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Estudo da UFPB revela desemprego nas periferias da Grande João Pessoa

Dos 184 moradores que participaram da pesquisa, 40% estão sem ocupação
publicado: 27/05/2020 21h03, última modificação: 28/05/2020 17h04
Levantamento foi realizado entre os dias 7 e 15 de maio. Crédito: Reprodução/ Correio da Paraíba/ Rafael Passos

Levantamento foi realizado entre os dias 7 e 15 de maio. Crédito: Reprodução/ Correio da Paraíba/ Rafael Passos

Pesquisadores do projeto de extensão "Direito à cidade e as lutas pelo espaço urbano: necessidades radicais e utopia" da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) alertam sobre o agravamento da condição de bairros populares da Região Metropolitana de João Pessoa durante a pandemia da Covid-19.

As análises sobre a situação dos moradores foram feitas por meio de 184 respostas a um questionário elaborado pela equipe. Os resultados estão sendo divulgados por meio de boletins informativos. O primeiro saiu no último dia 16 de maio.

Pelos dados obtidos no questionário, entre os dias 7 e 15 de maio, quase 40% das pessoas que responderam residir em João Pessoa (tanto em bairros populares quanto mais centrais) estão desempregadas, mais de 82% dos empregados continuam indo ao trabalho diariamente e 81% afirmaram respeitar o isolamento social. No entanto, a presença de pessoas na rua é notada por cerca de 90% dos entrevistados e apenas 19% destacaram conhecer totalmente a importância do distanciamento diante da gravidade da pandemia.  

De acordo com o coordenador do projeto, professor Rafael de Padua, o fato de as populações não terem direitos sociais garantidos traz risco para a vida delas por estarem mais expostas ao contágio pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2).

“Pensamos quais são as necessidades mais urgentes e o que os moradores estão fazendo para lidar com a doença. Devido a estruturas econômicas e sociais precárias, há dados recorrentes de que uma parcela dos moradores não está respeitando o isolamento social e que as pessoas saem às ruas sem qualquer proteção. Evidenciamos a dificuldade para que as informações tenham efetividade em lugares onde há uma precarização da vida”, explica.

Segundo o pesquisador da UFPB, outro ponto observado na pesquisa é que, diante das dificuldades para que a população tenha acesso ao auxílio financeiro disponibilizado pelo governo federal, as pessoas estão organizando redes de solidariedade para suprir necessidades básicas de alimentos, materiais de limpeza, higiene e de proteção.

“São associações diversas e redes organizadas por movimentos sociais urbanos e rurais. Isso aponta que, diante de uma realidade que pode ser catastrófica e trágica, há uma organização entre os pobres para o enfrentamento dessa pandemia. A solidariedade tem sido fundamental, pois a realidade é muito difícil e a negligência estatual uma constante”, acentua Padua. 

O professor da UFPB ressalta que o espaço urbano – a casa, os lugares de lazer, a mobilidade na cidade, a apropriação dos espaços públicos e o uso pleno da cidade por seus moradores – é uma necessidade concreta e fundamental para todos. Mas que, para uma parcela da população de João Pessoa, restou ocupar espaços que não "interessam" tanto à propriedade privada.

“Grande parte da população brasileira não tem acesso à propriedade privada da terra, o direito a ter uma moradia. Para essas parcelas da população, resta ocupar espaços como fundos de vale, encostas e terrenos públicos ou privados sem nenhum uso. Elas constroem as moradias com o próprio trabalho e conforme os recursos permitem. Há necessidades que são essenciais para a vida e que a reprodução social tal qual está posta não permite a todos”, adverte o pesquisador.

Rafael acredita que a proposta do projeto da UFPB buscará, na articulação com os movimentos sociais urbanos, aproximar-se dos conflitos concretos existentes no espaço urbano e promoverá debates que ajudarão na demanda de direitos na Paraíba.

“A luta pelo espaço urbano aponta para a necessidade do espaço e da cidade como um todo. O direito à cidade seria muito mais que direito à moradia e aos diversos serviços urbanos. É também como condição da reprodução da vida, que se depara o tempo todo com a lógica da propriedade privada da terra e da mercadoria”, argumenta Padua. 

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Reportagem: Jonas Lucas Vieira | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB