo, principalmente, em relação à sexualidade. Muitas ainda não podem escolher a hora de iniciar a vida sexual, o método contraceptivo que querem usar, se querem ou não ter filhos e várias outras decisões que violam o direito à autonomia. 

Muito dessa violação nasce da falta de educação sobre esses métodos contraceptivos para meninas e mulheres. Se elas não têm acesso às informações que permitem suas próprias decisões, ficam à mercê da escolha de outras pessoas. Para a professora da UFPB e enfermeira obstetra Waglânia Mendonça, uma educação sexual que comece na primeira infância e seja não só para mulheres, mas também para homens, contribuiria potencialmente para a redução da violência sexual, doméstica e de gênero. 

“A gente já começa na infância a invalidar as decisões e os nãos que as meninas dão, então, é preciso sim fortalecer a educação sexual com foco na autonomia dos corpos das meninas, o mais rápido e precoce possível. E que essa educação seja extensiva aos meninos porque nós precisamos inserir os homens na discussão da violência de gênero”, comenta a professora.  

Waglânia coordena o projeto de extensão “Ampliação da oferta do Dispositivo Intrauterino através do treinamento de enfermeiros da estratégia saúde da Família: ação para reduzir gravidez indesejada em tempos de Covid-19”, aprovado no edital PROBEX 2021, que amplia a oferta de DIU por meio da capacitação de enfermeiros da atenção básica. “Esse deve ser um método ofertado na atenção básica e não exclusivo para inserção apenas por meio de médicos obstetras e ginecologistas”, defende.

A discussão sobre saúde sexual e métodos contraceptivos também deve estar voltada às adolescentes. A estudante de Farmácia, Camylla Correia, é voluntária do projeto de extensão “Conscientização sobre o uso de métodos contraceptivos para redução da gravidez na adolescência e planejamento familiar” e destaca a importância da comunicação. 

“É imprescindível que haja um diálogo sobre o uso de métodos contraceptivos para que essas jovens adolescentes desenvolvam uma sexualidade responsável, na qual tenham autonomia e garantia de seu bem-estar, já que assim se torna evitável uma gravidez não planejada e a contração de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)”, defende. 

Outro problema relacionado ao uso de métodos contraceptivos no Brasil é a dificuldade de sua distribuição no sistema de saúde público. A também estudante de Farmácia e bolsista do projeto de conscientização sobre uso de métodos contraceptivos, Jayne Fernandes, alerta que, segundo dados do IBGE, apenas nove capitais brasileiras disponibilizam todos os métodos contraceptivos assegurados por lei.  “Essa situação tende a piorar conforme analisamos as cidades mais periféricas do país”. Dados do IBGE de 2019 mostram que João Pessoa está dentro do grupo de capitais que não oferecem todos os métodos contraceptivos.

Waglânia lembra que a partir dos 13 anos, as meninas podem ter acesso aos métodos contraceptivos sem precisar de consentimento, assim como podem declarar que desejam ser consultadas por uma enfermeira ou médica da família e comunidade, sem que esteja na presença dos pais. “O grande problema dos métodos contraceptivos para as meninas adolescentes é a ideia de que a sexualidade das adolescentes deve ser suprimida. A gente precisa promover a educação sexual para que elas conheçam o próprio corpo, para que as experiências sexuais aconteçam primeiramente com elas mesmas para depois compartilhar o próprio corpo com outro”, defende a professora. 

Um longo caminho pela frente 

Segundo o novo relatório do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), que reuniu dados sobre 57 países, 9% das mulheres ainda não podem decidir sobre quando usar métodos contraceptivos. No Brasil, a porcentagem de mulheres, entre 15 e 49 anos, que utilizam algum método contraceptivo é de 65%, mas sobe para 80% entre as mulheres casadas. Além disso, 6% das brasileiras, na mesma faixa etária, também têm ou tiveram necessidades não atendidas de planejamento familiar, ou seja, desejam interromper ou adiar a gravidez, mas não usam métodos contraceptivos. 

“A grande barreira para chegar orientações sobre métodos contraceptivos para as mulheres tem a ver com a cultura, que ninguém conversa sobre sexo. Quando conseguirmos superar as barreiras culturais e sociais da educação sexual, vamos ter uma sociedade mais autônoma, mais liberta e mulheres com maior empoderamento e com maior autonomia sobre os corpos. É a partir da autonomia do próprio corpo, de decidir o que fazer com esse corpo que a gente se liberta de todas as outras amarras”, finaliza Waglânia.

Extensionista: Aléssia Guedes | Edição: Lis Lemos