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Pesquisa da UFPB mostra que baixa qualidade de vida pode atrapalhar tratamento do câncer de mama e de próstata

publicado: 02/08/2021 13h43, última modificação: 02/08/2021 15h32
Condições de vida, incertezas do futuro e efeitos colaterais determinam adesão às terapias
Rede de cuidados é imprescindível para adesão e sucesso no tratamento dos cânceres de mama e de próstata. Imagem: Reprodução/Veridiana Scarpelli - SAÚDE é Vital
Rede de cuidados é imprescindível para adesão e sucesso no tratamento dos cânceres de mama e de próstata. Imagem: Veridiana Scarpelli - SAÚDE é Vital

Pesquisa desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) mostra que a baixa qualidade de vida pode atrapalhar o tratamento do câncer de mama e de próstata.

De acordo com o estudo, as condições de vida, incertezas do futuro e os efeitos colaterais ou adversos de tratamentos como radioterapia e quimioterapia são determinantes para a adesão ou não a esses recursos terapêuticos. Para os homens, por exemplo, contam mais as condições emocionais, a qualidade do sono e a situação financeira.

Já as mulheres enfrentam mais entraves para vivenciar esses procedimentos medicamentosos, como dúvidas sobre se continuará cumprindo os papéis sociais atribuídos a elas, se terá apoio de parentes e de amigos, preocupações com desejo e satisfação sexual, com situação financeira, fadiga e sintomas.

Os resultados do trabalho realizado pela pesquisadora Lia Carvalho, sob orientação da professora Kátia Costa, foram publicados no mês passado pelo periódico Texto & Contexto Enfermagem, do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A revista científica tem avaliação Qualis A2, caracterizada pela excelência internacional, e está entre as cinco melhores da área no país.

Segundo Lia Carvalho, desde o momento do diagnóstico, pode haver, nos pacientes, alterações psicológicas, de papéis sociais, surgimento de sintomas depressivos e de ansiedade, isolamento social devido ao estigma social atribuído a quem tem câncer, preocupações com relação à família, situação conjugal e empregatícia, medo da morte, entre outras.

Mas é a partir do início do tratamento oncológico que essas consequências de ordem biológica e psíquica podem ser ainda mais evidentes, por conta dos efeitos adversos às terapias, impactando negativamente a qualidade de vida e a adesão terapêutica dos pacientes.

De acordo com a pesquisadora, as diferenças comportamentais entre homens e mulheres na adesão ou não ao tratamento vêm sendo destacadas em outros estudos nacionais e internacionais. Essas diferenças geralmente estão relacionadas à divisão sexual nas esferas do trabalho, da família, e podem ser enfatizadas pelo tipo de câncer.

Para uma mulher com câncer de mama, a mutilação por meio de uma mastectomia radical, retirada cirúrgica de toda a mama, pode trazer impactos em diversos aspectos, sobretudo na realização dos papéis de mãe, cuidadora, esposa, que envolve satisfação sexual e imagem corporal, dona de casa e trabalhadora”, explica Lia Carvalho.

Enquanto isso, nos homens, em muitos casos, a prostatectomia, que é a retirada da próstata, traz alterações mais limitadas à função sexual e ao papel de cônjuge. Nesse contexto, a pesquisadora da UFPB destaca que geralmente as mulheres sofrem mais prejuízos em comparação aos homens.

O estudo foi realizado em um hospital de referência no estado da Paraíba para tratamento de câncer, localizado em João Pessoa. A coleta dos dados ocorreu em um período de seis meses, entre junho e novembro de 2019. Participaram da pesquisa 305 pacientes, separados em dois grupos: 102 com câncer de mama em quimioterapia e 101 com câncer de próstata em radioterapia.

Para chegar a esses resultados, foram utilizados, na pesquisa, dois instrumentos para avaliar qualidade de vida: o European Organization for Research and Treatment of Cancer Quality of Life Questionnaire (EORTC QLQ-C30) e seu módulo complementar denominado Quality of Life Questionnaire-Breast Cancer, mais um instrumento para analisar o nível de adesão, o Questionário de Determinantes de Adesão.

Rede de cuidados

No ponto de vista da pesquisadora da UFPB, a adesão ao tratamento dos cânceres de mama e de próstata pode ser estimulada ou fortalecida através da promoção da qualidade de vida dos pacientes.

Na avaliação de Lia Carvalho, é imprescindível que profissionais, sobretudo enfermeiros, que dispõem de maior contato com o paciente e a sua família, estabeleçam um vínculo com responsabilidade, com vistas a acolher o usuário e suas respectivas demandas, identificando suas reais necessidades e aspectos mais afetados pela doença e seu tratamento, tornando possível a elaboração de um plano de cuidados singular.

Outro ponto importante para a doutoranda da UFPB é a promoção da saúde com foco na educação ao usuário, no sentido de fornecer orientações pertinentes, em tempo oportuno, sobre a doença, modalidades de tratamento e os cuidados para prevenir complicações, fluxo de atendimento nos serviços, entre outras informações necessárias.

Na esfera das políticas públicas em saúde, a pesquisadora acredita ser necessário o fortalecimento de uma rede de cuidados à pessoa com câncer, sendo devidamente estabelecida uma linha de cuidados que desenhe o itinerário terapêutico desse paciente, sendo essa devidamente eficaz.

Atualmente, Lia Carvalho trabalha em um projeto de tese que pretende construir e validar um protocolo clínico de enfermagem para pacientes com câncer em tratamento de radioterapia.

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Reportagem: Pedro Paz
Edição: Aline Lins
Crédito da imagemReprodução/Veridiana Scarpelli - SAÚDE é Vital