O seguinte conteúdo foi adaptado por GRALHA, de Marcia Ditzel Goulart.
O autismo não é uma linha reta que vai do “leve” ao “grave”.
Ele é um espectro amplo e variado, parecido com uma roda cheia de cores.
Cada pessoa autista pode ter mais facilidade em algumas áreas e mais desafios em outras.
Por exemplo:
Não existe uma forma única de “ser autista”.
Cada pessoa é única, com pontos fortes e dificuldades diferentes.
Por isso, é importante não comparar nem dizer que alguém é “mais autista” ou “menos autista”.
O correto é entender quais são as necessidades e capacidades de cada pessoa.
Quando oferecemos apoio e acolhimento, as pessoas autistas podem se desenvolver, participar da sociedade e mostrar seus talentos.
Acesse a explicação de Rebecca Burgess que favorece a compreensão sobre o espectro do autismo em espanhol, inglês e outros idiomas disponíveis em ‘A Arte do Autismo – Empoderando por meio das Artes‘.
A tradução em português dessa história em quadrinhos foi elaborada por Fabio André de Oliveira Filho, estudante do terceiro período de medicina que integra o Coletivo Autista da Universidade Federal da Paraíba, conforme pode ser observado a seguir.
Título: Entendendo o espectro, apresentado por Archie.
Fala 1: A linguagem pode ser confusa para mim.
Fala 2: Posso levar mais tempo para processar conversas, quando comparado a uma pessoa típica.
Fala 3: E embora eu goste de conversar, posso demorar mais do que o esperado para responder.
Fala 4: Mas as pessoas neurotípicas também podem achar a linguagem confusa. Isso pode levá-las a terem uma percepção errônea de quem sou eu.
Fala 5: Por isso que eu gostaria de explicar o que eu quero dizer por ‘espectro’ quando nós falamos sobre o ‘espectro do autismo’.
Fala 6: Algumas vezes, quando as pessoas pensam nessa palavra, pensam que o espectro autista se manifesta da seguinte forma (continuum):
Fala 7: Um espectro muito linear que faz parecer que as pessoas vão de ‘um pouco autista’ até ‘muito autista’.
Fala 8: Hmm. Como você pode ser ‘um pouco autista’?
Fala 9: É exatamente essa linguagem subjetiva que me confunde.
Fala 10: O problema de pensar no espectro dessa maneira é que a percepção da pessoa autista também se torna linear.
Fala 11: Você é só um pouco autista, Archie.
Fala 12: Hmm. Eu ainda não entendi, você poderia ser menos subjetivo?
Fala 13: Você é muito capaz de manter uma conversa comigo e agir de maneira normal! Você não é severamente autista.
Fala 14: …E assim você perceberá, se alguém acha que você está em um dos extremos desse espectro, isto pode acontecer com frequência:
Fala 15: Archie você pode manejar tudo isso tranquilamente (situações novas, muito barulho, falta de rotina, tudo de uma vez, roupas justas ‘smart‘, muitas conversas, não faça estereotipias, tenha mais organização, não use aparatos para desestressar/fidget), você não é tão autista assim.
Fala 16: Como você pode estar cansado? Todo mundo faz isso todos os dias, você só está sendo preguiçoso.
Fala 17: Nossa, você está sendo muito dramático, supera!
Fala 18: E se você é visto no extremo desse espectro…
Fala 19: Isso pode levar algumas pessoas a rotular você como sendo absolutamente incapaz de fazer qualquer coisa.
Fala 20: Caramba, voce é mais autista do que eu pensei!
Fala 21: Eu vou reclassificar você nesse espectro… já que você é muito autista eu não acho que você deveria ter um trabalho para a sua própria segurança, tá?
Fala 22: A verdade é que, embora alguém seja neurodivergente em algumas áreas do cérebro, não será diferente de pessoa neurotípica em outras áreas cerebrais.
Fala 23: Está vendo? O espectro autista se parece mais com algo assim.
Fala 24: O espectro consiste em muitos diferentes traços ou maneiras em que o cérebro processa informações.
Fala 25: Alguns traços criam dificuldades no dia-a-dia. (tendo, portanto, diagnóstico de autismo)
Fala 26: No entanto, muitos traços são úteis no cotidiano.
Fala 27: Cada pessoa autista terá um conjunto de traços em diferentes áreas do espectro. As áreas onde eles não possuem um traço funcionam de maneira similar a de uma pessoa neurotípica, mas podem ser afetadas a depender das circunstâncias. Por exemplo, eu sou bom em puxar conversas (linguagem). Por outro lado, eu fico hiperestimulado sensorialmente em lugares lotados, isso torna o ato de conversar muito difícil para mim nesses momentos.
Fala 28: Portanto, uma outra pessoa autista pode ser muito feliz e confortável em lugares lotados e barulhentos, mas no geral tem dificuldade para conversar.
Fala 29: Você poderia dizer que amo festas!
Fala 30: O que você pode ver com esse espectro é que nem toda pessoa autista tem ‘habilidades savant‘. Ou que alguém que não consegue se comunicar verbalmente pode, ainda assim, entender o que você está falando, mas apenas precisam de uma forma diferente para se comunicar, como usando uma língua de sinais.
Fala 31: Isso mostra como nem todo autista age da mesma maneira e que todos nós somos capazes de divergir em nossas facilidades e dificuldades.
Fala 32: Algumas vezes, se alguém recebe um diagnóstico como pertencendo ao espectro do autismo e informa outra pessoa a respeito, visa compreensão e respeito pelas coisas que não consegue fazer. Mas, também espera que possam cooperar no contexto, para autistas contribuírem da melhor maneira possível com o que conseguem fazer.
Fala 33: Eu espero que, no futuro, as pessoas entendam melhor o termo espectro e continuem a respeitar as diferenças e similaridades que todos nós compartilhamos ao vivenciarmos o mundo.