O conteúdo a seguir foi amplamente adaptado pelo GRALHA, de Marcia Ditzel Goulart.
Objetivo
Nenhum tratamento com medicamento psicotrópico tem efeito comprovado sobre os sinais centrais do autismo. O estudo retrospectivo de Mahé et. al (2025) buscou identificar quais fatores demográficos, diagnósticos e funcionais estão associados ao uso de psicotrópicos em pessoas autistas adultas.
Método
Foram analisados 391 prontuários de pessoas adultas (idade média: 28,2 ± 9,6 anos) atendidas no Centre de Ressources Autisme Centre Val de Loire. Participantes formaram três grupos:
Foi utilizada análise de regressão logística multinomial para identificar fatores relacionados ao uso de medicamentos psicotrópicos.
Resultados
Conclusão
O uso de psicotrópicos em pessoas autistas é semelhante ao observado em condições como esquizofrenia ou Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, para as quais esses medicamentos são aprovados. Os principais preditores de uso de medicamentos psicotrópicos em pessoas adultas autistas foram:
O número elevado de pessoas autistas que ingerem muitos medicamentos preocupa, pois há poucas evidências sobre a eficácia desses tratamentos para o autismo e seus efeitos colaterais podem ser importantes. Em alguns casos complexos, combinar medicamentos com mecanismos diferentes, ou usar um segundo medicamento para reduzir efeitos colaterais, pode ajudar.
Essa abordagem pode permitir sinergia terapêutica e fornecer uma resposta mais adequada às necessidades de pacientes, especialmente na presença de condições concomitantes, como ansiedade severa, distúrbios do sono, transtornos de humor, epilepsia, comportamentos autoagressivos ou comportamentos heteroagressivos. Mas essa prática deve ser exceção, pois muitas vezes a polimedicação é excessiva em pessoas autistas, às vezes sem indicações clínicas claras ou acompanhamento adequado, especialmente em pessoas autistas não verbais.
Na maioria dos casos, intervenções não medicamentosas são mais adequadas. Toda prescrição de medicamentos deve ser:
É urgente desenvolver novas intervenções psicoeducacionais e ambientais adaptadas a esses perfis específicos, evitando prescrições desnecessárias e os riscos da ingestão de vários medicamentos. O acesso limitado a profissionais treinados leva médicos a prescreverem medicamentos por falta de alternativa. Ampliar o acesso a apoios comportamentais e psicoeducacionais deve ser prioridade de saúde pública, para que o uso de medicamentos seja apenas a segunda opção, seguindo diretrizes técnicas. É essencial investir em pesquisas sobre autismo para criar tratamentos mais específicos e eficazes, alinhados à medicina personalizada, considerando a grande diversidade dessa população.
Por fim, o estudo de Mahé et. al (2025) demonstra que a coocorrência de DID, idade avançada, epilepsia, transtornos de ansiedade e humor e transtornos comportamentais externalizantes predizem o uso de medicamentos psicotrópicos em pessoas adultas autistas. A prevalência e os preditores de polimedicação nesse grupo levantam preocupações, enfatizando a necessidade de desenvolver novos apoios psicoeducacionais e promover tratamentos mais direcionados e eficazes.
Referência:
MAHÉ, O. et al. Predictors of psychotropic medication use among autistic adults. Journal of Autism and Developmental Disorders 2025, [s. l.], p. 1–12, 2025. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s10803-025-06966-x. Acesso em: 10 ago. 2025.