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Ciência leva até mais de um século para identificar novo réptil, diz pesquisador da UFPB

Artigo, com parceria internacional, analisou 2,6 mil espécies catalogadas entre 1992 e 2017
publicado: 22/04/2020 16h10, última modificação: 22/04/2020 16h10
A lagartixa Cnemaspis amith passou 155 anos “engavetada” até ser descrita em 2007. Foto: Divulgação

A lagartixa Cnemaspis amith passou 155 anos “engavetada” até ser descrita em 2007. Foto: Divulgação

O pesquisador e professor Mario Moura, do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no campus II, em Areia, colaborou, em estudo internacional, sobre o tempo que a ciência pode levar para descrever um réptil: mais de um século.

A pesquisa, publicada na revista Zoological Journal of the Linnean Society, analisou 2,6 mil tipos de répteis descritos de 1992 a 2017 e constatou, por exemplo, que a lagartixa Cnemaspis amith levou 155 anos para ser descrita, em 2007, e a serpente Dendrelaphis grismeri 146 anos, antes de ser oficialmente registrada em 2008. Além disso, quase 800 espécies foram coletadas na natureza no mínimo 12 anos antes de sua descrição formal.

Intitulado “Identifying factors that boost species discoveries of global reptiles” (algo como “Identificando fatores que impulsionam as descobertas de espécies de répteis globais”), o trabalho também contou com a participação dos pesquisadores Jhonny Guedes e Renato Feio, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e Shai Meiri, da Universidade de Tel Aviv, em Israel.

De acordo com o professor da UFPB, quando a coleta é feita por especialistas, o tempo e a descrição tendem a ser bem menores. “É possível que bombeiros, fazendeiros ou a polícia ambiental coletem. Quando isso acontece, podem não ‘alcançar’ de imediato as mãos de um especialista, permanecendo ‘engavetados’ por anos até serem devidamente analisados”, explica Mario.

A preservação desses animais se dá por um processo de fixação antes de eles serem guardados em uma coleção científica. “Pode ser por via seca, como a taxidermia, processo de empalhar animais, como acontece com algumas aves e mamíferos. Mas também pode ser por via úmida, que é como depositar o espécime-tipo em álcool 70% ou formol, o mesmo tipo de substância que se usa para preservar cadáveres”, acrescenta.

Para o pesquisador, estudos mais aprofundados, conhecidos como revisões taxonômicas, aumentam as chances de encontrar gêneros coletados há muito tempo. “Cientistas normalmente comparam centenas de espécimes de diferentes coleções biológicas. Em algumas situações, esses estudos revelam espécies que já foram extintas na natureza, mas que tiveram espécimes preservados em coleções antes de seu desaparecimento”, conta.

Segundo Mario, animais que pertencem a gêneros com mais espécies tendem a ser descritos mais rapidamente após a coleta na natureza. “Se há muitas espécies no gênero, vêm mais estudos. Com mais estudos, melhora a capacidade de distinguir as espécies dentro daquele gênero. Ou seja, aprendemos mais rápido para quais características da espécie precisamos olhar para saber se ela é de fato nova ou não para ciência”, argumenta.

Dados da pesquisa de Mario apontam que novas espécies podem ser identificadas mais facilmente a partir de animais coletados por não especialistas e pertencentes a gêneros com menos diversidade. “Futuras revisões taxonômicas devem focar nisso e terão maior probabilidade de revelarem espécies novas para a ciência e assim impulsionar o processo de descobrimento de espécies”, enfatiza o professor.

Ascom/UFPB