Experiências de sobrecarga sensorial e barreiras de comunicação de adultos autistas em ambientes de saúde

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Conforme Strönberg et al. (2022), as necessidades de cuidados de saúde dos adultos autistas muitas vezes não são atendidas. Isto pode contribuir para piores resultados de saúde em adultos autistas em comparação com adultos não autistas. As diferenças autísticas podem não ser óbvias neste grupo devido a estratégias de compensação comportamental. Os(as) prestadores(as) de serviços relacionados à saúde podem subestimar as necessidades de apoio dos adultos autistas, levando à diminuição da qualidade dos cuidados. Ao analisar as experiências de adultos autistas podemos compreender melhor as barreiras a cuidados de saúde eficazes.

O objetivo da pesquisa de Strönberg et al. (2022) foi identificar padrões de experiências sensoriais e comunicativas que os adultos autistas consideram problemáticos em ambientes de saúde. Por meio de questionário online foi perguntado a adultos autistas e não autistas como eles vivenciavam vários ambientes médicos. Foram investigadas informações sensoriais específicas, como níveis de luz e sons de fundo, em salas de espera e outros contextos médicos, além da comunicação entre pacientes e prestadores(as) de serviços de saúde. Foi realizada análise qualitativa das respostas (texto livre) sobre ambientes sensoriais para ambos os grupos e sobre comunicação para o grupo autista.

Participaram deste estudo 98 pessoas, dentre as quais 62 eram autistas. A maior parte era composta por mulheres ou pessoas de gênero diversificado, por pessoas de meia-idade e com boa escolaridade. Os(as) participantes autistas identificaram os estímulos auditivos como um dos maiores estressores em ambientes médicos. Eles(as) discutiram o impacto dos níveis de luz e da presença de outras pessoas nos seus níveis de energia, bem como na sua capacidade de comunicação. Os(as) prestadores de serviços de saúde muitas vezes interpretavam mal seus/suas pacientes autistas, levando a uma falha na transferência de informações médicas. Os(as) participantes descreveram como esses(as) prestadores(as) subestimavam as suas necessidades, mesmo quando estavam cientes do diagnóstico de autismo. Participantes queriam que as informações fossem providas em um ritmo mais lento e com maior quantidade de detalhes para serem mais capazes de processar informações ou procedimentos médicos.

O estudo em questão contribui com informações sobre desafios sensoriais específicos e sugere que o ruído captado pela audição de autistas é particularmente problemático. Em relação à comunicação, os resultados apontam para o problema de dupla empatia, no qual as próprias limitações do(a) prestador(a) de serviço de saúde contribuem significativamente para as barreiras de comunicação. Isto ficou evidente em relação à comunicação não-verbal, na qual as expectativas do(a) prestador(a) de serviço de saúde sobre a linguagem corporal neurotípica causaram mal-entendidos difíceis de superar.

A amostra era pequena e compreendia um grupo demográfico etnicamente restrito. Assim, os resultados não são generalizáveis ​​para outras populações autistas, como adultos minimamente verbais. Também não foi investigado o estado de saúde além das condições diagnosticadas.

As consequências das barreiras sensoriais e comunicativas podem passar totalmente despercebidas quando as diferenças autísticas não são visíveis. Interações malsucedidas com o sistema de saúde podem ter enormes efeitos na saúde e na qualidade de vida de autistas. Portanto, educadores(as) e prestadores(as) de serviços de saúde podem usar as perspicazes informações fornecidas pelos participantes autistas deste estudo para informar decisões relacionadas ao treinamento de pessoal ou ao design de ambientes sensoriais.

Referência

STRÖMBERG, M. et al. Experiences of sensory overload and communication barriers by autistic adults in health care settings. Autism in adulthood: challenges and management, v. 4, n. 1, p. 66–75, 2022. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36600905/. Acesso em: 5 jul. 2024.

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