No Fórum Universitário desta quarta (20), pesquisadora defende culturas juvenis na escola

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A professora do Departamento de Ciências Aplicadas à Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maria Alice Nogueira é a convidada da primeira edição deste ano do Fórum Universitário da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), nesta quarta-feira (20), a partir das 9h, no Auditório Professor Milton Paiva, na Reitoria, no campus-sede, em João Pessoa.

 

Em entrevista no final da tarde desta segunda (18), contou que fará uma resenha crítica de artigos que vêm sendo publicados por cientistas sociais norte-americanos, ingleses e francófonos e que atualizam, considerando a atual conjuntura, o conceito de “capital cultural”, elaborado pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930 – 2002).

 

Há anos estudiosa da manutenção da ordem social por meio do sistema escolar, a pesquisadora afirma que não caberia mais descrever o conceito de capital cultural. “Já é muito elucidado. Vou palestrar sobre o que é hoje. Começarei dizendo que é um senhor grisalho. Que tem seus 50, 60 anos. E com isso vem sofrendo uma necessidade de atualização crítica. O capital cultural contemporâneo não é mais o da realidade na qual Bourdieu o formulou, nos anos 1970. Eu refletirei isso na área de educação, no mundo da escola.”

 

Segundo a especialista, um dos principais pontos que esses trabalhos levantam é relativo ao conteúdo principal do conceito de capital cultural - o da cultura dominante, legítima, erudita. “Eu costumo dizer que é aquela cultura que mora na biblioteca, no conservatório, no laboratório, no museu; a cultura consagrada, com "c" maiúsculo.”

 

Com o desenvolvimento tecnológico e cultural nas sociedades ocidentais, nas últimas décadas, a alta cultura, para ela, foi sofrendo certa erosão. Ou seja, vem perdendo um pouco o lugar pra cultura de massas, pra indústria cultural, das mídias. “Muitas vezes não se reverencia mais aqueles templos com grandes obras de artistas consagrados.”

 

A cultura da juventude, como o Hip-hop, portanto, é, no seu ponto de vista, a nova conjuntura que impõe alguns desafios. “Isso não quer dizer que a alta cultura perdeu seu valor. Uma exposição com trabalhos do Van Gogh terá filas de gente. Por que quero ver Picasso? Se a perda do valor fosse total, teríamos uma inversão.”

 

Para Nogueira, não se trata de descartar a alta cultura. Mas de entender como rivaliza com outras formas culturais. “Balançou tudo de tal forma que o poder de distinção da alta cultura não é mais o mesmo. Antigamente reverenciávamos muito o homem que parecia uma enciclopédia ambulante. Hoje em dia convivemos com outras dinâmicas.”

 

A cultura digital tem muito a ver com isso, de acordo com a professora, e, não por acaso, está presente dentro da escola. “Cultura SMS, linguagem dos jogos, a escola tem que dar conta disso. Se quiser se aproximar do universo juvenil, terá que se apropriar dessas linguagens. É sobre tudo isso que eu vou falar no fórum.”

 

Na manhã de ontem (18), Maria Alice Nogueira participou de banca de doutorado no Programa de Pós-graduação em Educação da UFPB. “Tenho relação cientifico-acadêmica com os professores há anos, em particular com Maria Eulina Pessoa de Carvalho, atualmente a coordenadora.”

 

“Originalmente o convite foi para a banca. A orientanda da Eulina trabalha com temáticas próximas das minhas, dentro da sociologia da educação, que é a relação das famílias com a escola. Como estaria na cidade, recebi o convite do Eduardo Rabenhorst, coordenador do fórum, para palestrar. Parece que a ideia do encontro é essa; aproveitar pesquisadores visitantes.”, avalia Nogueira.

 

 

Riqueza é multidimensional

 

Segundo Maria Alice Nogueira, Bourdieu, criador de uma teoria, isto é, de um conjunto de conceitos que se articulam, tentou explicar como funciona o mundo simbólico, que se opõe ao mundo material. Trabalhou com objetos variados: religião, arte, ciência, educação, cultura. Dentro da arte, por exemplo, literatura, pintura, escultura.

 

“No decorrer da sua vida, nas suas pesquisas empíricas, pois só acreditava nos resultados de uma pesquisa de campo, foi obrigado a formular conceitos para explicar as diferentes realidades sociais com as quais se deparou. Com relação ao de capital cultural, queria sinalizar, principalmente, que a riqueza não tem uma dimensão só.”

 

Para a pesquisadora, quando a gente pensa em riqueza, geralmente consideramos apenas o material, o financeiro, a parte econômica.  “Ele quis mostrar que a sociologia tendia a ver a riqueza de modo unidimensional e que, na verdade, a riqueza, o favorecimento, o privilégio, aquilo que classifica as pessoas a partir de hierarquias, é muito mais do que posses, de recursos econômicos .”

 

Na esfera educacional, dentre os recursos culturais, está o diploma. “O diploma, que é a certificação que a escola dá para aquele que possuiu determinado nível de conhecimento, é um deles. O diploma é um capital cultural.”

Fonte: 
Pedro Paz - Ascom/UFPB | Imagem: Divulgação
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