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Pesquisador da UFPB propõe mais planejamento urbano no pós-pandemia

Ações sustentáveis, inclusão das periferias e menos tributação são defendidas
publicado: 22/05/2020 19h05, última modificação: 22/05/2020 19h16
Em artigo científico, Geovany Jessé Silva pondera que densidade demográfica não é condição impositiva para contágio por Covid-19. Na imagem, panorama da cidade de João Pessoa. Crédito: Secom-JP/Arquivo/Felipe Gesteira

Em artigo científico, Geovany Jessé Silva pondera que densidade demográfica não é condição impositiva para contágio por Covid-19. Na imagem, panorama da cidade de João Pessoa. Crédito: Secom-JP/Arquivo/Felipe Gesteira

Um artigo publicado pelo professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Geovany Jessé Silva, em parceria com o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) Bruno Padovano, no Jornal da USP, intitulado “Pandemia e urbanismo” convida pesquisadores a pensarem no problema trazido pela pandemia do Covid-19 e buscarem soluções a partir do conhecimento científico, de forma a planejar o pós-pandemia.

O artigo nasceu das discussões travadas dentro de um grupo de pesquisa on-line que envolve especialistas brasileiros e estrangeiros em Design, Arquitetura e Urbanismo e a Equipe Designers Arquitetos Urbanistas em Rede (DAU).

Conforme o artigo, “o urbanismo, uma atividade de planejamento e projeto de cidades, sempre esteve bastante atrelado aos avanços no campo das ciências médicas e biológicas, dando respostas às formas e infraestruturas para sustento e organização das cidades, a sua militarização, a engenharia sanitária. Como o urbanismo lidou, no passado, com pandemias desse tipo, é uma das perguntas para as quais os pesquisadores buscam resposta”.

Os autores destacam que pestes, epidemias e pandemias têm acompanhado o processo de expansão das redes urbanas no mundo. O artigo cita que os surtos de doenças vêm castigando as populações desde as primeiras cidades, há cerca de dez mil anos, inclusive pelo adensamento humano e precárias condições sanitárias, como a peste negra (peste bubônica), que no século XIV matou mais de 200 milhões de pessoas, a gripe espanhola, que matou aproximadamente 50 milhões de pessoas.

A proposta do trabalho, segundo o professor Geovany Jessé Silva, foi mostrar precedentes históricos de outras pandemias que a humanidade enfrentou e apontar caminhos. “A ideia é chamar as pessoas para discutir ideias e desenvolver pesquisas, sensibilizar a sociedade de que tem que investir em tecnologia e conhecimento e fazer com que esse conhecimento chegue à população”.

Ele acredita que a pandemia vai gerar, por exemplo, uma crise econômica muito forte e será preciso ações mais sustentáveis, de menor impacto ambiental e de inclusão das periferias e redução de tributação. “Planejamento urbano é isso, é a gente antecipar os problemas e tentar agir”.

O pesquisador pondera que o conhecimento sobre a Covid-19 ainda é muito limitado, portanto, são necessários mais estudos. “A gente ainda não sabe qual o grau de infecção pelo ar, pelo esgoto, pela água, vai depender muito de pesquisa, informações, dados coletados, porque determinadas regiões têm mais contágios que outras. Manaus, por exemplo, se é o clima de lá favorece o contágio. Então está tudo muito incerto, demandam pesquisas para estabelecer protocolos e projetos de construção”.

O pesquisador da UFPB avalia que a relação de densidade demográfica não é uma condicionante impositiva para o contágio da Covid-19. Ele observa que, apesar das cidades asiáticas serem extremamente adensadas, lá eles conseguem conter a epidemia devido a um maior cuidado interpessoal, comportamento social que decorre de outros históricos de pandemias recentes.

“A gente tem um espaço entre as edificações e as pessoas que é diferente do asiático, do indiano. As cidades norte-americanas são as mais espalhadas no mundo, dez ou 20 habitantes por hectare. Mesmo assim está tendo um contágio maior que em Seul, capital da Coreia do Sul, uma cidade altamente adensada. Aqui em João Pessoa a gente tem 60 habitantes por hectare”.

O professor Geovany Jessé Silva detalha que as cidades possuem áreas mais compactas e outras menos. “Tem áreas de Barcelona (Espanha) que têm 800 a mil habitantes por hectare, enquanto aqui no Brasil nossas cidades têm na faixa de 100, 120 habitantes por hectare. No Centro Histórico de João Pessoa, há menos de 20 pessoas por hectare, ou seja, tem área construída, mas tem pouca gente morando lá. Você vai para o condomínio Gervásio Maia, são 120 pessoas por hectare. Na comunidade São José, tem 250 a 300 habitantes por hectare”.

Conforme o artigo, “conceitos contemporâneos como ‘cidades inteligentes’ (smart cities) e ‘cidades compactas’ (compact cities), como as preconizadas por urbanistas contemporâneos como Richard Rogers, deveriam ser reavaliados em função de dados empíricos constantemente atualizados e, ao mesmo tempo, retroativos, para evitar a criação de modelos incompatíveis com a complexidade territorial que se observa nas diversas regiões do planeta”.

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Reportagem: Aline Lins | Edição: Pedro Paz

Ascom/UFPB