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Análise: A evolução espaço-temporal da Covid-19 na Paraíba

publicado: 26/05/2020 21h41, última modificação: 26/05/2020 21h41

Mapa evolução espaço-temporal COVID PB 2505 

 

A Pandemia do novo Coronavírus tem nos atingido de diversas formas, e a mais cruel, naturalmente, tem sido o grande número de vítimas fatais em todo Brasil.

Além desse fato, entendemos que se pode tirar preciosas lições de tudo que está acontecendo, e uma delas é a de que podemos e teremos que aprender a agir em crises de forma preventiva, diante da falta generalizada de planejamento com que vivemos.

Muitos são os dados que estão sendo gerados com o desenrolar da Pandemia no Brasil e na Paraíba, muito embora saibamos que muitos deles não refletem a realidade, mas que pelo menos é o que se mostram possíveis para que algumas análises possam ser feitas.

Após sessenta dias da Pandemia na Paraíba, ou seja, após o registro oficial do primeiro caso, ocorrido em 18 de março do corrente, podemos fazer alguns apontamentos preliminares, levando em consideração especificamente a espacialização desses casos. Muitas outras análises certamente virão, inclusive com o apoio de muitos outros dados da sociedade e da natureza, que devidamente “cruzados”, poderão nos revelar situações preocupantes.

Inicialmente procuramos fazer uma análise da evolução dos casos no tempo e como se deu a distribuição dos mesmos no espaço. Para tanto tomamos como referência o primeiro registro no estado da Paraíba em João Pessoa. Os demais casos registrados no estado foram relacionados com o primeiro, considerando a diferença em número de dias. Isso possibilitou a geração do mapa a seguir, que tem na legenda quatro registros, a ausência de casos, até 15 dias, entre 16 e 30 dias, e entre 31 e 65 dias, perfazendo o total de 10 semanas epidemiológicas, ou o período dos dois meses de ocorrência da COVID-19 no estado.

Em breves palavras, o mapa nos mostra que em 15 dias os casos da COVID já ocorriam, provavelmente a partir de João Pessoa, em Cabedelo, Campina Grande, Patos e Sousa. Essa dinâmica possivelmente ocorreu em decorrência, no caso de Cabedelo, da proximidade geográfica, e no caso dos demais municípios, devido ao fluxo rodoviário de pessoas entre os mesmos. O caso registrado em Igaracy foge a essa interpretação, visto que se tem notícias de que se tratou de uma pessoa que esteve em São Paulo, e nesse caso não deve ter sofrido contágio na Paraíba.

Nos 15 dias seguintes, verificamos o registro de casos em 12 municípios. Entre esses, estão os de Bayeux e Santa Rita, afetados possivelmente devido a proximidade com João Pessoa. Os demais, em sua maioria, mantém alguma ligação rodoviária importante, via rodovias federais, com João Pessoa ou os municípios vizinhos que já apresentavam casos da COVID, quais sejam, Sapé, Sobrado, Queimadas, Serra Branca, Junco do Seridó, Pombal e São João do Rio do Peixe. Os municípios do Congo, Taperoá e São Bento, embora talvez não tenham o mesmo fluxo rodoviário de pessoas que as outras, têm algum tipo de ligação por rodovias pavimentadas.

Nos 30 dias seguintes houve a disseminação do vírus por praticamente todas as regiões do estado, em municípios que mantém uma boa interligação rodoviária.

A situação apresentada no mapa, após 60 dias de ocorrência da Pandemia da COVID na Paraíba, é interessante pelo fato de mostrar os municípios onde ainda não existem casos registrados, ou seja, onde possivelmente o fluxo rodoviário de pessoas é menor, e onde há um maior grau de isolamento.

Diante das primeiras análises espaciais com os dados disponíveis, um fato nos chama atenção, o de que, em eventos semelhantes que venham a ocorrer no futuro, medidas preventivas relacionadas com a criação de barreiras sanitárias podem ser importantes para deter ou retardar a propagação de vírus, bactérias, fungos ou outros agentes infecciosos.

 

Prof. Dr. Eduardo Rodrigues Viana de Lima

Professor Ttular da Universidade Federal da Paraíba

Pesquisador do Núcleo de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável.