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Discurso pró-economia do governo pode explicar baixo isolamento, diz estudo da UFPB

Apoiadores sugerem ser aceitável determinado número de mortes para economia não parar
publicado: 25/05/2020 20h47, última modificação: 25/05/2020 21h54
Para pesquisadores, participantes do estudo indicam desconsiderar os idosos, principal grupo de risco, porque supostamente são incapazes e improdutivos. Além disso, parecem enxergar a pandemia como uma situação de seleção natural. Crédito: Agência Brasil/Tomaz Silva

Para pesquisadores, participantes do estudo indicam desconsiderar os idosos, principal grupo de risco, porque supostamente são incapazes e improdutivos. Além disso, parecem enxergar a pandemia como uma situação de seleção natural. Crédito: Agência Brasil/Tomaz Silva

As pesquisadoras do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Edna Alexandre e Viviane Bezerra afirmam, em artigo, que as representações dos brasileiros sobre o novo coronavírus (Sars-CoV-2) variam de acordo com características pessoais, como sexo, renda e a região do país onde residem e que as políticas públicas de saúde devem atender a essas distinções.   

Na pesquisa, foram analisadas 595 respostas de pessoas, de todas as regiões do país, através de um questionário online. Com os dados, as pesquisadoras verificaram distintas percepções, ideias e crenças de grupos sociais que influenciam nas condutas em relação ao novo coronavírus e à Covid-19.

No estudo, a maioria dos participantes se declarou do sexo feminino (quase 70%), do Nordeste do Brasil (cerca de 65%), com Ensino Superior (aproximadamente 49%) e renda de até dois salários mínimos (30,1%).

Dentre os posicionamentos nesse cenário, os pesquisadores constaram que “o discurso governamental parece justificar a não-quarentena por questões econômicas”. De acordo com eles, “os apoiadores sugerem que há um número aceitável de vidas que podem ser perdidas, desde que a economia não pare”.

Ainda segundo a pesquisa, há apontamentos de que “os idosos, na condição de grupo de maior risco, parecem também ser desconsiderados”. Essa postura, acreditam os pesquisadores, diz respeito ao fato de que, em grande proporção, as pessoas idosas se encontram fora do contexto laboral e acabam se inserindo no grupo social como “incapazes e improdutivos” para a economia.

“Além disso, tais posicionamentos podem estar ancorados, ainda, na concepção de que apenas os mais fortes sobrevivem (seleção natural), na qual, sendo tal grupo considerado ‘fraco’, pode morrer”, alertam os pesquisadores no estudo.

Para Edna Alexandre, os resultados dessa pesquisa revelam que a forma como os brasileiros representam, compreendem e tentam explicar a pandemia de Covid-19 depende do senso comum sobre os objetos e fenômenos sociais que os grupos vivenciam no cotidiano.

“Isso quer dizer que não há uma uniformidade no entendimento e as especulações sobre o tratamento da Covid-19. É necessário apreender o modo como as pessoas se organizam socialmente diante da possibilidade de adoecer e tratar-se, pois a forma como se representa um fenômeno orienta os comportamentos diante dele”, explica a pesquisadora.

O trabalho foi resultado de uma pareceria entre a UFPB, Universidade de Lisboa e a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Nele, os pesquisadores constataram implicações práticas que podem contribuir ou impedir a adoção, por exemplo, de medidas preventivas para a contenção da pandemia. 

 “Os achados do estudo podem guiar futuras intervenções governamentais e não governamentais, alertando para a necessidade de que as intervenções levem em consideração as especificidades dos grupos sociais. Assim será possível construir e compartilhar representações e práticas sociais eficazes para conter o estado pandêmico”, destaca Edna.

A pesquisadora da UFPB ressalta a necessidade de investigar outras variáveis que podem influenciar os comportamentos sociais diante da pandemia. “Dentre elas, sugerimos a simpatia ideológica (ideologias conservadoras versus progressistas), uma vez que elas parecem influenciar a adesão às medidas de prevenção. Também a variável afetiva empatia. A capacidade de se colocar no lugar do outro pode ser facilitadora da compreensão de que o comportamento de cada um influencia na saúde coletiva”, enfatiza Edna.

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Reportagem: Jonas Lucas Vieira | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB