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Boas práticas pedagógicas podem melhorar autoestima de crianças negras, diz pesquisadora da UFPB

Estudo analisou atividades desenvolvidas em escola pública de João Pessoa
publicado: 05/02/2020 19h34, última modificação: 05/02/2020 19h34
Livro sobre a pesquisa está em fase de preparação. Foto: FollowBaby/Reprodução

Livro sobre a pesquisa está em fase de preparação. Foto: FollowBaby/Reprodução

Um estudo realizado pela pesquisadora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Fabrícia Medeiros rendeu-lhe não só o título de doutora, como o segundo lugar, na categoria “Teses”, do primeiro Simpósio Internacional Amar e Mudar as Coisas, realizado em dezembro, no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), no campus I, em João Pessoa.

Com a premiação, o trabalho intitulado “Práticas Pedagógicas e Relações Étnico-Raciais: uma análise da construção da identidade negra da criança nos anos iniciais do Ensino Fundamental de uma escola pública da cidade de João Pessoa” será publicado em livro, possibilitando que mais pessoas tenham acesso ao estudo.

A pesquisa investiga as práticas pedagógicas das professoras voltadas para as relações étnico-raciais e suas possíveis influências para a construção da identidade negra da criança nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em uma escola pública localizada no bairro de Mangabeira, em João Pessoa, na Paraíba. Participaram do estudo duas professoras e crianças com idade entre 6 e 8 anos.

Segundo Fabrícia, a pesquisa partiu do princípio de que a construção da identidade negra das crianças sofre forte e direta influência das práticas pedagógicas das professoras, uma vez que não se separa o ser profissional do pessoal, englobando, portanto, suas aprendizagens adquiridas durante a vida, então, sua própria identidade faz parte de suas ações cotidianas dentro da escola.

A autora da tese constatou que a identidade da criança em processo de construção depende diretamente das primeiras interações sociais que acontecem basicamente na família e na escola.

“Então tínhamos crianças que não se reconheciam negras e além do mais rejeitavam sua cor ou dos colegas com palavras desconfortáveis e até preocupantes, que a partir da prática das professoras passaram a tratar o assunto de forma natural, leve e reconhecendo sua cor de pele, seus traços, seu cabelo, suas marcas que tanto são ultrajadas socialmente”, conta a pesquisadora.

Fabrícia acrescenta que “o efeito dos preconceitos sofridos por uma criança interferem diretamente na sua formação identitária, em sua autoestima, consequentemente em sua aprendizagem e relações humanas que estabelecerá ao longo de sua vida”.

Conforme o estudo, a criança observa os adultos e os imita, podendo, consequentemente, negar, afirmar ou ressignificar sua identidade negra já iniciada e direcionada no ambiente familiar, neste contato diário com suas professoras.

“As professoras trabalharam a autoestima e o reconhecimento da identidade negra nas crianças de modo tão comprometido e atencioso que os resultados já com poucos meses de trabalho era notável”, comemora a autora da pesquisa.

Para Fabrícia, a tese foi um desafio. “Ter nosso trabalho entre os três melhores em um evento importante me deixou muito feliz e com a sensação de que consegui tratar de um tema de extrema importância social de modo comprometido e respeitoso, antes de tudo, com as pessoas negras, superando um pouco de minhas limitações, principalmente por não ser negra, não estar no lugar histórico e de vivência desse povo que, particularmente, admiro pelo exemplo de resistência e luta”, explica.

O trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação-(PPGE) da UFPB e orientado pelo professor Wilson Aragão. “Representar a UFPB é orgulho, fazemos pesquisas sérias”, frisa.

“Como professora, sinto a necessidade de aprender sempre mais sobre o assunto para ter a condição de ministrar minhas aulas para além da história contada nos livros didáticos, bem como conduzir situações de rotina de forma embasada, respeitosa e justa com meus alunos negros, ensinando aos alunos brancos através do exemplo”, afirma.

Ascom/UFPB