Você está aqui: Página Inicial > Contents > Notícias > Pesquisadores da UFPB testam esteroide ouabaína contra o Zika vírus
conteúdo

Notícias

Pesquisadores da UFPB testam esteroide ouabaína contra o Zika vírus

publicado: 29/12/2021 14h20, última modificação: 29/12/2021 14h20
Composto químico tem potencial atividade antiviral e anti-inflamatória

Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) estão avaliando a atividade antiviral e anti-inflamatória do esteroide cardiotônico ouabaína contra o Zika vírus (ZIKV) a fim de contribuir para o desenvolvimento de novas substâncias terapêuticas para o tratamento da Zika, arbovirose causada pelo Zika vírus, que é transmitido pela picada de mosquitos do gênero Aedes.

Em bioquímica, os esteroides são um composto orgânico que desempenham papel metabólico e hormonal importante. Especificamente, os esteroides cardiotônicos exercem poderosa ação sobre o miocárdio, o músculo cardíaco. A ouabaína é uma matéria originalmente extraída da planta Strophantus gratus, uma trepadeira lenhosa. No entanto, atualmente é considerada uma substância endógena presente em mamíferos, com inúmeros efeitos biológicos.

Nos experimentos do estudo da UFPB, o esteroide ouabaína será testado em células epiteliais renais de macaco, denominadas de Vero, e em neuroblastomas do tipo SH-SY5Y, linha celular derivada humana usada em pesquisas científicas. As análises ocorrerão no Laboratório de Imunobiotecnologia do Centro de Biotecnologia (Cbiotec) da UFPB, no campus I, em João Pessoa.

“Espera-se que a ouabaína (substância teste) apresente atividade antiviral contra o ZIKV e seja capaz de modular resposta imune ao vírus da Zika”, afirma Sandra Rodrigues Mascarenhas, professora do Departamento de Biologia Celular e Molecular da UFPB e coordenadora do projeto de pesquisa.

Também tese da doutoranda Deyse Carvalho, o estudo tem previsão de conclusão em 18 meses e é financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq), com recursos na ordem de R$ 40 mil, usados na compra de materiais e de reagentes químicos.

A pesquisa conta com a colaboração da doutoranda da UFPB Éssia de Almeida Lima e do professor Lindomar José Pena, vinculado ao Departamento de Virologia do Instituto Aggeu Magalhães – Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Pernambuco. Uma parceria internacional com o professor Scott Weaver, do Departamento de Microbiologia e Imunologia da University of Texas Medical Branch, nos Estados Unidos da América (EUA), está sendo firmada.

Sandra Rodrigues Mascarenhas alerta que a infecção pelo Zika vírus é considerada um problema de saúde pública mundial porque o organismo está associado a distúrbios neurológicos graves, como a Síndrome de Guillain-Barré e a microcefalia em fetos.

Foto: Propesq/Clicklab UFPB

“O ZIKV ainda circula no Brasil e, recentemente, uma nova linhagem (a africana) foi encontrada no país, ou seja, novos surtos podem acontecer. Dessa forma, a busca por substâncias capazes de bloquear a sua ação se torna essencial no combate a essa patologia”, defende a professora e pesquisadora da UFPB.

Sandra Rodrigues Mascarenhas destaca que a Paraíba registrou mais de 25 mil casos confirmados de Chikungunya, Dengue e Zika em 2021. Os dados foram divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), no dia 30 de outubro deste ano, e posiciona em estado de alerta para o aumento dos casos.

Com base na presença de mosquitos vetores competentes e clima adequado, Sandra Rodrigues Mascarenhas pontua que cientistas estimam que 2,6 bilhões de pessoas vivam em regiões do mundo nas quais pode ser estabelecida a transmissão do ZIKV.

“Em 2050, espera-se que quase metade da população mundial viva em regiões de transmissão de arbovírus atribuíveis à disseminação do Aedes Aegypti, devido à urbanização e mudanças climáticas, o que aumenta o risco de o ZIKV causar novos surtos em grande escala e epidemias”, argumenta a coordenadora do projeto de pesquisa da UFPB.

Dada a falta de vacinas e antivirais aprovados contra a infecção pelo ZIKV, a identificação de moléculas antivirais potenciais é interessante para a prevenção de novos surtos. Existem outros grupos pelo mundo avaliando a atividade de esteroides cardiotônicos contra inúmeros vírus, no entanto, de acordo com a pesquisadora, as pesquisas com a ouabaína e arbovírus ainda são escassas.

“Caso tenhamos resultados positivos, provavelmente serão realizados novos experimentos utilizando animais (in vivo). Então, tudo dependerá dos resultados que obteremos durante o desenvolvimento do projeto”, explica Sandra Rodrigues Mascarenhas.

* * *
Reportagem: Pedro Paz
Edição: Aline Lins
Fotos: Propesq/Clicklab UFPB