Conforme Chapple et al. (2021), embora pesquisas tenham destacado consistentemente a utilidade dos textos narrativos para o desenvolvimento social, isto não foi totalmente explorado com adultos autistas. Há muito se supõe que autistas não têm compreensão social para contemplar a ficção, preferindo a não-ficção.
Este estudo teve como objetivo explorar os hábitos de leitura autorreferidos de adultos autistas em comparação com adultos neurotípicos, levando em conta demandas educacionais mais elevadas. Foi utilizado um desenho qualitativo, com 43 participantes (22 autistas; 21 neurotípicos) preenchendo um questionário sobre hábitos de leitura e posterior entrevista semiestruturada.
Os participantes neurotípicos tenderam a preferir a ficção, com os participantes autistas não mostrando preferência entre ficção e não-ficção. Quatro temas foram identificados a partir dos dados das entrevistas (1) escolhas de materiais de leitura; (2) investimento no texto; (3) compreensão social do texto; e (4) leitura como dispositivo social de aprendizagem. Ambos os grupos relataram evidências de empatia, tomada de perspectiva e compreensão social durante a leitura. O grupo autista adicionalmente relatou resultados de aprendizagem social decorrentes da leitura.
Os resultados contradizem suposições anteriores de que os indivíduos autistas carecem da compreensão social exigida pela ficção. Em vez disso, os resultados mostram que os benefícios sociais dos textos narrativos se estendem aos leitores autistas, proporcionando importantes experiências de aprendizagem social.
As descobertas deste estudo contestam suposições anteriores de que autistas não gostam de ficção (Baron-Cohen et al., 2001). Os presentes achados concordaram e expandiram o artigo de Barnes (2012), mostrando uma preferência igual por ficção e não ficção nos adultos autistas incluídos nesta pesquisa.
Essas descobertas também criticam suposições anteriores excessivamente simples relacionadas às dificuldades empáticas e da Teoria da Mente (ToM, em inglês) em autistas (Baron-Cohen, 1997). Os participantes de todos os grupos demonstraram respostas de texto afetivas e empáticas, bem como uma capacidade de assumir a perspectiva dos personagens.
Nesta pesquisa descobriu-se que leitores adultos autistas demonstraram uma apreciação profunda pela literatura narrativa, tornando possíveis investimentos emocionais e uma compreensão social mais ampla. Isto, juntamente com as descobertas sobre a aprendizagem social vivenciada pelos participantes autistas, mostra que a leitura é uma intervenção de apoio potencialmente vantajosa para adultos autistas que desejam construir a sua confiança social.
Além disso, a leitura pode ser uma ferramenta importante para intervenções de dupla empatia, para melhorar a compreensão social mútua entre grupos autistas e neurotípicos (Milton, 2012) e como meio de reduzir a solidão. No entanto, mais pesquisas são necessárias para explorar como a leitura poderia ser implementada no paradigma da dupla empatia.
Referência
CHAPPLE, M. et al. An analysis of the reading habits of autistic adults compared to neurotypical adults and implications for future interventions. Research in Developmental Disabilities, v. 115, p. 104003, 2021.