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Pesquisa da UFPB revela degradação de um dos principais destinos do ecoturismo no país

Expansão da agropecuária causou impactos na bacia do rio da Prata, entre 1986 e 2016
publicado: 30/09/2020 22h46, última modificação: 02/10/2020 00h53
Exibir carrossel de imagens A área banhada pelo rio da Prata, mais especificamente na cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul, foi classificada 15 vezes como melhor destino de ecoturismo do Brasil, pela revista Viagem e Turismo, sendo 12 delas consecutivas. Foto: Fernando Maidana

A área banhada pelo rio da Prata, mais especificamente na cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul, foi classificada 15 vezes como melhor destino de ecoturismo do Brasil, pela revista Viagem e Turismo, sendo 12 delas consecutivas. Foto: Fernando Maidana

Pesquisa da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) revela que a expansão da agropecuária provocou a degradação da bacia do rio da Prata, no Sudoeste do Mato Grosso do Sul, um dos principais destinos do ecoturismo no país, entre 1986 e 2016. 

Há três décadas, a vegetação nativa dos biomas Cerrado e Mata Atlântica, em uma área de 1.393 km² entre os municípios de Bonito e Jardim, vem sendo destruída por conta do avanço desenfreado da agricultura e da pecuária.

A identificação das mudanças do uso e ocupação do solo na área foi baseada em séries temporais do satélite Landsat 5 e de Object-Based Image Analysis (OBIA) - análise de imagem baseada em objeto, no estado do Mato Grosso do Sul, em uma região localizada na transição dos biomas Cerrado e Mata Atlântica. 

Segundo o doutorando do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFPB, Elias Cunha, a bacia do rio da Prata passou por um rápido processo de degradação nas últimas décadas, devido a várias demandas de ordem econômica, perdendo rapidamente sua integridade ambiental e biótica. 

“Inicialmente, com a pecuária extensiva, que era atividade dominante no estado do Mato Grosso do Sul, até o início dos anos 1970. E, recentemente, pela agricultura, com destaque para lavouras de milho e soja, que se desenvolvem nas áreas antes ocupadas por pastagens”, conta o pesquisador. 

De acordo com Elias Cunha, o crescimento das áreas agrícolas ocorreu exclusivamente nas nascentes e no banhado, que são as áreas mais importante da bacia do rio da Prata. O avanço das monoculturas agrícolas na região do banhado foi influenciado por a região ter características que favorecem as atividades agropastoris, como relevo plano e solo com boa aptidão agrícola. 

“A região do banhado é considerada um dos ecossistemas mais importantes da bacia do rio da Prata, pois desempenha um papel ambiental fundamental. Ela é responsável pelo armazenamento de água e filtragem de sedimentos que, associados com o calcário depositado nessa região alagada, garantem a transparência e a qualidade da água”, explica o doutorando da UFPB. 

O professor Richarde Marques, do Departamento de Geociências da UFPB, também cooperou para a pesquisa. Ele esclarece que a bacia do rio da Prata destaca-se, do ponto de vista fisiográfico, por estar na transição do Planalto da Bodoquena e na Depressão Pantaneira. 

“Embora esteja inserida no bioma Cerrado, sofre influências da transição com a Mata Atlântica, no último remanescente dessa floresta estacional no interior do Brasil. Estes aspectos lhe conferem peculiaridades ambientais riquíssimas ligadas aos aspectos geológico-geomorfológicos, devido ao relevo de natureza cárstica e tufas calcárias e, sobretudo, à fauna e à flora”, elucida o docente da UFPB. 

Conforme Richarde Marques, tais características proporcionaram uma ocupação pautada, inicialmente, na exploração da pecuária extensiva e monocultura agrícola favorecidas pela abundância dos mananciais e solo fértil e, em seguida, pelo turismo, com destaque para o ecoturismo. 

O professor da UFPB relata que a área banhada pelo rio da Prata, mais especificamente a cidade de Bonito, foi classificada 15 vezes como melhor destino de ecoturismo do Brasil, pela revista Viagem e Turismo, sendo 12 delas consecutivas. 

“A intensificação das áreas de monocultura agrícolas e pecuária extensiva na região tem levado a crescentes níveis de degradação e contaminação dos recursos naturais, acarretando sérios desequilíbrios ambientais, comprometendo, muitas vezes, a viabilidade econômica das atividades”, alerta Richarde Marques. 

Redução da vegetação nativa 

Celso Guimarães, professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UFPB e orientador da pesquisa, afirma que a expansão da agropecuária teve impacto direto na redução da vegetação nativa (banhado, cerrado, mata ciliar, floresta estacional semidecidual e campos graminosos úmidos) dos biomas Cerrado e Mata Atlântica, nas últimas décadas, sobretudo nos últimos anos. 

Na concepção do doutorando do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFPB, Elias Cunha, o estudo subsidia ações que podem contribuir para conciliação das atividades agrícolas com a conservação ambiental na região. 

“Podemos destacar a cooperação entre os setores governamentais, institutos de pesquisa e iniciativas privadas para a criação de ações com planejamento e gestão integrada, considerando que as atividades turísticas desenvolvidas na bacia do rio da Prata estão diretamente relacionadas à alta biodiversidade e qualidade da água”, sugere o pesquisador. 

Para ele, a substituição da vegetação nativa pela agricultura, principalmente na área do banhado, pode afetar a permanência do ecoturismo e causar impactos futuros na economia das cidades de Bonito e Jardim. 

O professor Richarde Marques adianta que um artigo está em processo final de avaliação pela revista Land Use Policy, reconhecido periódico internacional que trata de metodologias e políticas sobre análise das mudanças do uso e ocupação do solo. 

Na publicação, os pesquisadores da UFPB apresentarão resultados de cenários futuros de uso e ocupação do solo para a bacia do rio da Prata que comporão a tese de doutorado do Elias Cunha.   

A pesquisa que revela a degradação da bacia do rio da Prata entre 1986 e 2016 foi publicada, na forma de artigo, na renomada revista internacional Environmental Monitoring and Assessment, da área de ciências ambientais. 

Atualmente, os grupos de pesquisas liderados pelos professores da UFPB, Celso Guimarães e Richarde Marques, desenvolvem pesquisas nas áreas de recursos hídricos e geoprocessamento, em parceria com grupos de pesquisa internacionais do Vietnã e da Índia. Interessados nesses estudos devem entrar em contato pelo e-mail celso@ct.ufpb.br.

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Reportagem e Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB