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Pesquisadora da UFPB alerta sobre vida precária das cuidadoras de crianças com zika

Negligência de companheiro, falta de transporte e de medicamento dificultam dia a dia
publicado: 27/12/2019 11h43, última modificação: 27/12/2019 11h43
Mães, avós, tias, primas, amigas e vizinhas se ajudam para enfrentar adversidades. Crédito: Martha Ysis Cabral

Mães, avós, tias, primas, amigas e vizinhas se ajudam para enfrentar adversidades. Crédito: Martha Ysis Cabral

A pesquisadora Martha Ysis Cabral, do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos (PPGDH) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), alerta sobre a intensificação da vulnerabilidade, no interior da Paraíba, das mulheres cuidadoras de crianças com síndrome congênita do zika.

Por meio da dissertação "Resistir e re-existir na epidemia: mulheres cuidadoras de crianças com síndrome congênita do Zika no interior da Paraíba", a pesquisadora aponta que as mulheres já viviam uma situação de precarização da vida mesmo antes da epidemia.

“A vulnerabilidade que era pré-existente se intensificou. Essas mulheres viviam em lugares em que o Estado pouco se faz presente, como zonas rurais ou nas periferias das cidades”, salienta.

A pesquisa foi realizada no Ambulatório de Microcefalia, dentro do Hospital Pedro I, na cidade de Campina Grande. Foram 34 mulheres entrevistadas, entre outubro de 2016 e maio de 2017, correspondendo a 44% das mulheres cuidadoras que levavam as crianças para os atendimentos no local.

Nesse cenário, mais de 70% das cuidadoras viviam com um esposo ou companheiro, mas menos de 20% possuíam ajuda deles para compartilhar os cuidados com as crianças.

As cuidadoras denunciaram ainda a falta de transporte seguro para as idas até o ambulatório especializado, ausência de medicamentos nos postos de saúde e as dificuldades de disponibilização das medicações de alto custo.

Além disso, as mulheres que trabalhavam com registro formal eram proibidas, pela legislação brasileira, de solicitar o Benefício de Prestação Continuada (BPC) enquanto recebiam o salário-maternidade, dificultando o acesso a melhorias financeiras para elas cuidarem das crianças.

Em setembro deste ano, o governo federal editou a Medida Provisória 894/2019 para instituir uma pensão indenizatória às crianças afetadas pelo Zika. “No entanto, os critérios de concessão são tão restritos que não me espantaria se a maioria delas não conseguir”, afirma a pesquisadora.

Rede de amparo

Durante a pesquisa, Martha Ysis Cabral comenta que o mais comum foi o estabelecimento de uma rede de amparo criada por mães, avós, tias, primas, amigas e vizinhas que se revezavam nas unidades de saúde, mesmo que de forma esporádica.

Elas também trocavam muitos conhecimentos acerca da síndrome congênita do zika.“O quadro era bastante incerto. As mulheres comparavam os sinais da síndrome que cada criança tinha e compartilhavam dicas sobre cuidados, como identificar convulsões e diversos sintomas. Elas descobriram o que é a síndrome do zika na rotina do cuidado, antes até da gente na universidade”, enfatiza.

Para a pesquisadora, existia falta de informação, pois a política de saúde estatal focava a prevenção exclusivamente no combate ao vetor e deixava de divulgar, por exemplo, que o zika vírus pode ser transmitido via sexual. “É possível verificar pontos controversos na política estatal, desde os primeiros meses da epidemia”, ressalta.

Jonas Lucas Vieira | Ascom/UFPB