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Consumo de animais selvagens pode ter dado origem ao novo coronavírus, diz pesquisador da UFPB

Literatura científica aponta alimentação precária como causa de doenças
publicado: 08/05/2020 19h22, última modificação: 08/05/2020 19h22
Em artigo, o pesquisador Rafael Fonseca defende políticas públicas para combate à fome no mundo. Na imagem, um mercado chinês. Foto: Jason Lee

Em artigo, o pesquisador Rafael Fonseca defende políticas públicas para combate à fome no mundo. Na imagem, um mercado chinês. Foto: Jason Lee

O pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública e Cooperação Internacional da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Rafael Fonseca, alerta, em artigo,  que a efetivação de políticas públicas de combate à fome seria fundamental para evitar a contaminação pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). 

De acordo com Fonseca, a dificuldade em garantir alimentação saudável e segurança alimentar está na origem das infecções e doenças. “É evidente que a origem da indústria de animais selvagens está relacionada à dificuldade de aquisição de alimentos por uma parcela da população em condições de pobreza aguda. A fome assola a humanidade – há séculos – e se expressa de diferentes maneiras nas populações”, argumenta. 

Para o pesquisador, o que se constata é a existência de inanição e fome oculta pelo mundo. “A inanição é a imagem que temos de um indivíduo magro em condições extremas por não conseguir adquirir os alimentos. A fome oculta é quando populações se alimentam, mas possuem dietas com baixos valores micro nutricionais durante um longo período”, explica. 

Desde 1948, o direito humano à alimentação adequada está contemplado na Declaração Universal dos Direitos Humanos. “É responsabilidade do poder público implementar políticas, planos, programas e ações, em parceria com a sociedade civil organizada, para efetivar o direito humano à alimentação adequada”, enfatiza Rafael. 

O médico e escritor pernambucano Josué de Castro já alertava em seus estudos que a fome é um projeto político e que “o continente asiático, historicamente, expressou o problema da fome em vastas populações”. Segundo Fonseca, há uma relação entre a indústria de animais selvagens com a problemática da alimentação humana. 

“Existem diversas explicações para isso: a dificuldade de produção e aquisição de alimentos - por exemplo, no interior da China - devido à dificuldade de fazer uma agricultura diversificada, assim como a má distribuição da produção de alimentos saudáveis”, acentua o pesquisador da UFPB. 

O Brasil possui o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), instituído por meio da Lei nº 11.346/2006 – a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan). São marcos regulatórios sobre a segurança alimentar e nutricional no país para adotar medidas de combate à fome e garantir a alimentação adequada como direito fundamental do ser humano. 

Conforme o pesquisador da UFPB, existem instrumentos científicos com o objetivo de identificar como os grupos de doenças se expressam nas populações. “Por exemplo, a gripe, tuberculose e a malária são doenças transmissíveis. Elas advêm do mundo natural e as não transmissíveis surgem por causa de disposições biológicas e problemas criados pelo ser humano”, conta Rafael. 

Nesse sentido, o pesquisador adverte que “uma parte significativa da origem das doenças se vincula à alimentação humana e aos modos (estilos) de vida”. Fonseca reforça que – no intuito de conscientizar as pessoas sobre como as doenças surgem e no combate a elas –  “medidas preventivas podem ser implementadas do ponto de vista das políticas públicas”. 

É possível, diante dos pensamentos de Fonseca, relacionar a pandemia de Covid-19 com a precariedade da alimentação no mundo. “Não pretendemos inferir que a fome é a causa principal do novo coronavírus. Mas, de acordo com a literatura, torna-se possível relacioná-la com uma dieta alimentar precária e sem garantia, por exemplo, de questões sanitárias”, ressalta. 

Rafael conta que a questão central, da relação entre fome e pandemia de Covid-19, é a reflexão sobre a vivência humana hoje. “Especificamente apontamos para dois caminhos da realidade contemporânea: a necessidade de garantir a soberania e segurança alimentar e nutricional; e questionar as condições alimentares das populações”, finaliza o pesquisador da UFPB. 

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Reportagem: Jonas Lucas Vieira | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB