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UFPB registra aumento de pesquisas sobre gênero e sexualidade

publicado: 15/06/2022 16h05, última modificação: 20/06/2022 15h43

As discussões teóricas sobre gênero, mulheres, feminismo e sexualidade têm ganhado espaço no ambiente acadêmico brasileiro. Entre os anos de 2010 e 2019, na UFPB, foram defendidos quase sete mil trabalhos que têm em seus títulos as palavras “gênero”, “sexualidade” e/ou “mulheres”. Esse número é mais de 20 vezes a produção da década anterior. Confirmando essa tendência, desde 2020 foram mais de dois mil trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses, segundo dados do repositório da instituição.

Para a professora Tatyane Guimarães, do Centro de Ciências Jurídicas, o aumento expressivo de pesquisas sobre esses temas é fruto da repercussão na sociedade que tem sido fomentada pelos movimentos feminista, de mulheres e LGBTQIA+. “É um fenômeno que tem movimentado a sociedade, e acho que seria inevitável o impacto para dentro da Universidade”, afirma. 

Se por um lado as reivindicações desses movimentos impactam a sociedade no sentido de cobrar políticas públicas para os grupos que representam, como a criação da Lei Maria da Penha em 2006 e o fortalecimento da rede de serviços de enfrentamento à violência, por outro, a Universidade tem investigado e pesquisado esses fenômenos visando contribuir para mudanças nas vidas desses grupos.  

Tatyane aponta ainda que no campo teórico, esses estudos contestam visões mais tradicionalistas que ignoram a centralidade das questões de gênero e sexualidade na compreensão da sociedade. “Na medida que aumentamos essas pesquisas e estudos, percebemos que gênero e sexualidade fazem parte de toda a estrutura; eles não são temas específicos”, defende.

Além disso, a professora também compreende que a ascensão desses grupos ao ensino superior público é um fator que pode ajudar a explicar o aumento do interesse de investigações nessa área. Essa é também a percepção da egressa do curso de Jornalismo, Michelly Santos. Na próxima terça, 21, a estudante vai apresentar seu trabalho de conclusão de curso: a revista  Meu Corpo - um olhar sobre a gordofobia e a pressão estética nas mulheres. “Se um ambiente universitário tem uma diversidade maior de pessoas, debates diferentes serão inseridos nele. Se pessoas de diferentes corpos, gêneros, etnias, religiões entram em um ambiente, esse lugar vai ser modificado”, argumenta.  

Michelly conta que esse é um tema que já perpassava sua trajetória acadêmica e que ainda antes de definir sobre o trabalho final já sabia que seria sobre gênero. “O meu TCC junta duas coisas que gosto bastante: revista e os temas sobre gordofobia e pressão estética. Esses dois temas em específico já foram pautados em outros trabalhos que produzi, desde o primeiro período. Também não posso excluir que fazer parte da temática como uma mulher gorda, foi um fator decisivo”, explica. 

Desde 2011 coordenando ações de extensão na UFPB sobre violência contra as mulheres, Tatyane percebe uma mudança nos trabalhos orientados por ela. Se antes, englobava temas mais gerais ligados aos Direitos Humanos, nos últimos anos ela tem orientado somente pesquisas ligadas a gênero.

Reações

O fomento de pesquisas que visibilizem grupos marginalizados pela sociedade tem provocado reações conservadoras em diferentes esferas da sociedade brasileira. Ideias estapafúrdias como “ideologia de gênero”, termo cunhado por conservadores para descaracterizar o que são os estudos de gênero, têm sido colocadas como algo a ser combatido em defesa de uma moral cristã e muitas vezes anti-científica.

A jornalista Camila de Lima Bezerra foi uma das vítimas desse tipo de ação por parte de grupos misóginos. A sala online onde seria realizada sua defesa de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFPB foi tomada por imagens  “relacionadas a marchas de forças armadas e repressivas, gerando conotação referente ao nazismo. No chat, as pessoas que conseguiram se infiltrar na sala enviavam constantemente mensagens pregando morte a gays, a feministas e condenando quaisquer atitudes das pessoas que pensam de forma contrária”, descreve. 

A pesquisa "Não tenho medo de dar opinião": A mulher jornalista na editoria de política em João Pessoa sob uma perspectiva de gênero investigou a dinâmica e o cotidiano dessas profissionais e revelou também os preconceitos e violências vivenciadas por elas no exercício da profissão. 

Durante o ano passado, a UFPB registrou diversos ataques a atividades acadêmicas online, principalmente, contra aquelas que abordavam gênero, feminismo, direito das mulheres, sexualidade e racismo. Desses, apenas cinco chegaram até a CoMu para atendimento e denúncia junto à Ouvidoria e Ministério Público Federal. 

Texto e Edição: Lis Lemos