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Pesquisadores da UFPB registram primeiro caso de canibalismo entre serpentes na caatinga

Observação ocorreu no município de Natuba, no Agreste da Paraíba, entre dois machos adultos
publicado: 24/04/2020 17h09, última modificação: 24/04/2020 17h09
Comportamento pode ser resultado do desmatamento na região. Foto: Divulgação

Comportamento pode ser resultado do desmatamento na região. Foto: Divulgação

Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) documentaram a primeira observação de canibalismo entre serpentes do tipo Thamnodynastes Phoenix, no bioma Caatinga. O registro aconteceu em 28 de junho do ano passado, no município de Natuba, no Agreste da Paraíba, entre dois machos adultos.

A pesquisa, publicada em 7 de abril, na revista austríaca Herpetozoa, foi desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental do Centro de Ciências Aplicadas e Educação (CCAE) da UFPB, em Rio Tinto, no Litoral Norte, pelos pesquisadores Frederico França, Mayara Morais, Paula Araújo e Renato Costa.

Essa espécie de serpente é conhecida na região como “cobra rainha” ou “cobra espada” e se alimenta principalmente de sapos. O estudo sugere que o canibalismo possa ser influenciado pela falta de recursos causados por condições abióticas extremas e pelos hábitos oportunistas da espécie.

Conforme a pesquisa, esse comportamento pode ser considerado uma estratégia para controle demográfico ou uma resposta à fome e ao estresse pelas condições naturais. Além disso, o registro foi feito em um habitat considerado o mais seco e com a menor taxa de precipitação do bioma Caatinga, o que leva ao estresse, escassez e imprevisibilidade de recursos.

De acordo com um dos pesquisadores, o professor Frederico França, a descoberta fornece um acréscimo importante ao conhecimento das relações predador-presa, principalmente no aspecto ecológico, considerando a escassez de dados sobre a dieta de serpentes das regiões semiáridas do Brasil e particularmente do gênero Thamnodynastes.

Essa Thamnodynastes Phoenix foi descrita em 2017, era um bicho desconhecido até então e ganhou um nome muito recentemente. Conhecer mais sobre a espécie em termos ecológicos é superimportante. Outra coisa é que levanta hipóteses para a gente tentar entender se o local está propício ou não para o animal sobreviver. Isso é importante em termos de conservação”, explica.

O canibalismo já foi identificado em outras espécies no Brasil, mas nunca na Caatinga e nunca com essa espécie, de acordo com o professor, que pretende voltar ao local para analisar se outros animais apresentariam esse tipo de comportamento.

A gente discute um pouco que quando os bichos têm algum problema, estão em lugares onde estão pressionados por algum motivo, poluição, desmatamento, eles tendem a apresentar comportamentos que não são esperados. O local passa por um processo de desmatamento, então isso pode causar o canibalismo, os bichos ficam sem alimentação, ficam sem ambiente para sobreviver”, completa.

No momento da observação, a cabeça da presa foi totalmente ingerida. As serpentes foram coletadas 45 minutos depois, quando a presa era comida pela metade. A presa foi ingerida após uma hora e não houve regurgitação. Os animais foram levados ao Laboratório de Ecologia Animal da UFPB, também em Rio Tinto.

O predador foi dissecado para exame de conteúdo estomacal após ser sacrificado. As duas serpentes foram depositadas na Coleção Herpetológica da UFPB. As cobras foram coletadas sob licença do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)”, conta o pesquisador.

O gênero Thamnodynastes compreende 20 espécies e tem registros na América do Sul. No Brasil, 12 espécies são reconhecidas e seis delas podem ser encontradas no Norte e Nordeste do país. São cobras terrestres e noturnas, exibindo reprodução vivípara que pode viver em uma variedade de habitats.

A Thamnodynastes phoenix está associada a muitos tipos de cerrado, mas predominantemente à formação da Caatinga no Nordeste do Brasil, do estado do Ceará ao norte de Minas Gerais.

Ascom/UFPB