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Pesquisadores da UFPB criam substância que pode curar arritmia cardíaca

Diferente de outros fármacos, porfirina com manganês não reduz força contrátil do coração
publicado: 13/03/2020 15h12, última modificação: 13/03/2020 15h59
Patente da molécula inovadora está sob análise no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), no Rio de Janeiro. Foto: Angélica Gouveia

Patente da molécula inovadora está sob análise no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), no Rio de Janeiro. Foto: Angélica Gouveia

Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) descobriram que a porfirina, uma molécula sintética desenvolvida em laboratório, pode ser usada para prevenção e tratamento de arritmias cardíacas, sem afetar a função contrátil do coração.

O invento está em processo de solicitação de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), do Ministério da Economia, mas continua com os estudos em andamento. Conforme os autores da descoberta, o diferencial dessa porfirina é o fato de não ocasionar o efeito colateral de redução da força contrátil do coração.

“Ela promoveu efeito antiarrítmico, mas manteve a força de contração do coração normal. Então, ela nos chamou mais a atenção por causa disso, ela promoveria um efeito tão bom quanto outros fármacos que já estão na pesquisa clínica, porém sem os efeitos colaterais associados”, explica um dos pesquisadores, o professor Enéas Gomes, do Departamento de Biotecnologia, localizado no Instituto de Pesquisa em Fármacos e Medicamentos da UFPB.

As porfirinas são uma classe de compostos que estão na natureza, como por exemplo nas proteínas. Mas o tipo de porfirina utilizado na pesquisa tem sua estrutura modificada com o acréscimo de um metal, o manganês, resultando em uma molécula estável.

“No centro da porfirina a gente coloca um metal, esse é um diferencial em relação a muitos candidatos a fármacos que estão no mercado, pois o nosso sistema é inorgânico, tem um metal no meio, então tem potenciais de redução e oxidação diferentes de outros compostos que são puramente orgânicos”, explica Júlio Santos Rebouças, professor do Departamento de Química da UFPB e também pesquisador responsável pela descoberta.

Até o momento, os experimentos foram realizados em animais. Além dos professores Enéas e Júlio, a pesquisa é assinada por vários especialistas, entre professores e alunos: Andrezza Miná Barbosa, Carla Maria de Lima Vasconcelos, Jader dos Santos Cruz, José Ferreira Sarmento Neto, Diego Santos Souza, Demétrius Antônio Machado de Araújo, Silvia Carolina Guatimosim Fonseca, Fagner Dayan de Lima Gomes, José Evaldo Rodrigues de Menezes Filho e Itamar Couto Guedes de Jesus. 

Descoberta por acaso

O professor Júlio Rebouças conta que a descoberta aconteceu de forma inesperada. O intuito inicial não era procurar um fármaco para arritmia. “Estávamos preocupados com um problema de ciência básica, que era saber por que quando eu injeto essas porfirinas em alguns animais, há uma queda de pressão sanguínea. Não pensávamos em uma repercussão muito além de responder a esse problema”, revela o pesquisador.

Hoje, o objetivo do invento é a proteção cardíaca associada à redução das concentrações de cálcio intracelular e de espécies reativas de oxigênio, visando sua aplicação tanto na medicina humana quanto veterinária. A proteção cardíaca ocorre por ação direta da porfirina nas células musculares cardíacas, reduzindo os níveis intracelulares de cálcio sem afetar a função contrátil.

De acordo com a descrição do trabalho, a substância foi desenhada para ser uma molécula mimética da superóxido desmutase (SOD), sendo suas características antioxidantes amplamente caracterizadas e discutidas. As ações dessa porfirina diretamente em cardiomiócitos ventriculares ainda não haviam sido exploradas.

Segundo Júlio Rebouças, a pesquisa precisa ser refinada um pouco mais, ampliando as discussões com grupos da cardiologia. Mas ele destaca que o principal diferencial de efeitos seria para pessoas que possuem arritmias associadas à disfunção contrátil. “Essas são as pessoas que estão entre os piores prognósticos, hoje em dia, porque as drogas antiarrítmicas também pioram a função contrátil”, diz Júlio.

Segundo os professores, embora a pesquisa já esteja em fase de depósito da patente, aguardando homologação, as investigações ainda precisam esclarecer, por exemplo, os caminhos pelos quais as moléculas estão exercendo os seus efeitos, definir dosagem, entre outras questões. O professor Enéas disse que as expectativas para o amadurecimento do estudo são boas.

“A gente, agora, desenhou um conjunto de novas perguntas, por meio dos cruzamentos de diferentes tipos de porfirinas, para entender melhor, tentar alcançar por quais caminhos essa molécula está exercendo isso, e a partir daí fica mais fácil a gente propor a utilização como um fármaco, entendendo a ação primária e os motivos pelos quais essa ação é executada. O grande salto que queremos dar é que o que nós conseguimos desenvolver aqui possa melhorar a vida das pessoas, esse é o grande ponto do avanço da ciência”, afirma o professor Enéas.

Ascom/UFPB