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Dossiê de periódico da UFPB mostra impactos do turismo em comunidades tradicionais e rurais

publicado: 20/11/2021 10h02, última modificação: 20/11/2021 10h04
Trabalho também aborda turismo e ressignificação de festejos no Brejo paraibano e traz relato etnográfico móvel do turismo em favelas

Foto: Aline Lins

Dossiê da revista Áltera, periódico do Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mostra, em nove artigos, os impactos do turismo em comunidades tradicionais e rurais. O tema ainda é pouco abordado pela antropologia brasileira e mundial. A edição traz ainda seção livre, dois ensaios visuais e uma resenha. 

Intitulado de “Dossiê Antropologia e Turismo: reinvenções e produções simbólicas do real”, o número 12 e volume 1 do periódico é organizado pela professora do Departamento de Ciências Sociais Patrícia Alves Ramiro e por Thereza Cristina Cardoso Menezes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). 

Os nove artigos presentes nesta edição tratam, especificamente, da construção social do turismo, da visibilidade indígena por meio da venda de artesanato, de políticas públicas de turismo e seu impacto em uma comunidade rural do Litoral Norte da Bahia e da cerâmica e da arqueologia em Belém, no Pará. 

Os trabalhos também versam acerca da Amazônia nas transações simbólicas do turismo, dos mutirões de limpeza das praias no Litoral Sul pernambucano durante desastre ambiental de 2019, da brincadeira e do espetáculo do maracatu de baque sol, do turismo e ressignificação dos festejos juninos no Brejo paraibano e de relato etnográfico móvel do turismo em favelas. 

Na seção livre, a revista científica apresenta um texto de perseguição sobre um personagem da acumulação social da violência fluminense. Um ensaio visual é uma etnografia e diário gráfico numa feira-livre paraibana e o outro evidencia os impactos da construção da Ferrovia Transnordestina no Piauí. Já a resenha expõe diálogos entre a antropologia e o turismo, com reflexões teóricas e etnográficas no Brasil e na França. 

Os professores do Departamento de Ciências Sociais da UFPB Mónica Franch e Pedro Guedes do Nascimento são os editores da Áltera. Segundo Mónica Franch, esta edição da revista aborda o turismo porque há pouca recepção do tema como objeto central da investigação antropológica e essa não é uma característica específica da antropologia brasileira. 

De maneira generalizada, podemos pensar que há certa resistência dos antropólogos em reconhecerem o papel relevante do turismo para a construção dos imaginários atuais em sentido globalizado, que envolve questões fundamentais da antropologia enquanto disciplina, como a identidade e a alteridade, a hospitalidade mercantil e a própria comercialização de culturas que está envolvida nesse processo”, afirma Mónica Franch. 

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. CCHLA. Foto: Angélica Gouveia

De acordo com a editora da revista científica da UFPB, as discussões existentes ainda parecem deixar que o tema seja visto como transversal a temas mais estabelecidos, como religião, parentesco, etnia, entre outros. “Ainda que exagerando, basta lembrarmos da frase “Eu odeio as viagens e os exploradores”, de Claude Lévi-Strauss, que abre sua obra sobre o Brasil, Triste Trópicos, e que dá uma conotação científica ao ato de viajar como um meio de produção do conhecimento antropológico mais nobre do que o do turista que viaja por lazer”, recupera a professora da UFPB. 

Efeitos da pandemia 

No atual contexto de pandemia da Covid-19, um dos setores mais afetados foi justamente o turismo. Mónica Franch explica que a atividade apresenta posição central em muitos países onde se vivenciou um processo de desindustrialização. Para ela, a diminuição do turismo tem trazido enormes prejuízos econômicos, mas também tem convidado a pensar sobre os impactos da atividade turística para as populações locais e para o meio ambiente. 

O dossiê mostra especialmente a preocupação dos antropólogos com os usos políticos de práticas culturais populares junto às atratividades turísticas e o potencial trágico de grandes empreendimentos do setor que, em nome de determinada interpretação de progresso e desenvolvimento, colocam comunidades inteiras em situação de vulnerabilidade social, econômica e cultural”, avalia a professora da UFPB.

Papel da antropologia

Na concepção de Mónica Franch, ao mesmo tempo em que a antropologia tem esse papel e potencial de denúncia de processos de exclusão social ocasionados pelo turismo, ela também, por outro lado, ao se debruçar sobre as comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas e ribeirinhos) e outras populações rurais, como os assentados de áreas de reforma agrária, mostra como tais grupos sociais apresentam relações muito mais harmônicas com o meio ambiente em que vivem.

Nesse dossiê, vemos como algumas destas práticas culturais passam a ser mobilizadas em torno de projetos turísticos em espaços rurais, mostrando como se dá o processo de ressignificações culturais que visam não apenas o fortalecimento desses atores sociais em um contexto mais amplo, mas principalmente a garantia de sua permanência em seus territórios”, pondera a editora do periódico.

Sobre essa discussão, que é bastante ampla, em 2019, foi publicada coletânea pela Editora da UFPB, onde são trazidos para o Brasil textos de antropólogos franceses que são hoje referências sobre esta temática, como Saskia Cousin e Bertrand Réau. O livro está disponível para download gratuito no site da editora.

Criada no ano de 2015, a Revista Áltera é uma publicação semestral. A revista publica duas edições por ano, exceto em casos de necessidade de algum número especial, como ocorreu no ano passado, quando foram publicados três volumes.

O tema da próxima edição é “Questões ético-metodológicas na pesquisa com crianças”. O prazo de submissão para o dossiê já foi encerrado. A revista recebe artigos para as demais seções (artigos, resenhas, ensaios visuais, entrevistas, relatos etnográficos) em fluxo contínuo.

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Reportagem: Pedro Paz
Edição: Aline Lins
Fotos: Angélica Gouveia e Aline Lins