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Pesquisadores da UFPB substituem ratos por peixes-zebra em experimentos

O animal é o segundo mais utilizado em testes de laboratório no mundo
publicado: 26/05/2020 17h33, última modificação: 26/05/2020 18h20
O peixe, agora produzido em biotério da UFPB, apresenta semelhanças com humanos e tem sido imprescindível para estudos sobre drogas e remédios anticâncer. Crédito: Reprodução/DICYT/Autor Desconhecido

O peixe, agora produzido em biotério da UFPB, apresenta semelhanças com humanos e tem sido imprescindível para estudos sobre drogas e remédios anticâncer. Crédito: Reprodução/DICYT/Autor Desconhecido

Um animal vertebrado ainda pouco conhecido e que vem ganhando espaço nos estudos científicos é um peixinho de aquário chamado peixe-zebra (Danio rerio), também conhecido como zebrafish ou paulistinha. Apesar do anonimato, já é o segundo animal mais utilizado em experimentação em todo o mundo e a utilização de seus embriões é considerada uma alternativa ao uso de animais vertebrados. 

Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) passaram a utilizá-lo no lugar de ratos para pesquisas e experimentos em laboratórios. “O peixe-zebra, um dos animais de laboratório mais utilizados no mundo, agora é produzido em biotério da UFPB”, conta o coordenador da Unidade de Produção de Organismos Modelo Não Convencionais (Unipom) da instituição, professor Davi Farias. 

Davi Farias explica que o peixe-zebra adulto possui entre quatro e cinco centímetros de comprimento e listras pretas e brancas horizontais. Além disso, conforme o pesquisador da UFPB, é um peixe originário de rios do sul da Ásia, que atinge rapidamente a maturidade sexual (em 90 dias de vida) e as fêmeas podem produzir até 200 embriões a cada dez dias. 

“Os embriões são grandes (1mm) e translúcidos, o que favorece o acompanhamento do seu desenvolvimento. Em três ou quatro dias, o peixe-zebra já possui todos os órgãos formados. Além disso, 70% dos genes humanos têm um equivalente em peixe-zebra e 85% dos que são alvos de estudos sobre drogas também estão presentes nele”, conta Farias. 

O professor da UFPB ressalta que os atributos do peixe-zebra e o baixo custo de manutenção dele (por exemplo, é até cinco vezes mais barato produzi-lo do que um camundongo) têm sido fundamentais no desenvolvimento de estudos científicos. “Desde a compreensão do vício em drogas até o desenvolvimento de novos medicamentos anticâncer”, acentua Davi. 

No Brasil, a produção do peixe-zebra ainda é incipiente e restrita às regiões Sul e Sudeste do país. Laboratórios dos Departamentos de Biologia da UFPB criaram a unidade de produção para desenvolver um biotério dedicado exclusivamente à produção do peixe-zebra - que iniciou as atividades em 2018, após inspeção da Comissão de Ética no Uso de Animais da UFPB. 

“Atualmente, há mais de 500 peixes adultos, de duas linhagens (AB e wild type), divididos em 30 tanques com tratamento e monitoramento da qualidade da água e da saúde dos animais. Seguimos todas as recomendações do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal para criação e experimentação com peixe-zebra”, enfatiza Davi. 

Apesar do grande número de métodos alternativos disponíveis, o uso de vertebrados ainda é imprescindível para algumas áreas da ciência devido à sua elevada complexidade biológica e semelhança com os humanos. 

Segundo dados do Annual Statistics of Scientific Procedures on Living Animals Great Britain, em 2018, somente no Reino Unido, mais de 73% dos procedimentos científicos utilizaram camundongos, o que resultou em aproximadamente 2,5 milhões de experimentos e pesquisas na ciência.    

O pesquisador Davi Farias pondera que, nas últimas décadas, a ciência tem substituído o uso de animais vertebrados por métodos alternativos, como modelos de computador, testes com células (in vitro) e animais invertebrados (microcrustáceos, in vivo). 

De acordo com Davi Farias, as motivações para a mudança na ciência se dão por causa de questões éticas relacionadas ao sofrimento causado nos animais e do custo para produção de espécies, como camundongos e ratos, nos laboratórios convencionais. 

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Reportagem: Jonas Lucas Vieira | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB