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UFPB analisa emissão de CO2 pelo solo e propõe sistema agroflorestal para recuperar áreas degradadas no Brejo da PB

publicado: 10/06/2022 15h51, última modificação: 15/06/2022 18h23
Pesquisa avaliou a liberação de dióxido de carbono desprendido do solo em sistemas sob diferentes formas de uso e cobertura da terra
Foto: José Henrique
Foto: José Henrique

O desmatamento e a exploração acelerada de recursos naturais na microrregião do Brejo Paraibano, principalmente visando a expansão agropecuária, resultaram em áreas de desgaste de solo na região. Considerando que parte do dióxido de carbono (CO2) liberado para a atmosfera é proveniente do mau uso do solo e de práticas insustentáveis, recuperar o solo para uma produção agropecuária alinhada à conservação do meio ambiente é uma das saídas para diminuir a emissão desse gás, que é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa.

Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) investigaram a adoção de manejos agrícolas que promovam a melhor conservação do ambiente edáfico, ou seja, o ambiente relacionado ao solo, no Brejo Paraibano. O objetivo foi avaliar a liberação de dióxido de carbono desprendido do solo em sistemas sob diferentes formas de uso e cobertura da terra em áreas de Brejo de Altitude na Paraíba e, assim, identificar uma prática adequada de recuperação dos solos danificados que minimize a emissão de CO2 para a atmosfera e gere oportunidades no campo para a agricultura familiar.

A pesquisa “Respiração basal do solo em sistemas de uso e cobertura da terra em uma floresta úmida de enclaves de caatinga” é de autoria de João Henrique Constantino Sales Silva, Daniel da Silva Gomes e Moisés Bittar de Araújo, alunos de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias (Agroecologia) do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias (CCHSA); e do professor Alex da Silva Barbosa, do Campus III da UFPB.

De acordo com o pesquisador João Henrique Sales, quando se trata de recuperação de solos degradados, já está compreendido que quanto menor a cobertura vegetal, mais o solo fica desprotegido, resultando em maior incidência solar e, consequentemente, na menor retenção de umidade. Assim, quanto mais degradado o solo, ocorre uma maior liberação de CO2 para a atmosfera.

“Então, quando a gente fala de recuperação de áreas, o solo quando está bem protegido, quando ele é um solo bem manejado, rico em matéria orgânica, principalmente, a gente vai ter esse sequestro de carbono, devido à mineralização da matéria orgânica no solo”, afirmou o pesquisador.

Realizada entre os anos de 2019 e 2020, no Campus III da UFPB, na cidade de Bananeiras, a pesquisa avaliou a respiração do solo em sistemas sob diferentes formas de uso e cobertura da terra, comparando os sistemas: agroflorestal, de pastagem, agricultura mandala e floresta.

Segundo João Henrique Sales, os resultados evidenciam que a implantação de um sistema agroflorestal (SAF) é a melhor opção para promover a retenção de carbono no solo, e para afirmar isso os pesquisadores compararam a respiração do solo com relação às áreas de mata nativa. A pastagem foi o sistema que mais liberou CO2.

Os sistemas agroflorestais, também conhecidos como SAFs. são formas de uso da terra que combinam vegetação nativa, como árvores plantadas em associação com culturas agrícolas em uma mesma área. Neste sistema, as árvores costumam ter papel importante na redução da degradação, melhora da qualidade do solo e da água da propriedade, entre outros.

Para os pesquisadores, a importância desse sistema está na promoção da biodiversidade, em oposição aos monocultivos. “Nos sistemas agroflorestais, a gente vai ter essa maior biodiversidade em todos os aspectos e em vários sentidos. Os SAFs promovem diversos serviços ecossistêmicos, como alimento para o ser humano, maior biodiversidade animal e vegetal, promovendo a biota do solo” explica o pesquisador.

No estudo, o sistema agroflorestal avaliado foi composto por árvores de Glicirídia, leguminosa com grande potencial agropecuário e que oferece sombra considerável, em associação com café, planta que se beneficia da sombra. Neste local o solo avaliado revelou ter uma camada de 3 a 5 centímetros de biomassa das folhas da Glicirídia e foi adubado com esterco de caprino, de ovelha e superfosfato simples, para incentivar a produção do café, visando a colheita.

O estudo levou em conta a análise da respiração do solo, temperatura e o conteúdo de água do solo para determinar qual dos tipos de sistema de uso e cobertura da terra promoveria o menor desprendimento de CO2 nas terras da região do Brejo Paraibano. A atividade microbiana foi estimada pela quantificação do dióxido de carbono desprendido no processo de respiração do solo.

De acordo com a pesquisa, as formas de uso e cobertura da terra possuem efeito direto sobre a atividade metabólica dos organismos que vivem no solo; e os fatores climáticos influenciam na dinâmica de decomposição da matéria orgânica e, consequentemente, na liberação de CO2.

Os resultados evidenciam que áreas de vegetação natural funcionam como receptoras e poços de CO2, responsáveis pela menor emissão para a atmosfera. Desta forma, os pesquisadores concordam que os resultados da pesquisa podem contribuir com a difusão dos SAFs e seus benefícios na recuperação de solos degradados, bem como na aplicação desses sistemas como alternativa produtiva de alimentos para a agricultura familiar camponesa.

“A gente acredita que os agroflorestais podem modificar de forma positiva os manejos agrícolas não apenas aqui na microrregião do Brejo, mas em todo o agreste da Paraíba. Porque, à medida que ele recupera áreas degradadas, também fornece alimentos, fornece subsídios para agricultura familiar da região”, disse João Henrique Sales.

A pesquisa contou com apoio do edital de chamada de propostas de produtividade em pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa da UFPB nº 03/2020 e foi publicada na mais recente edição do periódico Semina Ciências Agrárias, da Universidade Estadual de Londrina.

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Reportagem: Elidiane Poquiviqui
Edição: Aline Lins
Fotos: José Henrique