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CIM x FAKE NEWS: USO DE CHÁS MEDICINAIS PARA PREVENIR OU CURAR A COVID-19

por Coordenação publicado 02/07/2020 20h09, última modificação 27/09/2023 09h08
Texto elaborado pelos acadêmicos, Ana Maria Campêlo de Araújo e Marcos Vinícius revisado pelo Professor Dr. Gabriel Rodrigues Martins de Freitas.

Desde o início da pandemia provocada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), inúmeras fake news a respeito do uso de plantas medicinais ou remédios caseiros à base de ervas para prevenir, tratar ou curar a COVID-19 têm surgido, sobretudo nas mídias sociais. Essas falsas informações estão levando parte da população a adotar medidas equivocadas, colocando em risco suas próprias vidas e as de outras pessoas (Sociedade Brasileira de Farmacognosia, 2020). 

 

Uma das receitas caseiras apontadas como cura para a doença é a ingestão de água com alho (Allium sativum), recém-fervida. A Organização Mundial da Saúde  - OMS, realizou um compilado de respostas desmistificando falsas notícias como essa, alegando que, embora o alho seja um alimento saudável contendo algumas propriedades antimicrobianas, não há evidências de que seu consumo forneça proteção contra o novo coronavírus. O CIBS – Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde –, do Instituto de Tecnologia em Fármacos/Fiocruz, em parceria com a Revista Fitos, também esclareceu informações sobre o uso da planta, explicando que o alho possui propriedades farmacológicas, com potencial terapêutico, contra algumas categorias de vírus de síndromes respiratórias comuns (gripes e resfriados), mas nada foi constatado até o momento a respeito de possível proteção contra o SARS-CoV-2.

 

Outro falso método de tratamento para a COVID-19 é consumo de chá de erva-doce  (Pimpinella anisum), afirmando que a planta possui a mesma substância que o medicamento Tamiflu®, empregado para tratar a gripe A -  H1N1. O Ministério da Saúde revelou que, assim como no caso de outras gripes, nenhum tipo de chá pode ser utilizado para substituir um tratamento adequado contra a gripe, muito menos contra o novo coronavírus. Além disso, planta medicinal não possui o princípio ativo do Tamiflu® (fosfato de oseltamivir). Mesmo pessoas vacinadas, ao apresentarem sintomas de gripe - especialmente se são integrantes de grupos mais vulneráveis às complicações - devem procurar, imediatamente, uma unidade de saúde. O médico é quem deverá avaliar a necessidade de prescrever uso do antiviral fosfato de oseltamivir. 

 

Acredita-se também que o sabugueiro (Sambucus nigra) tenha propriedades antivirais devido à sua capacidade de modular citocina inflamatória. Seus constituintes foram testados in vitro e in vivo contra vírus variados. Até o momento, não há estudos publicados avaliando o uso de sabugueiro e COVID-19. Embora o sabugueiro e seus componentes de ácido fenólico exibam atividade antiviral contra o coronavírus humano HCoV-NL63 in vitro, faltam evidências conclusivas de ensaios clínicos de alta qualidade e os dados referentes ao papel do sabugueiro contra o COVID-19. Ainda, quando não é bem cozido, seu consumo é perigoso, já que sua casca, raiz, folhas e seus frutos verdes apresentam risco de toxicidade devido ao cianeto (Adams et al, 2020). 


A flor-de-cone (Echinacea purpurea) também inclui-se na lista das plantas comumente utilizadas para preparação de chás que aliviam infecções respiratórias superiores. Consta-se que a erva apresente propriedades imunomodulatórias através do aprimoramento do sistema imunológico inato (Young Trevor K., Zampella John G., 2020). No entanto, algumas evidências sugerem que ela pode estimular a produção de citocinas pró-inflamatórias por macrófagos, incluindo IL-1, IL-6 e TNF-α, o que poderia piorar a tempestade de citocinas e lesões pulmonares observadas no COVID-19 (Burger et al, 1997).

 

Logo, a melhor maneira de se prevenir é evitar se expor ao vírus (Centers for Disease Control and Prevention – CDC, 2020). Superfícies tocadas com frequência devem ser limpas e desinfetadas diariamente. Também aconselha-se o uso de máscaras, lavar as mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos ou utilizar álcool em gel e, principalmente, cumprir o isolamento e distanciamento social, impedindo assim a contaminação pelo novo coronavírus.

 

REFERÊNCIAS:

ADAMS Kathleen K., et. al. Myth Busters: Dietary Supplements and COVID-19. The Annals of pharmacotherapy, 2020. https://doi.org/10.1177/1060028020928052. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32396382/. Acesso em: 24 jun. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Fake News – chá de erva doce e o tratamento do novo coronavírus. Brasília – DF, 2020. Disponível em: https://www.saude.gov.br/fakenews/46239-cha-e-o-tratamento-do-novo-coronavirus-e-fake-news. Acesso em: 24 jun. 2020.

BURGER Roger A, et al. Echinacea-induced cytokine production by human macrophages. Int. J. Immunopharmacol, 1997. 1997;19:371–379. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0192056197000611?via%3Dihub. Acesso em: 26 jun. 2020.

Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde -CIBS/Fiocruz. Fake News: "Alho cura coronavírus" - nota de esclarecimento. Revista Fitos, 2020. Diponível em: http://revistafitos.far.fiocruz.br/fitos/index.php/en/noticias/fake-news-alho-cura-coronavirus-nota-de-esclarecimento. Acesso em: 23 jun. 2020.

Centers for Disease Control and Prevention – CDC. How to protect yourself and others, 2020. Atlanta - Georgia, USA.  Disponível em: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/prevent-getting-sick/prevention.html?CDC_AA_refVal=https%3A%2F%2Fwww.cdc.gov%2Fcoronavirus%2F2019-ncov%2Fprepare%2Fprevention.html. Acesso em: 25 jun. 2020.


Sociedade Brasileira de Farmacognosia. Nota à comunidade: fake news sobre o uso do boldo na cura dos sintomas contra COVID-19. Rio de Janeiro - RJ, 2020. Disponível em: http://www.sbfgnosia.org.br/index.html. Acesso em: 23 jun. 2020.

 

World Health Organization (WHO). Coronavirus disease (COVID-19) advice for the public: Myth busters. Geneva, Switzerland, 2020. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/advice-for-public/myth-busters. Acesso em: 23 jun. 2020.

YOUNG, Trevor K; ZAMPELLA, John G. Supplements for COVID-19: A modifiable environmental risk, 2020. https://doi.org/10.1016/j.clim.2020.108465. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7227565/. Acesso em: 26 jun. 2020.