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Pesquisa na UFPB desvenda êxito do combate à Covid-19 no leste asiático

Trabalho analisa experiência de dez países da Associação de Nações do Sudeste Asiático
publicado: 11/08/2020 22h37, última modificação: 11/08/2020 22h37
Estudo comparado demonstra que memória recente da SARS e medidas rápidas e severas surtiram efeito. Na imagem, registro da campanha do Governo do Vietnã, que lançou cartazes e pôsteres pelas ruas da capital Hanói. Foto: Vietnannet.vn

Estudo comparado demonstra que memória recente da SARS e medidas rápidas e severas surtiram efeito. Na imagem, registro da campanha do Governo do Vietnã, que lançou cartazes e pôsteres pelas ruas da capital Hanói. Foto: Vietnannet.vn

Pesquisa desenvolvida no Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) revela que países do leste da Ásia obtiveram alguns dos melhores resultados no enfrentamento à pandemia da Covid-19. 

O trabalho “Experiências exitosas de combate à pandemia no Sudeste Asiático” foi realizado pelo professor Renan Holanda e analisou dados, registrados até 31 de maio, da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) na região. 

“Foi o epicentro inicial de proliferação da Covid-19, mas, mesmo assim, é a região do mundo que vem apresentando alguns dos melhores índices de recuperação. Desvendar as razões por trás desse relativo sucesso foi o objetivo da pesquisa”, explica o professor da UFPB. 

Renan Holanda conta que o trabalho focou as análises em dez países integrantes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean): Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Singapura, Tailândia e Vietnã. 

“Algumas das principais economias emergentes estão localizadas nessa região, que também abriga países com populações relativamente grandes, como Indonésia (273,5 milhões), Filipinas (109,5 milhões) e o Vietnã (97 milhões). Investigar as experiências desses países no combate à Covid-19 é fundamental”, destaca. 

De acordo com o professor da UFPB, a metodologia da pesquisa se dividiu em três partes. Primeiro, analisou-se a experiência prévia que diversos países da região adquiriram durante a epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), no início do século XXI. 

“No Sudeste Asiático, Singapura e Vietnã foram os mais afetados. A adoção de protocolos rígidos nas unidades de saúde, a aferição de temperatura em locais de grande circulação de pessoas, bem como o uso de máscaras e álcool em gel foram algumas das medidas postas em prática na época”, diz Renan. 

Essa experiência anterior, acredita o professor da UFPB, fez com que as populações de grande parte dos estados asiáticos tivessem,  quando surgiu a Covid-19, uma recente memória coletiva quanto ao que deveria ser feito para frear a disseminação do vírus. 

Holanda conta que, em segundo lugar, o trabalho dele analisou comparativamente o combate à Covid-19, a partir das medidas tomadas pelos dez membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático. 

Entre janeiro e maio, intervalo de tempo da pesquisa do professor da UFPB, a cidade-estado de Singapura registrou a maior quantidade de casos (34.366), com 23 mortes. Indonésia (25.773 casos) e Filipinas (17.224 registros) foram os que mais tiveram pessoas mortas, durante o período analisado, na região: 1.573 e 950, respectivamente. 

Nos meses de análise do trabalho de Renan, três países não registraram mortes: Vietnã, Laos e Camboja. Outros quatro tiveram menos de 100 óbitos: Brunei (2), Mianmar (6), Singapura (23) e Tailândia (57). 

“A análise comparada demonstrou que, além da memória recente da SARS, muitos desses países foram bem-sucedidos porque implementaram medidas de forma rápida e severa. De maneira geral, a taxa de óbitos por milhão de habitantes foi consideravelmente baixa no Sudeste Asiático, ficando em 8,67 nas Filipinas e 5,75 na Indonésia”, atesta o professor. 

Como comparação, Holanda evidencia que, em 31 de maio, o Brasil tinha 498.440 casos confirmados e 28.834 mortes, resultando em mais de 100 mortes por milhão. Nos Estados Unidos, segundo o professor, a taxa era superior a 300, e países como Itália, Espanha e Reino Unido tinham mais de 500 mortes por milhão de habitantes no período. 

Por fim, a pesquisa de Renan Holanda investigou o caso do Vietnã, país considerado um exemplo de sucesso no combate ao novo coronavírus. 

“Antes mesmo do primeiro caso da Covid-19 ser registrado no país, o governo colocou em prática um plano de emergência. A capacidade de testagem também foi ampliada: de janeiro a abril, subiu de três para 112 o número de laboratórios aptos a realizarem testes”, argumenta. 

O trabalho na UFPB ainda mostra que a estratégia de rastreamento de contatos e de quarentena supervisionada em áreas com casos registrados foi fundamental. Ela permitiu concentrar os recursos da rede de saúde no tratamento de pacientes mais graves. 

“Adicionalmente, o caso do Vietnã reforça a relevância do pleno engajamento social, desde o respeito às regras de isolamento até a mobilização da arte para fins de conscientização”, finaliza o professor. 

Os resultados da pesquisa foram apresentados no seminário “Relações Internacionais em transformação: das crises estruturais aos cenários pós-pandemia”, promovido pelo Departamento de Relações Internacionais da UFPB e disponível no canal do Youtube. 

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Reportagem: Jonas Lucas Vieira | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB