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Projeto da UFPB conscientiza população para preservar serpentes

Cobras regulam teias alimentares e populações de roedores, mais nocivos aos seres humanos
publicado: 11/08/2020 19h36, última modificação: 11/08/2020 19h51
Exibir carrossel de imagens Equipe do projeto da UFPB “Educa Serpentes” atua no Instagram e prepara jogos e fantoches que serão utilizados em oficinas e cursos oferecidos para estudantes da Educação Básica. Fotos: Educa Serpentes/UFPB

Equipe do projeto da UFPB “Educa Serpentes” atua no Instagram e prepara jogos e fantoches que serão utilizados em oficinas e cursos oferecidos para estudantes da Educação Básica. Fotos: Educa Serpentes/UFPB

Após o estudante de medicina veterinária Pedro Lehmkul, de 22 anos, ser picado por uma cobra naja (género de serpentes peçonhentas da família Elapidae) criada ilegalmente, reacenderam-se os debates, no país, sobre os supostos perigos oferecidos por esses répteis poiquilotérmicos sem patas, pertencentes à subordem Serpentes ou Ophidia.

A fim de desmistificar e corrigir informações equivocadas sobre as serpentes  e mostrar a importância dessas cobras para os ecossistemas e seres humanos, o projeto de extensão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) “Educa Serpentes” tem atuado por meio da rede social digital Instagram, já que as atividades presenciais estão suspensas devido à pandemia do novo coronavírus.

Por semana, são divulgadas informações sobre duas das diversas espécies encontradas na Paraíba. A cada 15 dias, também é realizada live com especialista que trabalha com educação ambiental focada em serpentes no Brasil.

Neste momento,  a equipe do projeto, coordenada pelo professor de Ecologia Frederico França, está produzindo jogos e fantoches que serão utilizados nas oficinas e cursos oferecidos de modo presencial, para estudantes da Educação Básica.

Do mesmo modo, começaram a elaborar uma cartilha sobre acidente ofídico ou ofidismo, que é o quadro de envenenamento decorrente da inoculação de uma peçonha através do aparelho inoculador (presas) de serpentes, segundo o Sistema Único de Saúde (SUS), que também orienta sobre como prevenir e o que fazer e não fazer em caso de acidente.

“Desde que cheguei à UFPB, em 2009, pesquiso ecologia e conservação de serpentes. Assim, surgiu, oficialmente no ano passado, o Núcleo de Ecologia de Serpentes da UFPB, no campus IV, em Rio Tinto e Mamanguape, no Litoral Norte paraibano”, conta o professor.

“Primeiramente, todas as ações do núcleo eram voltadas para pesquisa, porém, em 2018, começamos a pensar em ações práticas para mudar o pensamento que a grande maioria das pessoas tem em relação às serpentes, ou seja, que são bichos pouco carismáticos, perigosos, venenosos, que só fazem mal”.

Frederico França explica que as serpentes são organismos essenciais para a manutenção saudável do meio ambiente, pois ocupam uma posição-chave nas teias alimentares e regulam, por exemplo, populações de espécies de animais que são muito mais nocivas ao ser humano, como roedores.

O projeto, também coordenado pelo docente Anderson Santos, conta com a colaboração das pesquisadoras Vanessa Barbosa, Jéssica Amaral e Mayara Vicente e dos estudantes Alerandro Silva, Élida Silva, Flávia Martins, John Medeiros, Jozyrene Silva, Mateus Dutra, Thalita Melo e Victor Silva.

Acidente ofídico

Conforme o professor da UFPB, Frederico França, o Brasil registrou 500.901 acidentes ofídicos de 2000 a 2018. Desses, 1.991 culminaram em óbito.
Somente no ano passado, foram 32.000 casos no país, 73% deles envolvendo jararacas e cascavéis, 1% corais verdadeiras, 6% cobras não peçonhentas e 5% cobras não identificadas.

Na Paraíba, ainda segundo o docente, foram registrados, de 2000 a 2018, 6.986 acidentes ofídicos, com 34 deles chegando a óbito. Em 2018, foram 427 casos, com seis óbitos e 95% das ocorrências envolvendo jararacas.

Frederico França esclarece que a maioria das espécies de serpentes são inofensivas ao seres humanos. As serpentes venenosas, que por sinal são de interesse em saúde pública, como as jararacas, são as principais responsáveis por acidentes ofídicos por serem mais abundantes e mais agressivas. Também integram esse grupo as cascavéis, surucucus e corais-verdadeiras.

“A maior parte dos acidentes ocorre no campo, quando uma pessoa está trabalhando ou andando em trilhas, sem equipamentos de segurança adequados, como botas e luvas. Existem também alguns acidentes em áreas urbanas, principalmente próximos a depósitos de lixo e entulho e a locais de armazenamento de grãos”, informa o professor.

Segundo Frederico França, esses locais comumente concentram roedores, que são alimento de jararacas e cascavéis. As formas como essas cobras peçonhentas se comportam na natureza, em grande parte imóveis, enrodilhadas e camufladas, propicia também os acidentes, acarretados também quando alguém se aventura a manusear uma serpente sem conhecimento, o que não é recomendado.

“O homem tem destruído ambientes naturais, desmatado florestas e modificado ambientes. Isso faz com que tanto as serpentes percam seus locais originais e procurem novos refúgios, como as áreas urbanas, quanto animais que são consumidos por serpentes também invadam áreas antrópicas. Dessa forma, o contato de pessoas com serpentes passa a ser maior e o risco de acidentes é agravado”, conclui o professor da UFPB.

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Reportagem e Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB