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Pesquisador da UFPB investiga comportamento de escorpiões para evitar acidentes

Ação humana desestrutura habitat, provocando ocorrências
publicado: 20/03/2020 18h40, última modificação: 20/03/2020 20h16
Com serviço médico escasso no interior, letalidade da picada é maior para crianças e idosos. Foto: Divulgação

Com serviço médico escasso no interior, letalidade da picada é maior para crianças e idosos. Foto: Divulgação

Um estudo desenvolvido pelo Laboratório de Entomologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) investiga o comportamento e ecologia de escorpiões, além de averiguar como isso pode afetar comunidades humanas, sobretudo no sertão brasileiro. A proposta é do doutorando Welton Dionisio, sob orientação dos pesquisadores Marcio Bernadino e André Felipe. 

De acordo com o pesquisador, entender a dinâmica populacional desses aracnídeos é importante, visto que diversas pessoas vivem em torno do ambiente desses organismos e podem ser vítimas de acidentes escorpiônicos. “Diferente das metrópoles, as populações desse estudo estão inseridas em cidades mais interioranas, com serviço médico mais escasso, tornando esses acidentes mais perigosos principalmente para crianças e idosos”, conta Welton. 

A pesquisa será realizada em quatro anos, analisando, nesse período, as variações ambientais - especialmente do solo - e como elas influenciam a distribuição geográfica, abundância, competição, atividade reprodutiva, forma e tamanho desses animais. 

Para realizar o trabalho científico, as espécimes e informações ambientais estão sendo coletadas em seis localidades no estado de Pernambuco, em um gradiente da Floresta Atlântica à Caatinga e durante as estações seca e chuvosa, sendo esta última crucial para compreender como o regime de chuvas pode tornar esses animais mais ou menos ativos. 

Além disso, também serão utilizados dados globais coletados por sistemas de Informação geográfica para compreender a distribuição dessas espécies ao longo de todo o território nacional. Após a coleta, alguns animais são levados vivos para o laboratório, para experimentos comportamentais que visam investigar as práticas reprodutivas e competitivas, observando suas respostas a indivíduos da mesma espécie e de espécies diferentes, respectivamente. 

Também serão realizadas medições da forma e tamanho desses animais à procura de variações e de possíveis causas ambientais para elas. Todos os animais são criados no biotério do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN) da UFPB, mesmo local onde são realizados os experimentos, em João Pessoa.

Em 2019, o Hospital Estadual de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga, em Campina Grande, no Agreste paraibano, atendeu de janeiro a julho, 1.216 casos de pessoas picadas por escorpião. 

Ação humana desestabiliza habitat 

A Caatinga é uma floresta tropical sazonalmente seca do Brasil, de clima semiárido com baixa incidência de chuva no ano e um período seco prolongado. Durante esse período, a maioria da vegetação perde suas folhas e os recursos alimentares e de abrigo para os animais são escassos. Assim, diversos organismos que vivem sob o solo utilizam buracos, naturais ou próprios, como refúgio térmico. 

Apesar disso, estudos têm indicado que as perturbações ambientais no solo têm afetado a qualidade deles e, consequentemente, a prevalência de animais nesses locais que passam a ter solos mais compactos, pobres de minerais, e com menor infiltração de água. Contudo, pouco se sabe sobre a dinâmica populacional e os efeitos do solo e climático sobre vários desses organismos terrestres. 

Entre esses animais, estão os escorpiões que são importantes predadores, têm alta densidade, especificidade de micro-habitat e são sensíveis às variações ambientais; características que os tornam ideais para estudos ecológicos e comportamentais em pequena e larga escala, como o que é proposto. 

Entender como as variações ambientais influenciam esses animais ajuda a entender não só o passado, mas o futuro deles em cenários diversos de alterações ambientais e como isso poderia afetar a população humana”, relata Welton. 

Carlos Germano | Ascom/UFPB