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Em cooperação com a Fiocruz, UFPB desenvolve pesquisa sobre vacina contra febre amarela

publicado: 28/04/2022 16h32, última modificação: 28/04/2022 16h35
Pesquisadores apontam indícios de que apenas uma dose da vacina ao longo da vida não é suficiente para garantir proteção em países nos quais a doença é endêmica

Foto: Oriel Farias

A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) desenvolve, em cooperação com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desde 2015, uma pesquisa para identificar a duração da imunidade da vacina contra a febre amarela após uma dose, tanto em crianças como em adultos. A pesquisa é pioneira no mundo e se destaca por ser realizada em um país no qual a febre amarela ainda é uma doença endêmica.

Na manhã desta quinta-feira (28), representantes da Fiocruz e do Centro de Ciências Médicas da UFPB se reuniram com o Reitor da Universidade, Prof. Valdiney Gouveia, para apresentar ao gestor os resultados preliminares da pesquisa. 

O Reitor confirmou o apoio à continuidade do projeto.   

“A cooperação da UFPB com instituições como a Fiocruz muito nos honra, sobretudo dada a importância que tem essa instituição na promoção da saúde pública. Os projetos que são apontados pela Fiocruz são de interesse da UFPB e, de fato, nós já estamos realizando esses projetos. Seria, unicamente, a continuidade. Portanto, contam com nosso apoio para que tenhamos resultados mais evidentes, sobretudo, em relação à febre amarela, avaliando se de fato uma única dose é suficiente ou se é necessário que a população nativa que lida com o contexto da doença necessita de outras doses”, explicou o Reitor. 

A pesquisa é proposta pelo Centro de Ciências Médicas (CCM), sendo o Prof. Eduardo Sérgio, Vice-Diretor do CCM, o pesquisador principal do projeto, que é a primeira pesquisa clínica de grande porte elaborada em parceria com o Centro. Também há parceria com o Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW).

“O papel do CCM da UFPB é exatamente apoiar. Nós fizemos a proposta e ela foi aceita enquanto pesquisa, a Fiocruz e o Ministério da Saúde apoiam administrativamente e financeiramente, e nós, na UFPB, damos a assessoria para que essa pesquisa saia conforme todos os critérios de uma pesquisa séria”, explicou Prof. Eduardo Sérgio.

Na Paraíba, a pesquisa está sendo realizada desde 2016 no município de Alhandra e desde 2017 em Caaporã e Conde, com a participação de 4.761 moradores voluntários. Os resultados da pesquisa podem modificar o entendimento da Organização Mundial da Saúde (OMS) que, desde 2013, compreende que apenas uma dose da vacina ao longo da vida é suficiente para garantia contra infecções. Antes desse entendimento, a vacina contra a febre amarela exigia a aplicação da dose de reforço no intervalo de 10 anos.

Para o pesquisador Luiz Antônio Bastos Camacho, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) e Líder Científico do projeto, a orientação da OMS não considerou que em países endêmicos, como o Brasil, onde o vírus circula, uma dose da vacina para vida toda poderia não ser o suficiente, “principalmente se essa dose é feita em lactente, uma criança pequena, quando a resposta ainda é um é um pouco menor do que em adultos”, complementou.

Intervalo ideal

Ele acredita que apesar de desafiador e pioneiro, os resultados do trabalho serão definitivos para todo o mundo, considerando a metodologia meticulosa e trabalhosa da pesquisa. Além de checar a hipótese de que a dose única da vacina contra a febre amarela não é suficiente, o estudo visa apontar o intervalo ideal para a dose de reforço de forma bem esclarecida.

A Paraíba foi escolhida para a realização da pesquisa por se tratar de uma área não endêmica da doença, permitindo avaliar de forma mais segura a efetividade do imunizante sem interferência da imunização causada pela infecção por agentes naturais, conforme explica Maria de Lurdes de Souza Maia, Coordenadora da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos/Fiocruz.

“Por pesquisas que a gente tem feito avaliando a imunidade humoral e a imunidade celular, nós temos indícios fortes de que uma única dose não é suficiente pra vida toda num país que é endêmico para febre amarela”, explicou Maria de Lurdes.

De acordo com a coordenadora, na pesquisa os participantes voluntários, após assinarem o termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), passam por exames médicos e coleta de sangue para avaliar se já possuem imunidade contra a febre amarela. Na sequência, a vacina contra a doença é aplicada e inicia-se a etapa de coletas para a avaliação da imunização propiciada pela dose única, sendo realizadas novas coletas dentro de 45 dias e após 01, 04, 07 e 10 anos da aplicação da vacina.

Os pesquisadores envolvidos nas coletas e acompanhamento nos municípios realizam a compilação dos dados no Centro de Ciências Médicas da UFPB, que são repassados para a central na Fiocruz. Para o Prof. Eduardo Sérgio, a pesquisa, além de contribuir com a saúde mundial, deixará um legado para a UFPB.

“Todas as pessoas envolvidas na pesquisa vão ser experts. São pessoas que podem auxiliar em outras pesquisas não só aqui, mas em outros lugares do Brasil. Eles vão ter essa experiência e outras pesquisas já começaram a acontecer aqui, já existem mais três pesquisas acontecendo no Hospital Universitário a partir dessa primeira”, informou Prof. Eduardo Sérgio.

Além da importância da pesquisa, Maria de Lurdes revela que o acordo de cooperação entre a Fiocruz e a UFPB traz uma felicidade a mais. “Eu estudei aqui na Universidade, fiz medicina aqui. Estou no Rio de Janeiro, na Fiocruz, já coordenei programa de imunizações por uma década e achava muito importante a gente poder voltar para casa, retornar e dar de volta algo para a sociedade e o lugar que nos deu um ensino gratuito”, disse a médica.

A Secretaria de Estado de Saúde e as Secretarias Municipais de Saúde de Alhandra, Conde e Caaporã são co-participantes da pesquisa. O estudo é custeado pela Fiocruz e pelo Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde.

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Reportagem: Elidiane Poquiviqui
Edição: Aline Lins
Foto: Oriel Farias