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Estudo da UFPB revela obstáculos para realizar parto normal em João Pessoa

Sem estrutura, assistência e médicos preparados, sistema de saúde impõe cesariana
publicado: 06/08/2020 20h49, última modificação: 06/08/2020 20h59
A pesquisa foi realizada com mulheres que tiveram parto normal nos últimos três anos, na capital paraibana. Foto: Blog Puro Amor/Reprodução

A pesquisa foi realizada com mulheres que tiveram parto normal nos últimos três anos, na capital paraibana. Foto: Blog Puro Amor/Reprodução

Pesquisa realizada pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) revela obstáculos que as mulheres enfrentam para realizar parto normal no sistema de saúde da cidade de João Pessoa. O estudo foi desenvolvido pela estudante Maria Alice Rodrigues, sob a orientação da professora Diana Lucia Teixeira.

De acordo com a pesquisadora, as evidências apontam que existe carência estrutural, assistencial e de formação médica. Essas condições têm provocado experiências de vulnerabilidade para as mulheres.

A estudante explica que o sistema está em desequilíbrio, porque as mulheres que desejam parto normal não o têm conseguido. Devido à recusa, precisam correr atrás para fazer o procedimento.

“Se uma mulher diz que deseja um parto normal, a maioria das unidades de saúde afirma que não o faz e recomenda procurar outro local”, conta a pesquisadora.

Essas mulheres que escolhem ter seus filhos de maneira natural, quando não houve indicação médica para intervenção cirúrgica, geralmente recorrem ao suporte familiar, profissional e a informações sobre o assunto.

“Essas ajudas tornam as gestantes mais empoderadas para decidirem sobre suas escolhas relativas ao parto normal, tanto no pré-parto quanto durante o parto propriamente dito”.

Segundo Maria Alice Rodrigues, devido à falha na formação de médicos para o parto normal, é difícil para mulheres encontrarem alguém capacitado. Elas acabam indo atrás de vários profissionais, chegando a fazer consultas com quatro obstetras para poderem encontrar uma que consiga executar o procedimento natural.

“Em um dos casos analisados, mesmo tendo 37 semanas de gravidez, a médica dava uma desculpa e acabava não fazendo. A gestante não desistiu e procurou médico que fizesse”.

Em outro caso, foi preciso impedir que o médico efetivasse cesárea por conta própria. “Ele quis cortar uma delas durante o parto para “facilitar” o trabalho, querendo que acabasse logo, mas a gestante não deixou. Teve que brigar durante o parto”, relata Maria Alice.

Nesse contexto, o estudo ressalta que mulheres grávidas correm perigo em um sistema que as empurra ao parto cesáreo.

“Mesmo não havendo indicações reais para realização da cirurgia, é necessário compreender que nosso contexto social, cultural e mercadológico valoriza o parto cesáreo eletivo. É preciso restaurar o equilíbrio no sistema de marketing”, afirma a pesquisadora.

O estudo foi empreendido com mulheres que tiveram parto normal nos últimos três anos, por meio de questionários semiestruturados que abordavam experiência de parto, história de gravidez e relação com os atores do sistema de saúde.

“É necessário a criação de políticas públicas, a fim levar informações e promover um melhor acolhimento durante a gestação. Isso é importante para uma mudança social e cultural a respeito do parto”, argumenta a pesquisadora.

A pesquisa foi desenvolvida por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) da UFPB.

“Posteriormente, mais estudos devem ser realizados para compreender as influências de outros atores em contextos sociais que favorecem o parto normal”, recomenda Maria Alice Rodrigues. 

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Reportagem: Carlos Germano | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB