Por que o estudo de Raymaker et al. (2020) foi feito?
O burnout autista (ou autístico) é muito discutido entre autistas, mas não foi formalmente abordado por pesquisadores. É uma questão importante para a comunidade autista porque é descrita como causadora de sofrimento, com prejuízos no contexto do trabalho, da escola, da saúde e da qualidade de vida, podendo até levar a comportamento suicida.
Qual foi o objetivo do estudo de Raymaker et al. (2020)?
O estudo em questão teve como objetivo caracterizar o burnout autista, entender como é, o que as pessoas acham que o causa e o que ajuda as pessoas a se recuperarem ou prevenirem. É um primeiro passo para começar a compreender o burnout autístico bem o suficiente para abordá-lo.
O que os(as) pesquisadores fizeram?
O grupo de pesquisa de Raymaker et al. (2020) -Parceria Acadêmica do Espectro do Autismo em Pesquisa e Educação- utilizou uma abordagem de pesquisa participativa baseada na comunidade com a comunidade autista em todas as fases do estudo. Foram analisadas nove entrevistas do referido estudo sobre emprego, dez entrevistas sobre burnout autístico e 19 fontes públicas da internet (cinco em profundidade). Foram recrutados participantes nos Estados Unidos da América por meio de divulgação nas redes sociais, boca a boca e por conexões comunitárias. Ao serem analisadas as entrevistas foi contemplado o que as pessoas expuseram e em um contexto social mais profundo, procurando nos dados temas fortemente expressivos.
Quais foram os resultados do estudo?
As principais características do burnout autístico foram exaustão crônica, perda de habilidades e tolerância reduzida a estímulos. Participantes descreveram o burnout como causado por fatores de estresse da vida que se somaram à carga cumulativa que experienciaram, bem como a barreiras que proporcionaram incapacidade de obter alívio da carga vivenciada. Essas pressões fizeram com que as expectativas superassem as habilidades, resultando em burnout autista. A partir disso, Raymaker et al. (2020) criaram a seguinte definição: burnout autista é uma síndrome resultante do estresse crônico da vida e de uma incompatibilidade entre expectativas e habilidades sem suporte adequado. Esse burnout específico é caracterizado por exaustão generalizada e de longo prazo (normalmente mais de três meses), perda de função e tolerância reduzida a estímulos. Participantes descreveram impactos negativos em suas vidas, abrangendo saúde, capacidade de vida independente, qualidade de vida e comportamento suicida. Eles(as) também discutiram a falta de empatia por parte de pessoas neurotípicas. Participantes tiveram ideias para promover a recuperação do burnout autista, incluindo aceitação e apoio social, folga/redução das expectativas e interações sem mascaramento (atuando de maneira autenticamente autística).
Como essas descobertas são somadas ao que já era conhecido?
Agora há dados mais explícitos sobre o burnout autista, que se refere a um conjunto claro de características e é diferente do burnout ocupacional e da depressão clínica. A partir dos resultados da pesquisa, existe um início de modelo que explica o motivo pelo qual o burnout autista pode acontecer. E como foram identificadas pessoas que conseguiram recuperar-se do burnout autista, houve identificação das suas estratégias.
Quais são os potenciais pontos fracos do estudo?
Esse pequeno estudo exploratório teve amostragem por conveniência. Embora Raymaker et al. (2020) tenham trazido alguma diversidade ao serem utilizadas três fontes de dados, trabalhos futuros beneficiariam a área ao entrevistarem uma gama mais ampla de participantes, especialmente aqueles que não são brancos, têm maiores necessidades de apoio e têm níveis de escolaridade muito elevados ou muito baixos. Mais pesquisas são necessárias para entender como medir, prevenir e tratar o burnout autista.
Como essas descobertas ajudarão os adultos autistas agora ou no futuro?
Os achados dessa pesquisa validam a experiência de pessoas adultas autistas. Compreender o burnout autístico pode levar a maneiras de ajudar a aliviá-lo ou preveni-lo. As descobertas podem ajudar terapeutas e outros profissionais a reconhecerem o burnout autista, bem como os perigos potenciais de ensinar pessoas autistas a mascararem traços autistas. Os programas de prevenção ao suicídio devem considerar o papel potencial do burnout. Essas descobertas destacam a necessidade de reduzir a discriminação e o estigma em torno do autismo e da deficiência.
Referência
RAYMAKER, D. M. et al. “Having all of your internal resources exhausted beyond measure and being left with no clean-up crew”: defining autistic burnout. Autism in adulthood: challenges and management, v. 2, n. 2, p. 132–143, 2020. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32851204/. Acesso em: 31 maio 2024.