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Voluntários de estudo na UFPB apresentam melhora em sintomas do TOC

publicado: 08/03/2023 17h36, última modificação: 08/03/2023 17h37
Participantes também conseguiram reduzir dose de medicação para o transtorno

Voluntários de estudo na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) apresentaram melhora em sintomas do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), a partir de sessões de Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva (EMTr) realizadas no último ano. Os participantes da pesquisa também conseguiram reduzir dose de medicação para o transtorno psiquiátrico de ansiedade, caracterizado por pensamentos e obsessões que levam a comportamentos compulsivos.

“A pesquisa ainda está em fase de aplicação das sessões de estimulação, ainda não foi finalizada a coleta de dados. Portanto, os dados ainda não foram analisados. No entanto, os depoimentos dos participantes têm sido animadores, vários deles expressam melhora dos sintomas, inclusive tendo conseguido reduzir a dose da medicação que faz uso”, afirma Raíssa de Alexandria, mestranda em neurociência cognitiva e comportamento que tem conduzido o estudo, sob orientação e coorientação, respectivamente, das professoras e pesquisadoras Suellen Andrade e Adriana Ribeiro, do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFPB.

De acordo com a também médica psiquiatra no Hospital Universitário Lauro Wanderley/UFPB, até o momento o estudo conta com 23 participantes. “Mais de 100 pessoas com TOC entraram em contato e fizeram uma entrevista inicial. Mas como é necessário preencher critérios de inclusão específicos, nem todos puderam ser inseridos na pesquisa. Alguns dos critérios são ter a partir de 18 anos, estar em tratamento medicamentoso para TOC, não estar fazendo psicoterapia de base TCC (Terapia Cognitivo Comportamental) e ter um nível moderado de sintomatologia”.

Neste momento, o projeto de pesquisa está recrutando novos participantes e executando o protocolo anteriormente aplicado: três sessões de EMTr semanais, ao longo de três semanas consecutivas. “O ideal é conseguirmos a maior amostra de participantes possível, então temos em torno de mais um mês para realizarmos as sessões, e nesse tempo, não há limite quanto ao número de novos participantes, conquanto preencham os critérios de inclusão e tenham interesse em aproveitar essa oportunidade, estaremos felizes em acolhê-los na pesquisa”, garante Raíssa de Alexandria.

A médica psiquiátrica reforça que o TOC é uma doença em que obsessões, que podem ser imagens, impulsos, pensamentos, aparecem de forma intrusiva e recorrente na mente, provocando ansiedade e sofrimento. “Por exemplo, alguém pode se imaginar repetidamente esfaqueando um familiar, por mais que não tenha qualquer vontade de fazê-lo, bem como imagens incestuosas na mente ou ainda dúvidas que surgem e parecem não ter resposta”, esclarece. 

Já as compulsões, conforme Raíssa de Alexandria, são comportamentos repetitivos (mentais ou ações) realizados com a intenção de diminuir a angústia que as obsessões geram. Por exemplo, fazer uma oração, repreender o pensamento, verificar, organizar, lavar excessivamente. “Tudo isso gera muita angústia e repercute em prejuízos na vida de quem tem TOC”. 

Segundo a mestranda em neurociência cognitiva e comportamento na UFPB, a causa do TOC, assim como dos transtornos psiquiátricos como um todo, são multifatoriais e o seu aparecimento pode ser influenciado por questões de ordem genética, biológica, alterações da neuroquímica cerebral, fatores psicológicos relacionados à forma de lidar com angústias, medos e ansiedades.

“O tratamento de primeira linha inclui a TCC e o uso de medicações como inibidores seletivos de recaptação de serotonina, bem como Clomipramina [antidepressivo tricíclico que tem esse nome devido à presença de três anéis de carbono]. Infelizmente, muitos casos são refratários ao tratamento com essas duas ferramentas, motivo pelo qual a comunidade científica mantém-se empenhada em identificar outras formas de auxiliar no tratamento do TOC, e a EMTr é um desses instrumentos que vêm para somar forças”, conta a médica psiquiátrica.

Em linhas gerais, Raíssa de Alexandria explana que nosso cérebro se comunica a partir de correntes elétricas; cada contato entre um neurônio com outro é feito por estímulos elétricos, com a passagem de íons de um lado da membrana neuronal para o outro, e isso acontece naturalmente. “No adoecimento mental, circuitos cerebrais estão alterados, bem como a dinâmica dos neurotransmissores (como serotonina, dopamina, noradrenalina). Com a EMTr, uma bobina localizada sobre o crânio vai produzir um campo magnético, que por sua vez, vai influenciar na ação elétrica do nosso cérebro, ajudando a restaurar o funcionamento desses circuitos a partir da neuromodulação”.

Nesse processo, o priming é um estímulo inicial, breve, que antecede a estimulação principal. É observado que ao “preparar o terreno” cortical para receber o estímulo principal, muitas vezes há um ganho extra e melhor resposta terapêutica. “É isso que queremos avaliar com a nossa pesquisa, o quanto essa estimulação de caráter excitatório e breve pode influenciar na melhora clínica dos participantes”, revela Raíssa de Alexandria.

Algumas dificuldades na literatura relacionadas a esse tema são a heterogeneidade de protocolos, bem como das características dos participantes das pesquisas, o que fica ainda difícil generalizar os resultados. “Por isso, mantemos os esforços para tentar especificar e homogeneizar a técnica e sua aplicação”. A melhora, na prática, diz a médica, é a redução ou desaparecimento da sintomatologia e consequente redução dos prejuízos que o TOC provoca na qualidade de vida e funcionamento de quem é acometido por essa condição.

“Temos muitas ferramentas que podem ser utilizadas para tratar quem tem TOC, mas é crucial que o paciente busque ajuda. Um dos motivos da doença se arrastar por tanto tempo e nem sempre se conseguir a cura é porque a média [de tempo]  para que alguém com TOC busque ajuda e inicie o tratamento é em torno de dez anos. Não se deve perder tempo!”, alerta Raíssa de Alexandria. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 2% da população do planeta é acometida pela doença, independentemente do sexo.

A próxima etapa do estudo, ao término da aplicação das novas sessões da EMTr, é analisar cuidadosamente todos os dados da pesquisa, para que se chegue às conclusões sobre a aplicação do protocolo usado. Em seguida, será produzido artigo para publicação e divulgação. Também colaboram para o estudo as pesquisadoras Mayane Férrer, Maria Luísa Andrade, Mayza Leite, Maria Madalena Figueiredo e Laura Morgana. Quem desejar ser voluntário da pesquisa deve entrar em contato pelo e-mail draraissadealexandria@gmail.com ou pelo número no WhatsApp (81) 99556.1921.

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Reportagem: Pedro Paz
Edição: Aline Lins
Foto: Divulgação