Você está aqui: Página Inicial > Contents > Notícias > Pesquisadores da UFPB criam composto sintético promissor no combate ao câncer
conteúdo

Notícias

Pesquisadores da UFPB criam composto sintético promissor no combate ao câncer

Nos testes, tumores regrediram com menos efeitos colaterais e sem causar inflamação
publicado: 26/10/2020 19h33, última modificação: 26/10/2020 19h33
A UFPB busca parceria com empresas farmacêuticas ou de biotecnologia para a realização de experimentos do composto A398 em seres humanos. Na imagem, a reprodução de células cancerígenas. Foto: Maurizio de Angelis/Science photo library/Getty Images

A UFPB busca parceria com empresas farmacêuticas ou de biotecnologia para a realização de experimentos do composto A398 em seres humanos. Na imagem, a reprodução de células cancerígenas. Foto: Maurizio de Angelis/Science photo library/Getty Images

Um composto anticancerígeno desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) levanta a possibilidade de cura para alguns tipos da doença. O A398, como foi chamado o composto, já foi patenteado pela universidade, que busca parceria com empresas farmacêuticas ou biotecnológicas para a realização de testes em seres humanos. A pesquisa tem a colaboração de pesquisadores do Instituto Butantan, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

O coordenador do estudo e professor do Departamento de Biotecnologia da UFPB, Demetrius Araújo, que se dedica a pesquisar o assunto há pelo menos dez anos, destaca que, apesar de o estudo ser uma relevante contribuição no combate ao câncer, não se pode afirmar que o composto, que só foi testado em laboratório até agora, representa a cura da doença.

Além disso, ele acrescenta que é difícil haver uma única droga que sirva para os muitos tipos de câncer existentes. “Em todo o mundo, tem se buscado uma perspectiva de cura, mas é muito difícil. São muitas vacinas sendo testadas, procedimentos cirúrgicos, radioterapia, enfim, existe um arsenal muito grande contra uma doença de grande complexidade.”

Demetrius Araújo explica que o composto é uma molécula sintética (totalmente produzida em laboratório) que tem origem a partir da estrutura química da podofilotoxina, uma molécula natural e muito tóxica extraída de uma planta.

Essa toxina, já usada há muitos anos no tratamento do câncer, causa fortes efeitos colaterais (neurológicos e para o sistema renal do paciente, por exemplo). Junto com o professor do Departamento de Química da UFPB, Petrônio Filgueiras, o pesquisador decidiu verificar se era possível substituir alguns elementos da estrutura da podofilotoxina e manter a ação anticancerígena.

Após testes laboratoriais em camundongos e em células que mimetizam determinadas células do organismo humano, fase pré-clínica do estudo, a descoberta foi animadora: os tumores – em fase aguda ou inicial – regrediram consideravelmente, com muito menos efeitos colaterais, em casos variados, a exemplo do câncer de mama e alguns tipos de leucemia.

Outra revelação positiva foi que o composto A398 não tem efeito inflamatório, comum em muitas drogas usadas contra células cancerígenas. “Isso é um ganho para o conforto do paciente, que já está debilitado pelo tratamento”, comemorou o coordenador do estudo. No entanto, ele alerta que os resultados ainda precisam ser comprovados em humanos, fase clínica do estudo.

Quanto a uma possível parceria para o desenvolvimento dos testes clínicos, Demetrius Araújo mostrou-se otimista. “Os resultados, que foram criteriosamente analisados, são muito bons. Nosso grupo de pesquisadores deu a contribuição da descoberta. O conhecimento obtido na UFPB, com essa pesquisa, gerou um produto útil para a sociedade. Agora, para a pesquisa avançar, precisamos de parceria com alguma empresa interessada em desenvolver os testes.” 

Os testes clínicos, que, a princípio, seriam realizados em voluntários saudáveis para, somente depois, no caso de resultados favoráveis, incluírem pacientes com a doença, precisam ser autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Dependendo do progresso dos testes, essa fase clínica pode durar, em média, de três a cinco anos, até que os fármacos possam finalmente ser disponibilizado para pacientes com câncer. Interessados na pesquisa devem entrar em contato pelo e-mail demetrius@cbiotec.ufpb.br.

* * *
Reportagem: Milena Dantas | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB