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COVID-19 pode alterar percepção de contraste

publicado: 02/06/2022 18h16, última modificação: 02/06/2022 18h16
Pesquisa de bolsista da CAPES indica possibilidade de diminuição na capacidade de processar detalhes da cena visual por causa da doença

Gabriella Medeiros Silva é graduada em Psicologia, mestre e doutoranda em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Em todas as etapas, a percepção de contraste foi  o tema central dos estudos. No mestrado, cursado com bolsa CAPES, ela encontrou indícios de que a COVID-19 pode diminuir a capacidade de processar detalhes da cena visual.

Fale um pouco sobre seu trabalho.
Inúmeros estudos demonstraram alterações clínicas visuais associadas ao novo coronavírus, inclusive retinianas e no campo visual. Entretanto, não havíamos identificado nenhuma investigação sobre a sensibilidade ao contraste, que diz respeito à capacidade do nosso sistema visual em detectar estímulos em diferentes níveis de contraste. Dependendo do teste utilizado, isso pode nos fornecer informações indiretas sobre o sistema nervoso central.

Minha dissertação teve como objetivo investigar se a COVID-19 causava algum prejuízo na sensibilidade ao contraste de pessoas que foram acometidas pela doença. Na nossa metodologia, escolhemos estudar um conjunto de frequências espaciais baixas, médias e altas. Comparamos os dados coletados com um banco de dados para o grupo controle, para garantir que realmente aquelas pessoas não haviam tido contato com o vírus.

E o que isso quer dizer?
A cena visual, se desconsiderarmos a cor, pode ser decomposta em variações de linhas claras e escuras, o que nos permite ver contorno, limites e bordas do objeto. Isso nos dá dois aspectos: a frequência espacial, que é essa variação entre o número de linhas claras e escuras, e o contraste, que vai viabilizar que vejamos esses contornos, limites e bordas.

Quando escolhemos nossas frequências espaciais, queríamos verificar se a COVID-19 causava algum efeito na forma como enxergamos a cena visual. As frequências espaciais baixas estão relacionadas à parte mais ‘grosseira’, digamos assim. É um aspecto mais borrado, mais geral da cena visual. As frequências espaciais médias estão relacionadas à nitidez. E as frequências espaciais altas se relacionam com os detalhes finos da cena visual, os contornos, que é quando vemos aspectos mais aprimorados de um objeto.

O que os resultados apontaram?
Nos nossos resultados, identificamos alterações para praticamente todas as frequências espaciais altas que investigamos. Só não foi encontrada alteração estatisticamente significativa para uma das seis que utilizamos. Isso pode nos sinalizar que a COVID-19 pode fazer com que as pessoas tenham mais prejuízos para identificar detalhes finos de uma cena visual.

O fato de as alterações terem ocorrido apenas para as frequências espaciais altas pode sinalizar que a COVID-19 afeta os hemisférios cerebrais de maneira distinta. Essa hipótese é baseada em estudos que indicam que existe uma assimetria, ou especialização hemisférica, para algumas funções cerebrais, inclusive visuais.

Como o hemisfério esquerdo é associado ao processamento analítico de informações e parece ser mais especializado no processamento de frequências espaciais altas, relacionadas ao processamento de detalhes, acredita-se que a COVID-19 pode afetar mais o hemisfério esquerdo.

Qual a importância da bolsa da CAPES?
A bolsa da CAPES foi e é fundamental para eu me manter na cidade em que estou (João Pessoa) e para me dedicar à pesquisa. Se eu tivesse que ter outro trabalho, não conseguiria reservar as horas necessárias para realizar esse tipo de estudo.

Quando eu estava na fase de coleta de dados, às vezes eu ficava horas no laboratório. Cada pessoa levava, em média, entre uma hora e meia a duas horas, porque precisávamos fazer uma bateria de triagem antes de passar para os testes psicofísicos. Depois da etapa do laboratório, a análise dos dados me ocupava das seis da manhã até a meia-noite, com pausas rápidas para me alimentar.

Se eu não tivesse a bolsa da CAPES, ficaria completamente inviável desenvolver a pesquisa que desenvolvi.

Quais são seus próximos passos?
A bolsa da CAPES continua a ser importante para mim, porque sou bolsista no doutorado. Na etapa atual, retomei a pesquisa iniciada na graduação. Nela, investigo se o uso de videogames pode melhorar a percepção de contraste. Inicialmente, seria o tema do meu mestrado, mas tive que adaptar meu estudo para a COVID-19 por causa da pandemia. Quem sabe os videogames não venham a ser utilizados para ajudar na sensibilidade ao contraste de pessoas que foram acometidas pela COVID-19?

Mais à frente, desejo passar em um concurso para ser professora de universidade pública. É o meu sonho.

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Fonte: CCS/CAPES
Foto: Arquivo Pessoal