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Pesquisadores da UFPB aplicam método inovador para medir nível de seca na Índia

Técnica poderá auxiliar gestão dos recursos hídricos de um dos países mais populosos do mundo
publicado: 14/09/2020 23h23, última modificação: 14/09/2020 23h53
No estudo, os pesquisadores da UFPB fizeram uma análise geoespacial de severidade de seca no estado de Odisha, na costa oriental indiana, entre 1983 e 2018. Crédito: Celso Guimarães e Richarde Marques da Silva

No estudo, os pesquisadores da UFPB fizeram uma análise geoespacial de severidade de seca no estado de Odisha, na costa oriental indiana, entre 1983 e 2018. Crédito: Celso Guimarães e Richarde Marques da Silva

Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) aplicaram novo método para medir o nível de seca no estado de Odisha, na Índia, na Ásia Meridional. A seca é um fenômeno climático causado pela insuficiência de chuvas em determinada região, por um longo período de tempo.

Os resultados dessa aplicação inédita foram publicados por meio de artigo, no periódico de alto impacto Science of the Total Environment, uma das principais revistas científicas internacionais da área. No estudo, os pesquisadores da UFPB fizeram uma análise geoespacial de severidade de seca em Odisha, na costa oriental indiana, entre 1983 e 2018.

Para isso, foram utilizadas estimativas de precipitação do PERSIANN-CDR, um produto que estima dados de precipitação utilizando redes neurais. Ao todo, 30 anos de dados foram avaliados sobre todo o estado de Odisha, explica Reginaldo Brasil Neto, que é doutorando na UFPB.

Conforme o pesquisador da UFPB, o índice mensura, a partir de uma análise da frequência dos eventos secos em diferentes graus de severidade, o quão determinada região foi exposta à ação das secas ao longo do tempo.

De acordo com Celso Guimarães, professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UFPB e um dos líderes do grupo de pesquisa paraibano, os resultados indicam que os dados de chuva do satélite foram hábeis para captar o comportamento da precipitação na região e que os últimos quatro anos foram extremamente secos, se comparados a toda série histórica.

“Através do índice proposto, foi possível observar que o estado de Odisha foi mais atingido por secas de longo prazo e que esse tipo de seca ocorreu especialmente nas regiões mais chuvosas”, conta o docente da UFPB.

No ponto de vista de Reginaldo Brasil Neto, o índice de seca da UFPB se mostrou ser uma ferramenta inovadora, capaz de condensar informações complexas relacionadas à porcentagem de frequência de eventos secos e úmidos de diferentes severidades, através de um valor numérico.

“O índice poderá auxiliar a gestão dos recursos hídricos (indianos e brasileiros), por meio da delimitação de áreas de risco quanto à ação da seca”, afirma Celso Guimarães.

O professor da UFPB relata que a Índia é um país extenso e que frequentemente é atingida pelas secas. “Além das práticas de agricultura, destaca-se que este é um dos países mais populosos do mundo e avaliar os efeitos das secas nessa região contribuirá para o gerenciamento de recursos hídricos da área”.

O Estado de Odisha, com vocação agroeconômica e localizado na costa oriental da Índia, é vulnerável a eventos extremos frequentes, como ciclones, inundações e secas.

“Por exemplo, durante o período de 1951 a 2010, Odisha experimentou inundações em 35 anos, secas em 22 anos e ciclones em oito anos. Odisha é o estado mais vulnerável da Índia em relação aos extremos climáticos, o que torna necessários e relevantes o desenvolvimento de estudos e monitoramento desses extremos”, defende Celso Guimarães.

Segundo o pesquisador da UFPB, desastres naturais provocaram uma perda de aproximadamente R$ 75 milhões durante a década de 1970, que aumentou para mais de R$ 7 bilhões na última década.

“Os desastres naturais mataram mais de 50 mil pessoas em 38 anos (1970–2007) no estado. Portanto, o monitoramento da seca na região de Odisha é uma atividade essencial e necessária para o desenvolvimento de políticas e ações dos tomadores de decisão, para que possam atuar efetivamente na redução dos danos humanos e materiais decorrentes desses desastres naturais”.

Aperfeiçoamento

O método dos pesquisadores da UFPB foi divulgado para o mundo, pela primeira vez, em 2018, no periódico de alto impacto Stochastic Environmental Research and Risk Assessment, também na forma de artigo, só que aplicado à Paraíba.

Atualmente, o modelo está em fase de aperfeiçoamento e já se estima o uso em outras regiões. Reginaldo Brasil Neto está desenvolvendo sua tese considerando análise de secas sobre todo o Brasil e incluirá o método na delimitação de zonas expostas às estiagens.

Também sob a liderança do professor do Departamento de Geociências da UFPB, Richarde Marques da Silva, integram o grupo de pesquisa os pesquisadores da UFPB Thiago Nascimento e Tatiane Gomes Frade.

Colaborou para o estudo o pesquisador indiano Manoranjan Mishra, que é professor do Departamento de Gerenciamento de Recursos Naturais e Geoinformática da Universidade Khallikote, estado de Odisha, na Índia.

Os professores da UFPB Celso Guimarães e Richarde Marques da Silva são pesquisadores de produtividade nível PQ-1 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Suas pesquisas envolvem as áreas de recursos hídricos e geoprocessamento e já renderam muitos artigos, vários deles em periódicos internacionais de alto impacto. Interessados em estudos nesses campos do conhecimento devem entrar em contato pelo e-mail celso@ct.ufpb.br.

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Reportagem e Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB