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Pesquisa na UFPB desenvolve novo modelo para sustentabilidade da caatinga

Combinação de vegetação natural e ecossistemas transformados pelo homem é mais eficiente
publicado: 07/08/2020 22h26, última modificação: 07/08/2020 22h26
Resultados do estudo mostraram que integração intermediária entre homem e natureza produz mais água, energia e alimentos na caatinga. Foto: Helder Araujo/Reprodução

Resultados do estudo mostraram que integração intermediária entre homem e natureza produz mais água, energia e alimentos na caatinga. Foto: Helder Araujo/Reprodução

O artigo “A sustainable agricultural landscape model for tropical drylands”, com pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), fornece novo modelo de paisagens agrícolas sustentáveis para a região semiárida da caatinga brasileira. 

No estudo “Um modelo de paisagem agrícola sustentável para áreas secas tropicais”, em tradução livre, os pesquisadores avaliaram como diferentes coberturas das paisagens (naturais, agrícolas e degradadas) na caatinga influenciam a manutenção de água no solo, a criação de energia a partir da biomassa e a produção de alimentos derivados das práticas agropecuárias. 

“Em áreas secas do mundo, a água no solo limita os processos biológicos e a produção de alimentos. No entanto, a manutenção dessa água em solos também está associada à cobertura e à densidade da vegetação, que são afetadas pela extração de madeira para produção de energia”, explica Helder Araujo, professor da UFPB e um dos autores do trabalho. 

O estudo foi conduzido por pesquisadores da UFPB, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), da Associação Plantas do Nordeste e da Universidade de Miami (Estados Unidos) e contou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

Segundo Helder Araujo, como as ofertas de água, energia e alimento estão interligadas, as análises precisam ser avaliadas simultaneamente e não individualmente, como tem sido a prática até agora. 

“Os resultados do estudo mostraram que paisagens com complexidade de estrutura intermediária (ou seja, aquelas que combinam vegetação natural e ecossistemas transformados pelo homem) são as mais eficientes para produzir água, energia e alimentos na caatinga”, destaca o professor da UFPB. 

Os pesquisadores atestaram, no artigo, que o acréscimo de coberturas naturais na paisagem da caatinga brasileira aumentou a produção de energia de biomassa, de alimentos e de água no solo. 

“No entanto, a produção de água estabilizou quando a cobertura natural atingiu mais de 80% da paisagem. Também a safra de alimentos diminuiu no momento em que o revestimento natural ocupou mais de 50% da paisagem”, diz Helder. 

Para o professor da UFPB, o estudo forneceu quatro práticas que podem orientar o planejamento de paisagens agrícolas sustentáveis em áreas secas tropicais. A primeira foi que a manutenção de grandes áreas de vegetação natural ou restaurada é importante para paisagens agrícolas sustentáveis. 

Já a segunda diz respeito à diversidade de culturas agrícolas, à rotação de culturas e à agricultura mista em sistemas agropecuários. Elas podem ser adotadas nas propriedades rurais e têm potencial de alcançar altos rendimentos produtivos nas áreas secas. 

Por sua vez, a terceira revela que áreas degradadas devem ser evitadas nas paisagens. Elas comprometem os serviços ambientais e geram custos socioambientais altos para a população local. 

Finalmente, o estudo apontou que as paisagens agrícolas sustentáveis requerem grandes áreas para conservação. É necessária, consoante os pesquisadores, uma integração sistêmica delas com os sistemas de produção. 

“Os resultados apontam que a legislação brasileira precisa ser atualizada, se o país deseja atingir o desenvolvimento sustentável de atividades agropecuárias em terras secas. As seguranças hídrica, alimentar e energética devem ser aproveitadas e planejadas a longo prazo nas regiões tropicais secas”, argumenta Helder. 

De acordo com o professor da UFPB, no estudo, percebeu-se que o aumento da porcentagem de cobertura agrícola na paisagem aumentou a produção de alimentos. Mas, afirma Helder, a manutenção de água no solo diminuiu quando essa cobertura atingiu 35% da paisagem. 

No artigo, os pesquisadores constataram ainda que as produções de água, energia e alimento diminuíram quando a porcentagem de áreas degradadas aumentou na região. 

Eles apontam que a melhoria do cenário requer mais conservação, incluindo restaurar áreas degradadas. Também salientam a necessidade de maior diversificação e adequação das práticas agrícolas e que os planejamentos, para a produção e conservação das unidades territoriais, integrem distintas propriedades rurais. 

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Reportagem: Jonas Lucas Vieira | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB