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Coleção de cupins da UFPB é a terceira maior do Brasil

No acervo da federal paraibana, há 11 mil amostras de cupins, com mais de 200 espécies
publicado: 28/08/2020 22h46, última modificação: 31/08/2020 10h42
A serviço do meio ambiente, os cupins fertilizam solos, decompõem matéria orgânica vegetal, ocupam importante posição na cadeia alimentar e são fonte de proteína e recursos para a produção de medicamentos. Foto: Laboratório de Termitologia da UFPB

A serviço do meio ambiente, os cupins fertilizam solos, decompõem matéria orgânica vegetal, ocupam importante posição na cadeia alimentar e são fonte de proteína e recursos para a produção de medicamentos. Foto: Laboratório de Termitologia da UFPB

A coleção de cupins da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) é a maior do Nordeste e a terceira maior do Brasil, segundo levantamento realizado por pesquisadores da área de Termitologia do país. Termitologia é a ciência que estuda os cupins, que são insetos eussociais (baratas sociais).

A coleção de Isoptera (subordem que engloba os cupins) da UFPB, fundada em 1993, pelo professor Adelmar Bandeira, está subordinada ao Laboratório de Termitologia do Departamento de Sistemática e Ecologia do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN), no campus I, em João Pessoa.

O resultado do levantamento foi obtido a partir da análise dos bancos de dados das coleções de cupins que existem no Brasil. “Estamos escrevendo um livro sobre os cupins da América Latina e tínhamos que unir os bancos de dados das diversas coleções para escrever os capítulos sobre a Caatinga, Amazônia e Cerrado. Dessa forma, pelo banco de dados analisado, constatamos que a da UFPB era a terceira do país”, conta o professor e coordenador do laboratório, Alexandre Vasconcellos.

À frente da UFPB, ficaram o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Brasília (UnB). A coleção da federal paraibana possui mais de 11.000 lotes (amostras de cupins) depositados em seu acervo, com mais de 200 espécies identificadas. Também conta com cerca 300 lotes resfriados continuamente para estudos moleculares.

“O nosso laboratório possui representantes provenientes de uma abrangente área de cobertura geográfica brasileira, que contemplam os domínios da Floresta Atlântica, Caatinga, Brejos de Altitude, Floresta Amazônica e Cerrado. Não há nenhuma outra coleção de insetos do mundo que tenha mais amostrados dos cupins da Caatinga e Mata Atlântica do que a coleção de Isoptera da UFPB”, diz o professor.

Segundo Alexandre, a área de Termitologia na UFPB realiza pesquisas no âmbito da biologia, ecologia, taxonomia e biogeografia dos térmitas neotropicais. Além disso, também são desenvolvidos estudos ligados à ecologia de solos e da decomposição de necromassa vegetal da Caatinga e Floresta Atlântica.

Entre os trabalhos científicos de destaque, estão a ecologia de cupins da Caatinga, Cerrado, Floresta Amazônica e Mata Atlântica; o uso dos cupins como bioindicadores de saúde dos ecossistemas brasileiros; influência das estruturas biogênicas (ninhos e túneis) de cupins sobre os nutrientes do solo da Caatinga; determinação da biodiversidade e biomassa de cupins na Floresta Amazônica e Caatinga; e efeitos do uso do solo sobre a meso e macrofaunas no Semiárido brasileiro.

“Pretendemos ampliar a coleção, buscando alcançar os 50.000 lotes, e abrir o seu banco de dados para todas as instituições do mundo, além de criar um setor permanente de divulgação do material para a sociedade, ligado à Casa da Ciência, do Departamento de Sistemática e Ecologia”, conta.

A serviço do meio ambiente

Atualmente, há cerca de 3.100 espécies de cupins conhecidas no mundo. Menos de 5% das espécies identificadas possuem algum potencial importante como praga no meio urbano e na agricultura. A grande maioria desempenha importantes serviços ao meio ambiente.

O professor explica que os cupins exercem uma considerável influência na fertilidade dos solos das florestas tropicais, agindo principalmente nos processos de decomposição da matéria orgânica vegetal.

“Quando uma árvore cai, ocorre naturalmente um processo de decomposição que pode ser dividido em duas etapas: (a) fragmentação mecânica, realizada principalmente por cupins e besouros xilófagos (que se alimentam de madeira); e (b) mineralização química, realizada por fungos e bactérias, que tornam os nutrientes presentes na árvore caída disponíveis para serem reabsorvidos pelas plantas. Sendo assim, a ausência da fragmentação mecânica alteraria toda a dinâmica da decomposição da matéria orgânica vegetal, dificultando a ação dos fungos e das bactérias e, por consequência, retardando a liberação dos nutrientes para o meio. Em outras palavras, sem os cupins, uma árvore caída poderia ficar anos sobre o solo de uma floresta, retendo os nutrientes presentes nela”, explica Alexandre.

Além disso, a intensa atividade dos cupins no ambiente altera a estrutura física dos solos, aumentando consideravelmente a sua retenção de água, porosidade e aeração, mantendo-os descompactados e propícios para a atividade biológica e agricultura “Isso acontece porque os cupins constroem ninhos e túneis no interior dos solos e, muitas vezes, transferem material do solo profundo para a superfície e material orgânico da superfície para camadas mais profundas”.

Os cupins ocupam uma importante posição na cadeia alimentar, pois fazem parte da dieta de muitos outros animais. Entre os seus predadores naturais, destacam-se outros insetos (formigas, libélulas, louva-a-deus, besouros, percevejos, vespas, etc.) e vertebrados (tatus, tamanduás, aves, sapos, lagartos, cobras, morcegos e peixes). No entanto, as formigas são destacadamente as principais predadoras dos cupins. Ninhos inteiros de cupins podem ser invadidos por formigas, ocorrendo uma verdadeira batalha pela vida.

“Os seres humanos também utilizam, pelo menos, 45 espécies de cupins em sua dieta ou como ração para o gado e galinhas, e outras nove espécies como recurso terapêutico no tratamento de doenças. Esses usos foram registrados em 29 países de três continentes, demonstrando o potencial dos cupins como fonte de proteína e recursos para a produção de novos medicamentos”.

O Laboratório de Termitologia conta com parcerias com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Universidade de Brasília (UnB), Universidade de São Paulo (USP), University of Florida e Université libre de Bruxelles.

Além de Alexandre Vasconcellos, também atuam no laboratório Rozzanna Figueirêdo, Matilde Vasconcelos, Alane Ayana, Ana Márcia, Antônio Paulino, Amanda Cosme, Emanuelly Felix, Israel Soares, Amanda Loyse, Priscilla Santos, Joyce de Morais, Allysson dos Santos, Sara Rikeley e Antônio Carvalho. Entre as principais colaboradoras, estão as professoras Flávia Moura (UFCG) e Virgínia Araújo (Univasf).

É possível acompanhar as ações do Laboratório de Termitologia da UFPB através do Instagram e do site. Interessados nos estudos empreendidos pelo laboratório devem entrar em contato pelos emails avasconcellos@dse.ufpb.br ou figueiredo.rozzanna@gmail.com.

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Reportagem: Carlos Germano | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB