Um mundo desafiador e imprevisível para autistas

sábado, 10 de maio de 2025

O autismo é uma condição neurodesenvolvimental generalizada, caracterizada por comprometimento da comunicação e da interação social, bem como por altos níveis de comportamentos repetitivos e ritualísticos. Esta última dimensão resulta em grandes dificuldades na vida diária: relatos clínicos de indivíduos com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) mostram que essas pessoas apresentam crises como resposta à mudança, ou interesses restritos e comportamentos repetitivos para prevenir ou minimizar a mudança. Essa necessidade crucial de manter a invariabilidade sugere diferenças substanciais na forma como o cérebro autístico prevê o ambiente e isso pode ter um papel fundamental no déficit revelado em um mundo social altamente imprevisível.

Várias linhas de evidência indicando dificuldades na geração ou no uso de previsões no TEA devido ao processamento de informações de autistas são apresentadas na revisão de Gomot e Wicker (2012). Por exemplo, diversos estudos revelaram que autistas demonstram um perfil único de habilidades cognitivas, com estratégias que dependem em grande parte dos sistemas sensoriais, em detrimento de um processamento mais integrativo, que requer uma consciência das sutilezas contextuais necessárias para a previsão. Em um nível mais elementar, autistas manifestam processamento incomum de eventos imprevisíveis, o que pode estar enraizado em uma diferença básica na forma como o cérebro se orienta em relação à mudança, incluindo novos estímulos sensoriais.

A revisão de literatura de Gomot e Wicker (2012) apresenta resultados de estudos que utilizaram técnicas de neuroimagem usadas para estudar a atividade cerebral, como Potenciais Relacionados a Eventos e Ressonância Magnética Funcional, ilustrando os mecanismos psicofisiológicos e as bases neurais subjacentes a tais fenômenos no TEA. Os autores propuseram que tal disfunção na capacidade de construir previsões flexíveis no TEA pode se originar de uma influência descendente prejudicada sobre uma variedade de processamento de informações sensoriais e de nível superior, uma hipótese fisiopatológica que se encaixa em teoria de conectividade cortical.

Durante uma tarefa auditiva ativa, pesquisa citada na revisão de Gomot e Wicker publicada em 2012 (Gomot et al., 2008) demonstrou ativação aumentada das regiões parietal inferior e pré-frontal em autistas em resposta a novos alvos (o Lóbulo Parietal Inferior, segundo pesquisa publicada em 2004 por Jaaskelainen e colaboradores, estaria envolvido no controle pré-atencional que determina a extensão em que novos estímulos não atendidos são conscientemente percebidos pela pessoa). Curiosamente, utilizando a mesma sequência auditiva, mas apresentada em condições passivas, descobriu-se que o Lóbulo Parietal Inferior foi hipoativado em crianças autistas em resposta a novos estímulos, enquanto essa mesma região foi hiperativada durante condição ativa, de acordo com outra pesquisa (Gomot et al., 2006) citada na revisão dos dois autores (figura 1, a seguir).

Figura 1. Imagem de pesquisa de Gomot et al. (2006) que abordou a detecção de alterações relacionadas a eventos auditivos por crianças autistas

Fonte: Gomot e Wicker (2012, p. 243).

A figura 1 ilustra que a atividade atípica do Lóbulo Parietal Inferior esquerdo associada à detecção de novidades em crianças autistas depende da instrução (condições expressando novo estímulo não atendido e atendido são sinalizadas com cores diferentes).

O poder das previsões reside no fato de termos a capacidade de antecipar alguns aspectos específicos do contexto, aos quais não precisamos dedicar tanta atenção, e, portanto, permanecermos com os recursos necessários para explorar nosso ambiente em busca de novidades com as quais possamos aprender e de surpresas que devemos evitar, de acordo com o artigo publicado por Bar em 2009 citado na revisão de Gomot e Wicker (2012).

Com base em evidências de Potenciais Relacionados a Eventos, Ressonância Magnética Funcional e estudos de conectividade cerebral, Gomot e Wicker (2012) propuseram que a neurofisiologia do TEA pode ser caracterizada por comprometimento na capacidade de construir previsões flexíveis. Essa incapacidade de esperar novos estímulos sensoriais e eventos pode levar a dificuldades na percepção e nas funções executivas, como flexibilidade e planejamento. Déficits na previsão também podem explicar diferenças conhecidas nos padrões de processamento de informações locais e globais e levar a uma coerência central fraca.

Comportamentos e interesses restritos e repetitivos, assim como rituais e rotinas podem ter significado adaptativo, como compensar a falha em prever eventos e regular a incerteza preservando-se a invariabilidade. No TEA, a disfunção da previsão baseada no contexto pode prejudicar a capacidade de adaptação rápida a um mundo socioemocional em constante mudança. A incapacidade de prever o futuro relevante levaria a reações estressantes e à sensação de superestimulação, para a qual o único remédio seria evitar situações sociais complexas e focar em eventos e rotinas altamente previsíveis.

O entendimento apresentado por Gomot e Wicker em 2012 foi citado por 261 pesquisas publicadas até maio de 2025.

O conteúdo anterior foi adaptado a partir da inteligência artificial criada por Nei J. C. Carneiro para que o texto a seguir fosse escrito em Linguagem Simples

Neurodesenvolvimento pode ser entendido como um processo de crescimento e amadurecimento do sistema nervoso, que inclui o cérebro, a medula espinhal e os nervos. O autismo é uma condição que reflete um neurodesenvolvimento diferente. Essa condição afeta principalmente a comunicação, a interação com outras pessoas e pode provocar comportamentos repetitivos, além do apego a rotinas. Muitos(as) autistas têm dificuldades para lidar com mudanças no dia a dia. E essas pessoas podem ter crises ou repetir ações e focar em interesses específicos para tentar evitar essas mudanças.

Esses comportamentos mostram que o cérebro de autistas funciona de forma diferente, especialmente na hora de prever o que vai acontecer no ambiente. Como o mundo social é imprevisível, isso pode dificultar ainda mais a vida de quem está no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

Uma revisão publicada pelos pesquisadores Gomot e Wicker em 2012 mostra que autistas podem ter dificuldades para criar ou usar previsões. Isso está ligado à forma como processam informações. Em vez de usar o contexto para entenderem o que está acontecendo, muitas vezes autistas confiam mais nos sentidos, como visão e audição, o que dificulta a interpretação de situações sociais.

Além disso, autistas reagem de forma diferente a eventos inesperados. Isso pode estar relacionado a uma diferença básica em como o cérebro percebe mudanças, incluindo estímulos novos como sons ou imagens.

Gomot e Wicker (2012) analisaram estudos que usaram exames de imagem para observar o cérebro, como a ressonância magnética funcional e os chamados potenciais relacionados a eventos. Esses estudos mostram os mecanismos cerebrais que explicam esses comportamentos no autismo. Segundo os autores, uma das causas pode ser a dificuldade do cérebro autístico ajustar, de forma flexível, a maneira como interpreta o que sente e percebe ao redor.

Um dos estudos citados na revisão de Gomot e Wicker publicada em 2012 (Gomot et al., 2008) mostra que, durante uma atividade com sons, autistas ativam mais certas áreas do cérebro, como o lobo parietal inferior e a região pré-frontal, quando precisam prestar atenção à novidade.

Segundo pesquisa publicada em 2004 por Jaaskelainen e outros cientistas, também citada na revisão de Gomot e Wicker (2012), o lobo parietal inferior ajuda o cérebro a decidir até que ponto um estímulo novo, que não estamos prestando atenção, será percebido de forma consciente.

Resultados de outra pesquisa (feita por Gomot e colaboradores em 2006) que integra a revisão de Gomot e Wicker (2012) identificaram que quando a mesma sequência de sons foi apresentada em situação passiva, o lobo parietal inferior e a região pré-frontal não se ativavam tanto em relação à novidade. Mas quando as crianças autistas foram submetidas à sequência de sons de maneira ativa, as mesmas áreas do cérebro foram hiperativadas em relação à novidade, conforme mostra a figura 1 (a seguir).

Figura 1 – Imagem de estudo de Gomot et al. (2006) sobre a reação de crianças autistas a novos sons

No artigo de Gomot e Wicker, publicado em 2012, esta imagem é mostrada na página 243.

A figura 1 mostra que o comportamento do cérebro de crianças autistas muda bastante quando recebem instrução. A área do cérebro chamada lóbulo parietal inferior de crianças autistas reage a sons novos de maneira diferente de crianças sem autismo. O que aparece em amarelo e verde na imagem mostra situações diferentes de percepção de novo estímulo.

Segundo um artigo de Bar publicado em 2009 que foi citado por Gomot e Wicker (2012), o cérebro pode fazer previsões sobre o ambiente. Assim não é preciso prestar atenção em tudo o tempo todo. Há menor uso de energia para perceber o que já é esperado, fazendo com que novidades como aprender algo novo ou evitar perigos possam ser o foco de atenção.

Com base em exames como ressonância magnética e testes de atividade cerebral, Gomot e Wicker (2012) afirmam que o cérebro de autistas tem dificuldade para fazer previsões flexíveis. Isso pode prejudicar a percepção, a capacidade de planejar e de se adaptar a mudanças. Também pode explicar por que autistas focam em detalhes e têm mais dificuldade para ver o quadro geral das situações.

A repetição de comportamentos, o apego a rotinas e os interesses restritos podem ser uma forma de autistas lidarem com essa dificuldade. Esses hábitos ajudam que autistas evitem surpresas e controlem melhor a incerteza, tentando manter as coisas sempre do mesmo jeito.

No autismo, a dificuldade de prever o que vai acontecer no ambiente social pode atrapalhar a adaptação a situações novas. Isso apresenta a capacidade de causar estresse negativo e a sensação de estar sobrecarregado(a). Nesses casos, evitar situações sociais e buscar rotinas bem conhecidas pode ser visto como uma forma do(a) autista se proteger.

A revisão de Gomot e Wicker, publicada em 2012, foi citada por 261 pesquisas até maio de 2025.

GOMOT, Marie; WICKER, Bruno. A challenging, unpredictable world for people with Autism Spectrum Disorder. [s. l.], 2012. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0167876011002832?via%3Dihub. Acesso em: 9 maio 2025.

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