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Pesquisador da UFPB assina carta de alerta para risco de novas doenças no país

Documento assinado por 25 cientistas brasileiros foi publicado no periódico The Lancet
publicado: 30/09/2020 19h12, última modificação: 30/09/2020 19h12
De acordo com os especialistas, no cenário brasileiro, o aumento da vulnerabilidade social e da degradação ambiental eleva o risco de infecções transmitidas de um animal para os seres humanos. Foto: Andrey Smirnov/AFP/Getty Images

De acordo com os especialistas, no cenário brasileiro, o aumento da vulnerabilidade social e da degradação ambiental eleva o risco de infecções transmitidas de um animal para os seres humanos. Foto: Andrey Smirnov/AFP/Getty Images

O pesquisador do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Rafael Raimundo, é um dos autores de carta que alerta para risco da emergência de novas doenças no país. O documento, assinado por 25 cientistas brasileiros, foi publicado no periódico The Lancet, uma das revistas científicas de maior prestígio na área biomédica.

De acordo com os cientistas, a perda da biodiversidade, a expansão das atividades humanas em áreas de matas e florestas e o consumo de animais silvestres como recurso alimentar ou em práticas exotéricas foram alguns dos principais facilitadores de surtos recentes de doenças infecciosas, tais como ebola, Nipah e arboviroses, patógenos transmitidos por insetos.

Para os pesquisadores, no cenário brasileiro, o aumento da vulnerabilidade social e da degradação ambiental eleva o risco de infecções zoonóticas, transmitidas de um animal para os seres humanos. Assim, a emergência e a reemergência de agravos, incluindo a febre Oropouche, hantaviroses, doença de Chagas e febre amarela, são consideradas sinais de alerta.

No ponto de vista dos especialistas, a progressiva flexibilização das leis de proteção, o desmantelamento das instituições ambientais, o desrespeito às evidências científicas e os ataques às organizações de conservação do meio ambiente são fatores que contribuem para o aumento do desmatamento, uso indevido de pesticidas e comércio ilegal de animais selvagens.

“Todas essas ações representam um grande retrocesso nas políticas socioambientais, o que abre novas portas para o surgimento de zoonoses e impacta negativamente tanto a biodiversidade como a saúde pública, colocando milhões de pessoas em risco”, afirmam os autores da carta.

O fortalecimento do sistema público de saúde brasileiro, incluindo o paradigma da saúde única, que contempla a saúde humana, animal e ambiental, é apontado, no documento, como o caminho para enfrentar o problema.

Nesse sentido, os pesquisadores defendem a criação de um sistema integrado de vigilância e monitoramento de doenças silvestres, com forte colaboração intersetorial. Além disso, enfatizam a necessidade de cooperação multilateral e transfronteiriça.

Considerando a pandemia da Covid-19, infecção causada pelo novo coronavírus, os cientistas afirmam que a doença “representa um argumento irrefutável da necessidade de integrar a conservação da biodiversidade, a inclusão social e a resiliência econômica, por meio de cadeias socioprodutivas inovadoras e sustentáveis”.

“A ciência e a justiça social precisam ser aplicadas como instrumentos para a transformação da formulação de políticas ambientais e de saúde”, concluem os cientistas na carta.

Prevenção

De acordo com o pesquisador do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente da UFPB, Rafael Raimundo, a publicação está relacionada a um projeto de síntese, de natureza multi-institucional, desenvolvido no Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entidade ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações para incentivo à pesquisa no Brasil.

O projeto é institucionalmente liderado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sendo que professores da UFPB integram o grupo que coordena as ações, tanto o professor Rafael Raimundo, quanto a docente Ana Carolina Lacerda, do Departamento de Sistemática e Ecologia da UFPB.

“Esse projeto tem como objetivo compreender e prever como a convergência da degradação ambiental e vulnerabilidade social criam condições para emergência de surtos e epidemias de doenças tropicais negligenciadas”, explica o professor da UFPB.

Segundo Rafael Raimundo, a equipe trabalha com a integração de teorias ecológicas, evolutivas e socioeconômicas, dentro da abordagem One Health (Saúde Única), para combinar grandes conjuntos de dados sobre meio ambiente e desenvolvimento humano e avançar no entendimento dos processos que geram epidemias de doenças negligenciadas

Atualmente, o grupo está trabalhando em indicadores de risco epidêmico para o Brasil, buscando fomentar a formulação de políticas públicas que contribuam simultaneamente para a conservação da biodiversidade e para o desenvolvimento humano.

A carta de alerta para risco de novas doenças no país é assinada por dez pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade de São Paulo (USP), da UFPB e do Centro para Sobrevivência de Espécies do Brasil (Center for Species Survival Brazil/IUCN-SSC).

O documento conta ainda com o apoio de 15 especialistas de instituições nacionais e internacionais, entre elas a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

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Reportagem e Edição: Pedro Paz, com informações de Comunicação/Instituto Oswaldo Cruz
Ascom/UFPB