Quais são as experiências e percepções de docentes autistas?

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Resultados de uma pesquisa online no Reino Unido

O seguinte conteúdo, do artigo de Wood e Happé (2023), foi adaptado do texto gerado pela inteligência artificial Gralha, criada por Marcia Ditzel Goulart.

Muitos estudos já investigaram a educação de crianças e jovens autistas, além dos direitos de pessoas adultas autistas no mercado de trabalho. Mas pouco se sabe sobre professores(as) autistas.

Uma pesquisa online no Reino Unido reuniu 149 profissionais da educação autistas, incluindo docentes e demais funcionários(as) de escolas, que relataram:

  • Falta de compreensão sobre o autismo.
  • Dificuldades sensoriais no ambiente escolar.
  • Problemas de saúde mental.
  • Dilemas ao decidir se revelavam ou não o diagnóstico no trabalho.

Essas dificuldades atrapalham tanto entrar na profissão quanto permanecer nela.

Apesar disso, surgiram também experiências positivas. Do ponto de vista da justiça social, docentes autistas podem ser modelos importantes para estudantes autistas e ajudar na inclusão escolar.


Pontos principais da pesquisa

  • Há poucas pesquisas sobre docentes e outros(as) profissionais autistas nas escolas.
  • Esses(as) profissionais enfrentam dificuldades na formação, contratação, satisfação no trabalho e carreira.
  • Muitos disseram não receber apoio. Relataram que o ambiente escolar causa sobrecarga sensorial e problemas de saúde mental.
  • Alguns tinham medo de revelar que eram autistas; outros relataram experiências positivas ao fazê-lo.
  • Quando recebem apoio, docentes autistas contribuem muito para a inclusão, especialmente de estudantes autistas.

Falta de compreensão e apoio

Muitos disseram que gestores escolares não entendem o autismo nem fazem ajustes necessários. Esse foi um dos motivos para deixarem a profissão.

Ambiente escolar

O ambiente físico da escola causa sobrecarga sensorial:

  • Ruídos e dificuldade de filtrar sons.
  • Luzes fortes.
  • Aglomerações e excesso de movimento.

Isso gera exaustão ao fim do dia e até crises (meltdowns).

Saúde mental

A falta de apoio e os problemas do ambiente aumentaram os casos de:

  • Ansiedade.
  • Fadiga extrema.
  • Burnout.
  • Colapso nervoso.

Algumas pessoas desistiram da profissão por considerarem o trabalho “desgastante e destrutivo”.

Má conduta com estudantes autistas

Docentes que trabalhavam com educação especial relataram frustração ao ver o tratamento inadequado dado a estudantes autistas. Isso também levou algumas pessoas a deixarem a área.

Revelar ou não o diagnóstico

  • Algumas pessoas sofreram preconceito ao revelar que eram autistas.
  • Outras pessoas que se sentiram seguras para contar disseram que isso as ajudou a servir de modelo positivo para colegas, pais e estudantes.

Inclusão e pontos fortes

Muitas pessoas relataram que ser autista as ajudam a:

  • Entender e se comunicar melhor com estudantes autistas.
  • Ter foco intenso (hiperfoco).
  • Alcançar resultados positivos e produtivos.

Inclusão para profissionais autistas

A pesquisa mostra uma lacuna importante: faltam estudos sobre docentes autistas.

Mesmo com leis de proteção a pessoas com condições diversamente hábeis que trabalham, a realidade mostra que esses(as) profissionais ainda não recebem apoio suficiente. Isso representa uma perda de potencial humano.

A inclusão escolar só será completa se também houver inclusão para profissionais autistas.

É preciso:

  • Incluir a temática nos programas de formação docente.
  • Orientar líderes escolares a apoiar profissionais neurodivergentes.
  • Reconhecer não apenas as dificuldades, mas também as forças e habilidades únicas de docentes autistas.

Quando bem apoiadas, essas pessoas podem:

  • Facilitar a inclusão de estudantes com necessidades educacionais especiais.
  • Ser referência positiva para estudantes autistas.
  • Contribuir com dedicação e competência em diversas áreas.


Mais detalhes sobre a pesquisa de Wood e Happé (2023)

  • Falta de compreensão e apoio: Participantes que haviam deixado a profissão de docência destacaram particularmente a “total falta de compreensão” e a ausência de adaptações razoáveis necessárias que marcaram seu tempo trabalhando em escolas, especialmente em relação aos gestores escolares;
  • Ambiente: Talvez sem surpresas, dada a associação do autismo com hiper ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais (Bogdashina, 2016), o ambiente físico impactou significativamente participantes deste estudo. Ruídos, incluindo a incapacidade de filtrar sons de fundo, luzes fortes, movimentação geral e multidões surgiram como questões particularmente difíceis, levando à “sobrecarga sensorial”, exaustão ou sensação de “despedaçamento” após o dia escolar, chegando até a provocar crises intensas (meltdowns);
  • Problemas de saúde mental: Os dados indicaram uma correlação significativa entre a falta de apoio e as dificuldades ambientais enfrentadas por trabalhadores(as) autistas nas escolas, além de problemas de saúde mental e ansiedade, resultando em altos níveis de fadiga e até burnout. Para certos(as) ex-funcionários(as), essa foi uma razão para deixar a profissão, já que o trabalho se tornou “destruidor de alma” e até proporcionou colapso nervoso para participantes do estudo;
  • Tratamento inadequado de estudantes autistas: Para trabalhadores(as) em funções de Necessidades Educacionais Especiais e Deficiências (NEED), principalmente aqueles(as) que trabalham especificamente com autismo, houve evidências de frustração e sensação de injustiça em relação ao modo como estudantes autistas às vezes eram tratados(as), o que também esteve ligado às razões para deixarem a profissão;
  • Problemas ao revelar o diagnóstico de autismo: Algumas pessoas experimentaram reações depreciativas e preconceito após revelarem seu diagnóstico, o que impactou negativamente seu bem-estar e emprego no setor. Certos(as) participantes, especialmente aqueles(as) ainda atuando em escolas e que se sentiram à vontade para compartilhar sua condição autista, consideraram que ofereciam um modelo positivo para colegas, pais e estudantes autistas;
  • Facilitando a inclusão: Apesar das dificuldades de comunicação em aspectos do trabalho com colegas, participantes do estudo sentiram que conseguiam entender, empatizar e comunicar-se particularmente bem com estudantes autistas e com NEED. Além disso, consideraram que o fato de serem autistas lhes conferia habilidades específicas, como “hiperfoco”, levando a “resultados positivos e produtivos”.

Conclusão


A falta de pesquisas sobre trabalhadores(as) autistas em escolas representa uma lacuna significativa na área, que este estudo começa a abordar. Embora algumas questões, como dificuldades de comunicação e lidar com complexidades sociais, bem como aspectos positivos relacionados ao espectro autista como atenção aos detalhes, persistência e forte ética de trabalho, tenham sido destacadas na literatura mais ampla sobre autismo e emprego (Scott et al., 2017; Vincent, 2020), há escassez de estudos aprofundados sobre a natureza única do ambiente escolar.

Isso acontece apesar de pesquisas consideráveis sobre as dificuldades enfrentadas por crianças autistas nas escolas (Ashburner, Ziviani e Rodger, 2008; 2010; Brede et al., 2017) e dos direitos bem estabelecidos de trabalhadores(as) com condições diversamente hábeis (ADA 1990; CRPD [UN DESA] 2006; Autism Act 2009; Equality Act 2010). Aparentemente, a legislação isoladamente não tem possibilitado o florescimento de trabalhadores(as) autistas, resultando em “uma grande deficiência e um desperdício de potencial humano” (Hendricks, 2010, 131).

Como esperar incluir efetivamente estudantes com condições diversamente hábeis se não apoiamos a condição, diversidade e inclusão no corpo escolar? Além disso, o estudo revela a necessidade de maior consideração às necessidades de professores(as) autistas em programas de formação e da oferta de orientações para líderes escolares sobre como apoiar trabalhadores(as) neurodivergentes em todas as equipes. A preocupação com os custos da população autista e o foco nas limitações em relação ao emprego têm feito com que o potencial e as necessidades específicas de profissionais autistas recebam atenção limitada (Richards, 2012; Moore, Kinnear e Freeman, 2020).

De forma animadora, o estudo de Wood e Happé (2023) indica que, quando educadores(as) autistas são compreendidos(as) e apoiados(as), podem oferecer uma contribuição única às escolas, facilitando a inclusão de estudantes com NEED, sendo modelos para estudantes autistas e fornecendo expertise em diversas disciplinas e funções. Devemos, portanto, fazer mais para compreender, apoiar e viabilizar o recrutamento, a formação, o desenvolvimento profissional e o bem-estar dessa importante, mas até então negligenciada, população.

OBS.: O conteúdo ‘Mais detalhes sobre a pesquisa de Wood e Happé (2023)’ foi ligeiramente adaptado do artigo em questão, além de traduzido por Perplexity.

Referência:

WOOD, R.; HAPPÉ, F. What are the views and experiences of autistic teachers? Findings from an online survey in the UK. Disability and Society, [s. l.], v. 38, n. 1, p. 47–72, 2023. Disponível em: https://ndconnection.co.uk/resources/p/what-are-the-views-and-experiences-of-autistic-teachers. Acesso em: 22 ago. 2025.

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